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COMPLETO PORQUE TEM:
1TEORIA ALTAMENTE SISTEMATIZADA
2QUESTÕES COMENTADAS + de 1.000
3TEMAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS PÚBLICOS
4EXCERTOS DO MANUAL DE REDAÇÃO DA PRESIDÊNCIA
DA REPÚBLICA
PORTUGUÊS PARA
CONCURSOS
Manual COMPLETO de
Henrique Subi
PORTUGUÊS PARA CONCURSOS
Manual COMPLETO de
CURRÍCULO DO AUTOR
HENRIQUE SUBI
– Um dos maiores Especialistas em Con-
cursos Públicos do País, com destaque na
preparação de candidatos nas disciplinas
Português e Redação para Concursos.
Professor de grandes Cursos Preparató-
rios para concursos públicos há quase 10
anos, atualmente no IEDI Cursos On-line.
Autor, coautor e coordenador de mais de
20 obras especificamente voltadas à pre-
paração para concursos públicos, todas
pela Editora FOCO.
Pós-Graduado pela Fundação Getúlio
Vargas - FGV e pela UNISUL.
Mestrando pela Universidade Presbiteria-
na Mackenzie.
– Aprovado nas primeiras colocações em
vários concursos públicos, atualmente é
Agente de Fiscalização Financeira do Tri-
bunal de Contas do Estado de São Paulo.
Por que você está diante de um Manual COMPLETO de Português
para Concursos?
Porque este MANUAL não se limita a trazer a TEORIA acerca do que é
cobrado nos concursos públicos. Ele vai além e traz, também, número expressivo
de QUESTÕES COMENTADAS, temas de REDAÇÃO e excertos do MANUAL DE
REDAÇÃO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA.
Quanto às QUESTÕES COMENTADAS, essenciais ao desenvolvimento do
raciocínio e à fixação da matéria, a obra traz mais de 1.000 questões, sendo que
todas elas são devidamente comentadas, item por item quando necessário, e foram
escolhidas dentre os principais concursos públicos do País.
A obra também é escrita numa LINGUAGEM DIRETA, sem exageros
linguísticos e com foco constante na melhor e mais atualizada informação, de
modo que se tem um texto que, de um lado, vai direto ao ponto e, de outro, traz o
maior número possível de informações úteis para o leitor.
No decorrer do texto há também GRIFOS, NEGRITOS e uso de CORES
DIFERENCIADAS, proporcionando ao leitor verificação fácil do início de cada
ponto, e das palavras, expressões e informações-chave, facilitando ao máximo a
leitura, a compreensão e a fixação das matérias.
Tudo isso sem contar que a obra foi escrita por um AUTOR CONSAGRADO,
que já vendeu mais de 100.000 livros na área de concursos e exames públicos e
que tem também larga experiência em grandes cursos preparatórios para concursos
públicos, presenciais e a distância.
Em resumo, os estudantes e examinandos de concursos públicos e demais
interessados têm em mãos um verdadeiro MANUAL COMPLETO DE PORTUGUÊS,
que certamente será decisivo nas pesquisas e estudos com vista à efetiva aprovação
no concurso dos sonhos.
Boa leitura e sucesso!
Conheça também:
www.editorafoco.com.br
WANDER GARCIA
coordenador da coleção
AUTOR
BEST SELLER
+ de 100 mil
livros
vendidos
http://www.estudeatualidades.com.br
ISBN 978-85-8242-078-2
@HenriqueSubi
twitter.com/HenriqueSubi
PORTUGUÊS PARA
CONCURSOS
Manual COMPLETO de
COMPLETO PORQUE TEM:
1TEORIA ALTAMENTE SISTEMATIZADA
2QUESTÕES COMENTADAS + de 1.000
3TEMAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS PÚBLICOS
4EXCERTOS DO MANUAL DE REDAÇÃO DA PRESIDÊNCIA
DA REPÚBLICA
PORTUGUÊS PARA
CONCURSOS
Manual COMPLETO de
WANDER GARCIA
coordenador da coleção
2014 © Wander Garcia
Coordenador da Coleção: Wander Garcia
Autor: Henrique Subi
Editor: Márcio Dompieri
Gerente Editorial: Paula Tseng
Equipe Editora Foco: Erica Coutinho, Georgia Dias e Ivo Shigueru Tomita
Capa: Linotec
Projeto Gráfico e Diagramação: Linotec
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Henrique Subi
Manual completo de português para concursos / Wander Garcia,
coordenador da coleção ; Henrique Subi. – 1. ed. – Indaiatuba,
SP : Editora Foco Jurídico, 2014.
1. Português - Concursos 2. Português - Gramática 3. Português
- Redação I. Garcia, Wander. II. Subi, Henrique.
ISBN: 978-85-8242-078-2
14-02251 CDD-469.076
Índices para Catálogo Sistemático:
1. Português : Concursos 469.076
DIREITOS AUTORAIS: É proibida a reprodução parcial ou total desta publicação, por qualquer forma ou
meio, sem a prévia autorização da Editora Foco, com exceção do teor das questões de concursos públicos
que, por serem atos oficiais, não são protegidas como Direitos Autorais, na forma do Artigo 8º, IV, da Lei
9.610/1998. Referida vedação se estende às características gráficas da obra e sua editoração. A punição
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Atualizações e erratas: a presente obra é vendida como está, sem garantia de atualização futura. Porém,
atualizações voluntárias e erratas são disponibilizadas no site www.editorafoco.com.br, na seção
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Solicitamos, outrossim, que o leitor faça a gentileza de colaborar com a perfeição da obra, comunicando
eventual erro encontrado por meio de mensagem para contato@editorafoco.com.br.
Impresso no Brasil (05.2014)
Data de Fechamento (05.2014)
2014
Todos os direitos reservados à
Editora Foco Jurídico Ltda.
Al. Júpiter 578 - Galpão 01 – American Park Distrito Industrial
CEP 13347-653 – Indaiatuba – SP
E-mail: contato@editorafoco.com.br
www.editorafoco.com.br
DEDICATÓRIA
A Carlos Henrique Carneiro, pelas lições e
amizade que transcenderam os muros da escola
APRESENTAÇÃO
Por que você está diante de um MANUAL COMPLETO de Português para
Concursos?
Porque este Manual não se limita a trazer a TEORIA acerca do que é cobrado
nos concursos públicos. Ele vai além e traz, também, número expressivo de QUES-
TÕES COMENTADAS, temas de REDAÇÃO e excertos do MANUAL DE REDAÇÃO
DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA.
Quanto às QUESTÕES COMENTADAS, essenciais ao desenvolvimento do ra-
ciocínio e à fixação da matéria, a obra traz mais de 1.000 questões, sendo que todas
elas são devidamente comentadas, item por item quando necessário, e foram escolhi-
das dentre os principais concursos públicos do País.
A obra também é escrita numa LINGUAGEM DIRETA, sem exageros linguís-
ticos e com foco constante na melhor e mais atualizada informação, de modo que se
tem um texto que, de um lado, vai direto ao ponto e, de outro, traz o maior número
possível de informações úteis para o leitor.
No decorrer do texto há também GRIFOS, NEGRITOS e uso de CORES DI-
FERENCIADAS, proporcionando ao leitor verificação fácil do início de cada ponto,
e das palavras, expressões e informações-chave, facilitando ao máximo a leitura, a
compreensão e à fixação das matérias.
Tudo isso sem contar que a obra foi escrita por um AUTOR CONSAGRADO,
que já vendeu mais de 100.000 livros na área de concursos e exames públicos e que
tem também larga experiência em grandes cursos preparatórios para concursos pú-
blicos, presenciais e a distância.
Em resumo, os estudantes e examinandos de concursos públicos e demais in-
teressados têm em mãos um verdadeiro MANUAL COMPLETO DE PORTUGUÊS,
que certamente será decisivo nas pesquisas e estudos com vista à efetiva aprovação
no concurso dos sonhos.
Boa leitura e sucesso!
SUMÁRIO
PARTE I – INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS .................................................................. 19
1. INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS E CONCURSOS PÚBLICOS ................................. 21
1.1. POR QUE ESTUDAR INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS? ............................... 21
1.2. É POSSÍVEL APRENDER INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS? ........................ 21
2. POSTURA INTERPRETATIVA .................................................................................. 23
2.1. CONCEITO DE INTERPRETAÇÃO .............................................................. 23
2.2. OBJETO DA INTERPRETAÇÃO .................................................................... 24
2.3. LEITURA PASSIVA X LEITURA ATIVA ......................................................... 26
3. TIPOS DE TEXTO .................................................................................................... 28
3.1. OS DIFERENTES OBJETIVOS DE UM TEXTO ............................................ 28
3.2. FUNÇÕES DA LINGUAGEM ........................................................................ 29
3.3. TIPOS DE DISCURSO ................................................................................... 33
3.4. NARRAÇÃO .................................................................................................. 34
3.5. ARGUMENTAÇÃO ........................................................................................ 35
3.6. RELATO ......................................................................................................... 37
3.7. EXPOSIÇÃO .................................................................................................. 38
3.8. INSTRUÇÃO .................................................................................................. 38
4. INSTRUMENTOS DE INTERPRETAÇÃO ................................................................ 40
4.1. CONTEXTO .................................................................................................. 40
4.1.1. CONCEITO ...................................................................................... 40
4.1.2. INTERTEXTUALIDADE ................................................................... 44
4.2. OBSERVAÇÃO ............................................................................................... 48
4.3. ANÁLISE ........................................................................................................ 49
4.4. COMPARAÇÃO ............................................................................................. 52
10 Henrique Subi
4.5. INDUÇÃO E DEDUÇÃO ............................................................................... 53
4.6. EXPLICAÇÃO, DEMONSTRAÇÃO OU JUSTIFICAÇÃO ............................. 56
5. FIGURAS DE LINGUAGEM ..................................................................................... 57
5.1. CONCEITO ................................................................................................... 57
5.2. ESPÉCIES ...................................................................................................... 58
5.2.1. METÁFORA...................................................................................... 58
5.2.2. COMPARAÇÃO OU SÍMILE ............................................................ 58
5.2.3. METONÍMIA .................................................................................... 59
5.2.4. ANTÍTESE ........................................................................................ 59
5.2.5. PARADOXO OU OXÍMORO ............................................................ 60
5.2.6. GRADAÇÃO ..................................................................................... 60
5.2.7. HIPÉRBOLE ...................................................................................... 61
5.2.8. ANÁSTROFE .................................................................................... 61
5.2.9. QUIASMO......................................................................................... 62
5.2.10. HIPÉRBATO ...................................................................................... 62
5.2.11. SÍNQUISE ......................................................................................... 63
5.2.12. EUFEMISMO .................................................................................... 63
5.2.13. APÓSTROFE .................................................................................... 64
5.2.14. PROSOPOPEIA OU PERSONIFICAÇÃO ......................................... 64
5.2.15. CATACRESE ..................................................................................... 65
5.2.16. PERÍFRASE E ANTONOMÁSIA ....................................................... 65
5.2.17. SINESTESIA ..................................................................................... 66
5.2.18. HIPÁLAGE ....................................................................................... 66
5.2.19. ENÁLAGE......................................................................................... 66
5.2.20. ALITERAÇÃO .................................................................................. 67
5.2.21. ASSONÂNCIA .................................................................................. 67
5.2.22. PARONOMÁSIA ............................................................................... 67
5.2.23. ONOMATOPEIA .............................................................................. 68
5.2.24. ANÁFORA ........................................................................................ 68
5.2.25. PLEONASMO ................................................................................... 69
5.2.26. POLISSÍNDETO ............................................................................... 70
5.2.27. ASSÍNDETO ..................................................................................... 70
5.2.28. ELIPSE .............................................................................................. 71
5.2.29. ZEUGMA .......................................................................................... 71
5.2.30. SILEPSE OU CONCORDÂNCIA IRREGULAR ................................ 71
5.2.31. ANACOLUTO .................................................................................. 72
6. DICAS FINAIS DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS ............................................... 73
6.1. ADMINISTRE O TEMPO .............................................................................. 73
6.2. SUBLINHE AS IDEIAS MAIS IMPORTANTES .............................................. 73
Manual Completo de Português para Concursos 11
6.3. INTERPRETE TAMBÉM AS QUESTÕES....................................................... 74
6.4. IDENTIFIQUE AS “FALSAS QUESTÕES DE INTERPRETAÇÃO” ............... 74
QUESTÕES COMENTADAS DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS ................................ 75
PARTE II – GRAMÁTICA .............................................................................................. 187
1. FONÉTICA ............................................................................................................... 189
1.1. CONCEITOS BÁSICOS ................................................................................. 189
1.1.1. FONEMA E LETRA .......................................................................... 189
1.1.2. CLASSIFICAÇÃO DOS FONEMAS .................................................. 189
1.1.3. SÍLABAS ............................................................................................ 191
1.2. ENCONTROS VOCÁLICOS .......................................................................... 192
1.2.1. CONCEITO ...................................................................................... 192
1.2.2. ESPÉCIES ......................................................................................... 192
1.3. ENCONTROS CONSONANTAIS .................................................................. 192
1.4. DÍGRAFO ...................................................................................................... 192
1.5. A LETRA “H” ................................................................................................. 193
1.6. ORTOEPIA ..................................................................................................... 193
2. ORTOGRAFIA .......................................................................................................... 195
2.1. CONCEITO ................................................................................................... 195
2.2. BASES NORMATIVAS .................................................................................... 195
2.3. COMO ESTUDAR ORTOGRAFIA? ............................................................... 195
2.3.1. LEITURA É FUNDAMENTAL .......................................................... 195
2.3.2. QUADRO DE PALAVRAS ................................................................. 196
2.3.3. ALGUMAS REGRAS ......................................................................... 198
2.4. HOMONÍMIA E PARONÍMIA ....................................................................... 199
2.5. USO DE EXPRESSÕES E PALAVRAS HOMÔNIMAS .................................... 200
2.5.1. ABAIXO X A BAIXO ......................................................................... 200
2.5.2. ACERCA DE X A CERCA DE X HÁ CERCA DE X CERCA DE ...... 200
2.5.3. ACIMA X A CIMA ............................................................................ 200
2.5.4. AFIM DE X A FIM DE ...................................................................... 200
2.5.5. ABAIXO-ASSINADO X ABAIXO ASSINADO ................................... 201
2.5.6. DEMAIS X DE MAIS......................................................................... 201
2.5.7. POR QUE X POR QUÊ X PORQUE X PORQUÊ ............................. 201
2.5.8. SENÃO X SE NÃO ............................................................................ 201
2.5.9. EXPRESSÕES QUE DEMANDAM CUIDADO ................................. 202
2.6. SEPARAÇÃO DE SÍLABAS ............................................................................ 202
2.7. USO DO HÍFEN ............................................................................................. 203
2.7.1. NA REDAÇÃO .................................................................................. 203
2.7.2. NA ORTOGRAFIA ............................................................................ 203
12 Henrique Subi
2.7.2.1. PALAVRAS COMPOSTAS ................................................ 203
2.7.2.2. PREFIXOS ....................................................................... 204
2.8. ACENTUAÇÃO GRÁFICA ............................................................................ 205
2.8.1. PROSÓDIA ....................................................................................... 205
2.8.1.1. SÃO OXÍTONAS AS PALAVRAS: .................................... 205
2.8.1.2. SÃO PAROXÍTONAS AS PALAVRAS: ............................. 206
2.8.1.3. SÃO PROPAROXÍTONAS AS PALAVRAS: ...................... 206
2.8.1.4. PALAVRAS QUE ADMITEM DUPLA PROSÓDIA: ......... 206
2.8.2. REGRAS DE ACENTUAÇÃO ........................................................... 206
2.8.2.1. PALAVRAS PROPAROXÍTONAS .................................... 206
2.8.2.2. PALAVRAS PAROXÍTONAS ............................................ 207
2.8.2.3. PALAVRAS OXÍTONAS................................................... 207
2.8.2.4. MONOSSÍLABOS ............................................................ 207
2.8.2.5. NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO ................................ 207
2.8.3. OUTROS SINAIS GRÁFICOS ........................................................... 208
2.8.4. CRASE .............................................................................................. 209
2.8.4.1. CONCEITO ..................................................................... 209
2.8.4.2. REPRESENTAÇÃO ......................................................... 209
2.8.4.3. HIPÓTESES GERAIS ....................................................... 209
2.8.4.4. CASOS ESPECÍFICOS .................................................... 209
3. PONTUAÇÃO........................................................................................................... 212
3.1. NOÇÃO GERAL ............................................................................................ 212
3.2. SINAIS DE PONTUAÇÃO ............................................................................. 213
3.2.1. PONTO ............................................................................................. 213
3.2.2. PONTO DE INTERROGAÇÃO ........................................................ 214
3.2.3. PONTO DE EXCLAMAÇÃO ............................................................ 214
3.2.4. RETICÊNCIAS.................................................................................. 215
3.2.5. VÍRGULA .......................................................................................... 215
3.2.6. PONTO E VÍRGULA ........................................................................ 218
3.2.7. DOIS-PONTOS ................................................................................. 219
3.2.8. ASPAS ............................................................................................... 219
3.2.9. PARÊNTESES ................................................................................... 220
3.2.10. COLCHETES .................................................................................... 222
3.2.11. TRAVESSÃO ..................................................................................... 222
3.3. ÚLTIMAS CONSIDERAÇÕES ....................................................................... 223
4. MORFOLOGIA ......................................................................................................... 223
4.1. CONCEITO ................................................................................................... 223
4.2. CLASSES DE PALAVRAS ............................................................................... 223
4.2.1. SUBSTANTIVOS ............................................................................... 223
Manual Completo de Português para Concursos 13
4.2.1.1. CONCEITO ..................................................................... 223
4.2.1.2. CLASSIFICAÇÃO ........................................................... 223
4.2.1.3. FLEXÕES DO SUBSTANTIVO ........................................ 226
4.2.2. ADJETIVOS ...................................................................................... 231
4.2.2.1. CONCEITO ..................................................................... 231
4.2.2.2. GRAUS ............................................................................ 231
4.2.2.3. GENTÍLICOS .................................................................. 233
4.2.2.4. LOCUÇÕES ADJETIVAS ................................................ 236
4.2.3. ADVÉRBIOS ..................................................................................... 237
4.2.3.1. CONCEITO ..................................................................... 237
4.2.3.2. CLASSIFICAÇÃO ........................................................... 238
4.2.3.3. LOCUÇÕES ADVERBIAIS .............................................. 238
4.2.3.4. PALAVRAS DENOTATIVAS ............................................. 238
4.2.4. ARTIGOS .......................................................................................... 239
4.2.4.1. CONCEITO ..................................................................... 239
4.2.4.2. CLASSIFICAÇÃO ........................................................... 239
4.2.5. NUMERAL ........................................................................................ 240
4.2.5.1. CONCEITO ..................................................................... 240
4.2.5.2. CLASSIFICAÇÃO ........................................................... 240
4.2.6. PRONOMES ..................................................................................... 241
4.2.6.1. CONCEITO ..................................................................... 241
4.2.6.2. CLASSIFICAÇÃO ........................................................... 241
4.2.7. INTERJEIÇÃO .................................................................................. 246
4.2.7.1. CONCEITO ..................................................................... 246
4.2.7.2. LOCUÇÕES INTERJETIVAS .......................................... 246
4.2.8. PREPOSIÇÃO ................................................................................... 246
4.2.8.1. CONCEITO ..................................................................... 246
4.2.8.2. CLASSIFICAÇÃO ........................................................... 247
4.2.8.3. LOCUÇÕES PREPOSITIVAS .......................................... 247
4.2.8.4. AGREGAÇÃO DE PREPOSIÇÕES COM OUTROS
ELEMENTOS .................................................................. 247
4.2.8.5. QUANDO USAR (OU NÃO USAR) A PREPOSIÇÃO ..... 248
4.2.9. CONJUNÇÃO ................................................................................... 249
4.2.9.1. CONCEITO ..................................................................... 249
4.2.9.2. CLASSIFICAÇÃO ........................................................... 249
4.2.9.3. ESPÉCIES DE CONJUNÇÃO ......................................... 249
4.2.10. VERBO .............................................................................................. 252
4.2.10.1. CONCEITO ..................................................................... 252
4.2.10.2. PESSOAS DO VERBO ..................................................... 252
14 Henrique Subi
4.2.10.3. MODOS DO VERBO ....................................................... 253
4.2.10.4. TEMPOS DO VERBO ...................................................... 253
4.2.10.5. CONJUGAÇÃO VERBAL ................................................ 254
4.2.10.6. FORMAS NOMINAIS DO VERBO .................................. 263
4.2.10.7. VERBOS DEFECTIVOS .................................................. 263
4.2.10.8. VERBOS ABUNDANTES ................................................. 265
4.2.10.9. VOZES DO VERBO ......................................................... 266
5. COLOCAÇÃO PRONOMINAL ................................................................................ 270
5.1. OBJETO DE ESTUDO ................................................................................... 270
5.2. REGRAS APLICÁVEIS ................................................................................... 271
6. CONCORDÂNCIA ................................................................................................... 274
6.1. CONCEITO ................................................................................................... 274
6.2. CONCORDÂNCIA NOMINAL ..................................................................... 274
6.2.1. VISÃO GERAL .................................................................................. 274
6.2.2. PRINCIPAIS CASOS ......................................................................... 275
6.2.2.1. QUANDO HÁ SOMENTE UMA PALAVRA
DETERMINADA E UMA DETERMINANTE .................. 275
6.2.2.2. QUANDO HÁ MAIS DE UMA PALAVRA
DETERMINADA ............................................................. 275
6.2.2.3. QUANDO HÁ APENAS UMA PALAVRA
DETERMINADA E MAIS DE UMA DETERMINANTE .. 276
6.2.3. OUTROS CASOS INTERESSANTES ................................................ 276
6.2.3.1. SILEPSE........................................................................... 276
6.2.3.2. “UM E OUTRO”, “UM OU OUTRO”, “NEM UM NEM
OUTRO” .......................................................................... 277
6.2.3.3. “MESMO” E “PRÓPRIO” ................................................ 277
6.2.3.4. “SÓ” E “SÓS” .................................................................. 277
6.2.3.5. “TODO” E “MEIO” ......................................................... 278
6.2.3.6. “MENOS” E “SOMENOS”............................................... 279
6.2.3.7. “PSEUDO”....................................................................... 279
6.2.3.8. “LESO” ............................................................................ 279
6.2.3.9. “ANEXO” ........................................................................ 279
6.2.3.10. “POSSÍVEL” .................................................................... 279
6.2.3.11. “É NECESSÁRIO”, “É PROIBIDO” ................................. 280
6.2.3.12. “ALERTA”........................................................................ 280
6.2.3.13. ADJETIVOS PÁTRIOS COMPOSTOS ............................. 280
6.2.3.14. “MILHAR” E “MILHÃO” ................................................ 280
6.2.3.15. PLURAL DAS CORES ..................................................... 281
6.3. CONCORDÂNCIA VERBAL ......................................................................... 281
6.3.1. VISÃO GERAL .................................................................................. 281
Manual Completo de Português para Concursos 15
6.3.2. PRINCIPAIS CASOS ......................................................................... 282
6.3.2.1. REGRA GERAL ............................................................... 282
6.3.2.2. SUJEITO COMPOSTO POR DIFERENTES
PRONOMES PESSOAIS .................................................. 283
6.3.2.3. “UM E OUTRO”, “UM OU OUTRO”, “NEM UM NEM
OUTRO” .......................................................................... 283
6.3.2.4. VOZ PASSIVA SINTÉTICA ............................................. 283
6.3.2.5. VERBOS IMPESSOAIS .................................................... 284
6.3.2.6. “QUE” E “QUEM” .......................................................... 284
6.3.2.7. CONCORDÂNCIA COM NUMERAIS ............................ 284
6.3.2.8. SUBSTANTIVOS PRÓPRIOS PLURAIS ........................... 285
7. REGÊNCIA ............................................................................................................... 286
7.1. CONCEITO ................................................................................................... 286
7.2. REGÊNCIA NOMINAL ................................................................................. 286
7.2.1. REPETIÇÃO DA PREPOSIÇÃO ....................................................... 286
7.2.2. TERMOS QUE INDICAM RESSALVA .............................................. 287
7.2.3. CONTRAÇÃO DE PREPOSIÇÃO E ARTIGO DE SUJEITO ............ 287
7.2.4. ALGUNS CASOS IMPORTANTES DE REGÊNCIA NOMINAL ....... 288
7.3. REGÊNCIA VERBAL ..................................................................................... 288
7.3.1. COMPLEMENTO COMUM A VERBOS DE REGÊNCIA
DIFERENTE ..................................................................................... 288
7.3.2. EQUIVALÊNCIA DE TERMOS PREPOSICIONADOS E
PRONOMES OBLÍQUOS ÁTONOS ................................................. 288
7.3.3. VERBOS COM MAIS DE UMA REGÊNCIA OU COMUMENTE
UTILIZADOS DE FORMA INCORRETA ......................................... 289
8. ANÁLISE SINTÁTICA .............................................................................................. 292
8.1. NOÇÕES E CONCEITOS GERAIS ................................................................ 292
8.2. ANÁLISE SINTÁTICA DAS ORAÇÕES......................................................... 293
8.2.1. IDENTIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS ESSENCIAIS ....................... 293
8.2.1.1. SUJEITO .......................................................................... 293
8.2.1.2. PREDICADO ................................................................... 296
8.2.2. ELEMENTOS INTEGRANTES DA ORAÇÃO .................................. 298
8.2.2.1. CONCEITO ..................................................................... 298
8.2.2.2. COMPLEMENTOS VERBAIS .......................................... 298
8.2.2.3. COMPLEMENTO NOMINAL......................................... 300
8.2.2.4. ADJUNTO ADVERBIAL .................................................. 302
8.2.2.5. ADJUNTO ADNOMINAL ............................................... 302
8.2.2.6. APOSTO .......................................................................... 305
8.2.2.7. VOCATIVO ..................................................................... 307
16 Henrique Subi
8.3. ANÁLISE SINTÁTICA DOS PERÍODOS ....................................................... 308
8.3.1. NOÇÕES GERAIS ............................................................................ 308
8.3.2. PERÍODOS COMPOSTOS POR COORDENAÇÃO ......................... 309
8.3.2.1. CONCEITO ..................................................................... 309
8.3.2.2. CLASSIFICAÇÃO DAS ORAÇÕES COORDENADAS .... 310
8.3.3. PERÍODOS COMPOSTOS POR SUBORDINAÇÃO ......................... 311
8.3.3.1. CONCEITO ..................................................................... 311
8.3.3.2. ORAÇÕES DESENVOLVIDAS E ORAÇÕES
REDUZIDAS .................................................................... 312
8.3.3.3. CLASSIFICAÇÃO DAS SUBORDINADAS ...................... 313
8.3.3.4. ORAÇÕES SUBORDINADAS NÃO CLASSIFICADAS ... 323
8.3.4. PERÍODOS MISTOS ......................................................................... 324
QUESTÕES COMENTADAS DE GRAMÁTICA .............................................................. 325
3. PONTUAÇÃO........................................................................................................... 365
4. MORFOLOGIA ......................................................................................................... 386
5. VERBO ...................................................................................................................... 400
6. CONJUNÇÃO ........................................................................................................... 422
7. PRONOME E COLOCAÇÃO PRONOMINAL ......................................................... 434
8. CONCORDÂNCIA ................................................................................................... 452
9. REGÊNCIA ............................................................................................................... 472
10. ANÁLISE SINTÁTICA .............................................................................................. 477
11. TEMAS COMBINADOS ............................................................................................ 491
PARTE III – REDAÇÃO .................................................................................................. 523
1. OS DESAFIOS DA REDAÇÃO .................................................................................. 525
1.1. INTRODUÇÃO .............................................................................................. 525
1.2. O PROBLEMA DA SUBJETIVIDADE E OS PADRÕES DE CORREÇÃO ...... 526
1.3. DESENVOLVENDO HABILIDADES ............................................................. 528
1.3.1. A OBTENÇÃO DE CONHECIMENTOS .......................................... 528
1.3.2. A PRÁTICA DE MANUSCREVER .................................................... 529
2. A ESTRUTURA DO TEXTO DISSERTATIVO ........................................................... 529
2.1. OS DIFERENTES TIPOS DE TEXTO ............................................................ 529
2.2. COMO ESTRUTURAR A DISSERTAÇÃO ..................................................... 530
3. RASCUNHO X VERSÃO FINAL............................................................................... 533
3.1. COMO USAR O RASCUNHO........................................................................ 533
3.2. APRESENTAÇÃO DO TEXTO FINAL .......................................................... 533
4. INTEGRIDADE DO TEXTO ..................................................................................... 534
4.1. COERÊNCIA ................................................................................................. 534
4.2. COESÃO ........................................................................................................ 536
Manual Completo de Português para Concursos 17
5. ERROS MAIS COMUNS ........................................................................................... 537
5.1. ESTRANGEIRISMO ....................................................................................... 537
5.2. AMBIGUIDADE ............................................................................................. 538
5.3. CACÓFATO OU CACOFONIA ..................................................................... 538
5.4. REPETIÇÃO .................................................................................................. 538
5.5. PLEONASMO VICIOSO ................................................................................ 539
5.6. PROLIXIDADE .............................................................................................. 540
5.7. OBSCURIDADE ............................................................................................. 540
5.8. ECO OU POETIZAÇÃO ................................................................................ 541
6. TEMAS DE REDAÇÃO DE CONCURSOS ANTERIORES ....................................... 541
QUESTÕES COMENTADAS DE REDAÇÃO .................................................................. 556
APÊNDICE
EXCERTOS DO MANUAL DE REDAÇÃO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
PARTE I – AS COMUNICAÇÕES OFICIAIS ................................................................ 605
CAPÍTULO I – ASPECTOS GERAIS DA REDAÇÃO OFICIAL ................................... 607
1. O QUE É REDAÇÃO OFICIAL ................................................................................ 607
1.1. A IMPESSOALIDADE .................................................................................... 608
1.2. A LINGUAGEM DOS ATOS E COMUNICAÇÕES OFICIAIS ....................... 609
1.3. FORMALIDADE E PADRONIZAÇÃO ........................................................... 610
1.4. CONCISÃO E CLAREZA .............................................................................. 611
CAPÍTULO II – AS COMUNICAÇÕES OFICIAIS ....................................................... 615
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 615
1.1. PRONOMES DE TRATAMENTO .................................................................. 615
1.1.1. BREVE HISTÓRIA DOS PRONOMES DE TRATAMENTO .............. 615
1.1.2. CONCORDÂNCIA COM OS PRONOMES DE TRATAMENTO ...... 616
1.1.3. EMPREGO DOS PRONOMES DE TRATAMENTO .......................... 616
1.2. FECHOS PARA COMUNICAÇÕES ............................................................... 618
1.3. IDENTIFICAÇÃO DO SIGNATÁRIO ............................................................ 619
2. O PADRÃO OFÍCIO ................................................................................................. 619
2.1. PARTES DO DOCUMENTO NO PADRÃO OFÍCIO ....................................... 619
2.2. FORMA DE DIAGRAMAÇÃO ....................................................................... 621
2.3. AVISO E OFÍCIO ........................................................................................... 622
2.3.1. DEFINIÇÃO E FINALIDADE .......................................................... 622
2.3.2. FORMA E ESTRUTURA ................................................................... 622
2.4. MEMORANDO .............................................................................................. 626
2.4.1. DEFINIÇÃO E FINALIDADE .......................................................... 626
2.4.2. FORMA E ESTRUTURA ................................................................... 626
18 Henrique Subi
3. EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS ..................................................................................... 628
3.1. DEFINIÇÃO E FINALIDADE ........................................................................ 628
3.2. FORMA E ESTRUTURA ................................................................................ 628
4. MENSAGEM ............................................................................................................. 632
4.1. DEFINIÇÃO E FINALIDADE ........................................................................ 632
4.2. FORMA E ESTRUTURA ................................................................................ 635
5. TELEGRAMA ........................................................................................................... 637
5.1. DEFINIÇÃO E FINALIDADE ........................................................................ 637
5.2. FORMA E ESTRUTURA ................................................................................ 637
6. FAX ........................................................................................................................... 637
6.1. DEFINIÇÃO E FINALIDADE ........................................................................ 637
6.2. FORMA E ESTRUTURA ................................................................................ 637
7. CORREIO ELETRÔNICO ........................................................................................ 638
7.1. DEFINIÇÃO E FINALIDADE ........................................................................ 638
7.2. FORMA E ESTRUTURA ................................................................................ 638
7.3. VALOR DOCUMENTAL ................................................................................ 638
PARTE I
INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
1. INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS E CONCURSOS PÚBLICOS
1.1. Por que estudar interpretação de textos?
O candidato a qualquer concurso público, hoje em dia, deve preparar-se para
responder um grande número de questões de diversas disciplinas. Há provas que
chegam a cobrar 14 ou 15 delas, nas mais diferentes áreas do conhecimento. Não é
difícil reparar, porém, que uma delas é comum a praticamente todos eles: a Língua
Portuguesa.
Conhecê-la bem, portanto, é fundamental para o sucesso no certame, princi-
palmente considerando a grande quantidade de questões que normalmente lhe são
atribuídas. E aqui se encontra um fato que muitos candidatos subestimam: as per-
guntas relacionam-se, em grande parte, à interpretação de textos.
Vejo muitos alunos que dedicam todo seu tempo de estudos da linguagem às
regras gramaticais, deixando de lado os textos. Trata-se de estratégia equivocada,
porque em média 50% das questões elaboradas pelas bancas examinadoras versam
sobre leitura e interpretação. Em alguns concursos, o candidato é desafiado a en-
frentar 3 ou 4 textos de características bastante diferentes e o número de perguntas
que exigem uma perfeita compreensão do que foi lido sobe ainda mais (e ainda há
várias outras disciplinas para responder!).
Assim, respondemos à pergunta que inaugura esse capítulo: porque a inter-
pretação de textos é uma habilidade que é testada em todos os concursos públicos,
sendo peça-chave da aprovação.
Em parte, a razão do equívoco na preparação nasce do próprio mercado de
livros e apostilas voltados para concursos públicos, que não oferece ao candidato
material destinado à interpretação de textos. Esse problema fica resolvido com a
publicação desse livro que você tem em mãos agora. De outro lado, pode-se também
atribuir parcela da culpa aos próprios candidatos, os quais divido em dois grupos:
aqueles que acham que não precisam estudar interpretação de textos e aqueles que
acreditam que não é possível estudar interpretação de textos.
Se você está lendo essas linhas, provavelmente encaixa-se no segundo grupo.
Os membros do primeiro grupo normalmente pensam que dominam completamente
a Língua Portuguesa e, autopromovendo-se a esse patamar superior, pularam essa
parte do livro.
1.2. É possível aprender interpretação de textos?
Como membro do segundo grupo, é hora de deixar de lado sua antiga convic-
ção e perceber que é, sim, possível aprender a interpretar textos!
Quem nunca ouviu alguém dizer que “interpretação de textos ou você sabe, ou
você não sabe”, ou ainda que “não adianta correr atrás do prejuízo agora, você deve-
ria ter lido mais desde criança”, ou, pior, que “não tem como estudar interpretação,
a saída é ler muito até o dia da prova para treinar a ler mais rápido e perder menos
tempo com as questões”? Nada disso é verdade.
22 Henrique Subi
Como qualquer outra, interpretar corretamente um texto é uma habilidade
que pode ser aprimorada através da prática. Costumo dizer que é como andar de
bicicleta: ao subir nela pela primeira vez, você tenta se equilibrar instintivamente
enquanto pedala. Fatalmente levará alguns tombos, mas a prática o levará ao sucesso.
Com a interpretação acontece o mesmo processo. Muitos pensam que ler é um
ato meramente instintivo, atitude que leva a alguns “tombos” (ou erros) na com-
preensão daquilo que foi dito. Na verdade, também aqui a prática é essencial para que
se extraia o verdadeiro sentido das palavras.
Por isso que alguns insistem em dizer que só é hábil na interpretação quem
está acostumado a ler muito, o que dá a entender que, se esse não é o seu caso, estará
fadado ao fracasso nessa habilidade. Não podemos negar que, realmente, ler diferen-
tes tipos de textos ainda é o melhor caminho para praticar a interpretação e que todos
os dias, meses ou anos de vida dedicados à leitura certamente farão diferença nessa
aptidão. Mas não é menos verdade que, como em tudo na vida, nunca é tarde para
começar!
Principalmente porque existem instrumentos de interpretação que irão acele-
rar bastante esse processo de aprendizagem. Afinal, o candidato a uma vaga em con-
cursos públicos dispõe de pouco tempo para se preparar, fato que não se pode perder
de vista em nenhum momento. A proposta, então, é apresentar esses instrumentos
para que você possa utilizá-los na hora da prova, facilitando a procura pela resposta
correta.
É bom que se diga antes de tudo, para evitar grandes expectativas (que sempre
vêm acompanhadas de grandes decepções), que tudo que vamos ensinar você já sabe.
E nessa hora você pensou: “Muito obrigado pela informação! Posso ir direto para a
Parte II, então, aprender alguma coisa sobre gramática?”. Não, fique comigo. Deixe-
-me explicar melhor.
Desde o momento em que aprendemos a ler, quando crianças, temos em nosso
intelecto todo o necessário para entender aquilo que estamos lendo. Obviamente,
para textos mais complexos, exige-se o conhecimento de fatos, regras ou conceitos
que serão adquiridos apenas ao longo da vida. Conforme esses dados vão se acumu-
lando em nossa memória, nós os usamos conforme são requeridos e assim podemos
absorver cada vez mais quantidade de informações ao ler um texto.
Entretanto, esse caminho é percorrido, muitas vezes, sem qualquer preocu-
pação com a organização das ideias, ou seja, nossa habilidade de leitura se baseia
unicamente no instinto de decifrar os sinais que compõem a linguagem usando como
“dicionário” para traduzir os termos tudo aquilo que aprendemos no decorrer de nossa
trajetória pessoal e/ou profissional.
É por isso que digo que somos todos leitores e intérpretes instintivos. Todos
sabemos ler e interpretar um texto, mas essa tarefa é usualmente realizada de forma
mecânica pelo nosso cérebro, que usa os instrumentos de interpretação instintiva-
mente (seja buscando um fato em nossa memória, comparando situações semelhan-
tes ou dando maior ou menor relevância à informação de acordo com a imagem que
temos daquele que a transmite).
Manual Completo de Português para Concursos 23
Memorização, comparação e análise são exemplos de instrumentos de inter-
pretação. Note que, mesmo sem saber seus nomes, você os usa nas leituras do dia a
dia. Eis a razão de termos dito antes que não existe nada novo para ensinar. O que
podemos fazer é mostrar quais são as ferramentas que seu cérebro possui para interpre-
tar um texto e indicar a melhor forma de usá-las.
Pense em uma caixa de ferramentas desarrumada. Se você precisar da chave de
fenda, deverá vasculhar e remexer em toda a caixa até encontrá-la, tornando o traba-
lho demorado e difícil. Se nosso cérebro é a caixa e as ferramentas são as habilidades
de leitura, estudar interpretação de textos nada mais é do que organizar nossa caixa
de ferramentas, tornando mais fácil identificar e acessar o instrumento necessário para
cumprirmos com êxito a tarefa de interpretar o texto apresentado.
2. POSTURA INTERPRETATIVA
2.1. Conceito de interpretação
Mas, afinal, o que significa interpretar?
Em sua definição mais conhecida, interpretar significa extrair o sentido. Obser-
ve bem (e aqui já começamos a interpretar): o uso do verbo extrair, por sua vez, indica
que o sentido daquilo que está sendo interpretado não está sempre claro, direto. Na
maioria das vezes, é preciso investigar, perscrutar as intenções do autor, analisar a
escolha dos termos utilizados, entre outras técnicas, para identificar seu objetivo final.
Uma forma fácil de perceber o resultado do trabalho de interpretação ocorre
na música. Lembro-me da primeira vez que ouvi a canção “Sozinho”, de Peninha,
cantada pelo próprio autor e de como passei a gostar muito mais da música depois
de escutá-la na voz de Caetano Veloso, que a tornou famosa. Peninha, o autor, fez
um excelente trabalho ao reunir letra e melodia, mas o intérprete Caetano Veloso
transmite ao cantá-la muito mais do que a técnica musical. Ele vai além, passando
aos ouvintes a verdadeira emoção da história que a canção relata.
A função do intérprete de um texto é a mesma daquele que interpreta a canção.
Em uma primeira leitura, absorvemos somente aquilo que é superficial na mensagem
transmitida pelo autor, o significado puro das palavras. Ao adotarmos uma postura
interpretativa, passamos a questionar e aprofundar nosso raciocínio em busca da
mensagem central do texto, aquilo que seu autor queria realmente explorar.
Vejamos outro exemplo. Responda para si mesmo: é mais fácil interpretar um
texto jornalístico ou uma poesia de Camões?
Sem dúvidas, é mais fácil interpretar a notícia do jornal. Por quê? Porque o
texto jornalístico tem como característica marcante a objetividade, a intenção de
informar sobre fatos concretos. Já a poesia, por sua vez, trabalha com figuras de lin-
guagem e palavras mais rebuscadas para manter a métrica e a rima com o intuito de
expressar sentimentos do escritor.
O que não pode acontecer é cairmos na armadilha de que o texto “fácil”, ob-
jetivo e claro, dispensa interpretação. Não. Devemos nos habituar a ler um texto
24 Henrique Subi
pretendendo dele extrair seu verdadeiro sentido, qualquer que seja sua modalidade.
Haverá interpretações mais fáceis ou mais difíceis, mas o exercício intelectual deve
sempre estar presente.
Isso acontece porque o Português é uma língua complexa, cujas palavras cos-
tumam apresentar mais de um sentido. Considere o texto abaixo:
“Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará
o projeto de lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o
sancionará.”
(Constituição da República Federativa do Brasil)
O comando contido na norma jurídica supratranscrita parece direto e claro.
Leia de novo. O verbo sancionar, segundo o dicionário Michaelis, significa tanto
“admitir, aprovar, confirmar” quanto “punir, multar”. O que deve então o Presiden-
te da República fazer? Perceba que mesmo um texto feito para ser objetivo, como
um artigo de lei, acaba apresentando palavras que exigem o exercício interpretativo.
No caso, os demais termos utilizados, notadamente o verbo aquiescer, que significa
“concordar”, indicam que o sentido no qual sancionar foi empregado é o primeiro: se
o Presidente concorda com o projeto de lei, deve aprová-lo, confirmá-lo.
2.2. Objeto da interpretação
Toda espécie de linguagem pode ser interpretada, não apenas a manifestação es-
crita da língua.
Chamamos de linguagem toda e qualquer forma de comunicação capaz de trans-
mitir uma mensagem entre dois interlocutores. Nesse conceito amplo, a linguagem pode
se apresentar de diferentes formas: linguagem oral, linguagem escrita, linguagem de
sinais etc.. Em qualquer dessas instâncias, o interlocutor deve estar apto a compreender
a mensagem que o outro deseja transmitir-lhe, considerando todas as circunstâncias:
em uma conversa, o tom de voz, o uso de gírias, o grau de atenção do interlocutor ao
falar influenciam a percepção do destinatário; em um texto escrito, o uso de palavras
difíceis, o momento histórico, o veículo de publicação também devem ser levados em
conta; na linguagem de sinais, o conhecimento prévio do código utilizado e a veloci-
dade de realização dos sinais permitem maior ou menor compreensão entre emissor
e receptor da mensagem.
Tente lembrar-se de uma conversa importante que você teve com um amigo,
sua(seu) namorada(o), seus pais ou seus filhos. Além das palavras, observamos tam-
bém os movimentos do corpo, a direção do olhar, a distância que existe entre as pes-
soas. Quantas vezes dizemos alguma coisa com certa intenção e o outro lado a recebe
de outro jeito, ficando chateado ou irritado sem que pretendêssemos esse resultado?
É a famosa frase: “não é o que você disse, mas a forma como você disse”. Estamos
sempre interpretando.
A linguagem também se manifesta através de textos, que podem ser definidos
como a estrutura linguística capaz de transmitir uma mensagem dotada de sentido con-
Manual Completo de Português para Concursos 25
forme a intenção de seu criador. Os textos podem ser verbais, quando são compostos
por palavras (livros, tabelas); não verbais, quando compostos por imagens, sons ou
outras espécies de sinais (música, dança, expressão corporal); e mistos, quando com-
postos tanto por palavras quanto por outros elementos (charges, gráficos). Os textos
verbais e mistos, por sua vez, subdividem-se em textos escritos e textos orais.
Texto I – Texto verbal
“O ser humano fala aproximadamente entre 3000 e 6000 línguas.
Não existem dados precisos. As línguas naturais são os exemplos
mais marcantes que temos de linguagem. No entanto, ela tam-
bém pode se basear na observação visual e auditiva, ao invés de
estímulos. Como exemplos de outros tipos de linguagem, temos
as línguas de sinais e a linguagem escrita. Os códigos e os outros
tipos de sistemas de comunicação construídos artificialmente, tais
como aqueles usados para programação de computadores, tam-
bém podem ser chamadas de linguagens. A linguagem, nesse sen-
tido, é um sistema de sinais para codificação e decodificação de
informações. A palavra portuguesa deriva do francês antigo langa-
ge. Quando usado como um conceito geral, a palavra ‘linguagem’
refere-se a uma faculdade cognitiva que permite aos seres huma-
nos aprender e usar sistemas de comunicação complexos.”
(Fonte: www.pt.wikipedia.org/wiki/Linguagem)
Texto II – Texto não verbal
A conversação, Arnold Lakhovsky (1935)
26 Henrique Subi
Texto III – Texto misto
(Fonte: http://economia.uol.com.br/cotacoes/cambio/
dolar-comercial-estados-unidos-principal.jhtm)
Na seara dos concursos públicos, interessam-nos apenas os textos verbais e
mistos escritos, cuja interpretação é objeto de questionamento nas provas. Sendo
assim, sobre eles que se baseará todo o alicerce dos instrumentos de interpretação
que vamos conhecer e os exemplos dados para consolidar o aprendizado.
2.3. Leitura passiva x Leitura ativa
O primeiro passo a dar para evoluir na interpretação de textos é mudar nossa
forma de leitura das mensagens que nos são apresentadas a todo momento. Usual-
mente, adotamos uma leitura passiva, despreocupada e superficial, que se contenta
com a simples interpretação literal das palavras contidas no texto sem atentar para
o que se encontra encoberto por elas.
Essa conduta funciona bem para o dia a dia, quando lemos para relaxar ou
quando estamos diante de anúncios publicitários, por exemplo. Não se admite, por
outro lado, a mesma situação daquele que se prepara para concursos públicos, prin-
cipalmente durante a prova. Nessa fase, temos de buscar ir além do que foi dito,
investigando o que o autor quis dizer.
Essa nova abordagem é chamada de leitura ativa ou leitura crítica, na qual o
leitor do texto passa de simples receptor da mensagem para intérprete das intenções do
autor, querendo conhecer as motivações e objetivos ocultos detrás das palavras ou imagens.
Manual Completo de Português para Concursos 27
O leitor ativo não se contenta somente com a primeira leitura. Ele lê uma vez
mais na procura de nuances que lhe tenham passado despercebidas, ou para efeti-
vamente compreender determinado trecho; quando possível, visita o dicionário para
traduzir os termos que não conhece; ao terminar uma frase ou parágrafo, ele se per-
gunta por que o autor assim se expressou. O leitor crítico é um leitor ávido, que
percebe cada detalhe e investiga a razão dele estar ali.
Vamos continuar praticando. Leia o trecho abaixo, a transcrição das primeiras
linhas do livro “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres” de Clarice Lispector:
Texto IV
“, estando tão ocupada, viera das compras de casa que a emprega-
da fizera às pressas porque cada vez mais matava o serviço, embo-
ra só viesse para deixar almoço e jantar prontos (...)”
(LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres)
Lendo passivamente, trata-se de uma passagem da história onde se relata o que
pensava a personagem principal. Leia de novo, adotando agora a leitura ativa. Você
reparou que o texto, e, portanto, o livro, começa com uma vírgula? Qual a razão?
Seria um erro de digitação ou a autora quis transmitir alguma mensagem com esse
uso incomum do sinal de pontuação?
Esses questionamentos, oriundos da atenção com a qual se realiza a leitura,
constituem a base da interpretação de textos. Obviamente, o processo segue através
da construção das respostas: certamente não estamos diante de um erro de digita-
ção, caso contrário ele já teria sido corrigido; a vírgula representa uma pausa ou
inflexão da voz durante a leitura e serve para, dentre outras funções, separar expres-
sões e orações; o texto narra aquilo em que pensava a personagem; portanto, uma
das interpretações possíveis sugere que o uso da vírgula como primeiro caractere da
história indica que ela começa a ser contada durante os devaneios da personagem,
no meio de seus pensamentos. A autora deixa a mensagem de que fatos ocorreram
antes deste momento no qual o leitor encontra a personagem, de que a vida dela
não começou ali.
Com base no que foi discutido nesse capítulo, resolva o exercício abaixo jul-
gando cada assertiva como certa (C) ou errada (E). A questão foi elaborada pelo Cen-
tro de Seleção e de Promoção de Eventos da Universidade de Brasília (CESPE-UnB),
seguindo abaixo o gabarito e breves comentários:
Texto V
Os novos sherlocks
“Dividida basicamente em dois campos, criminalística e medicina
legal, a área de perícia nunca esteve tão na moda. Seus especialis-
tas volta e meia estão no noticiário, levados pela profusão de casos
que requerem algum tipo de tecnologia na investigação. Também
viraram heróis de seriados policiais campeões de audiência. Nos
28 Henrique Subi
EUA, maior produtor de programas desse tipo, o sucesso é tão
grande que o horário nobre, chamado de prime time, ganhou o
apelido de crime time. Seis das dez séries de maior audiência na TV
norte-americana fazem parte desse filão.
Pena que a vida de perito não seja tão fácil e glamorosa como se vê
na TV. Nem todos utilizam aquelas lanternas com raios ultraviole-
ta para rastrear fluidos do corpo humano nem as canetas com raio
laser que traçam a trajetória da bala. “Com o avanço tecnológico,
as provas técnicas vêm ampliando seu espaço no direito brasileiro,
principalmente na área criminal”, declara o presidente da OAB/SP,
mas, antes disso, já havia peritos que recorriam às mais diversas
ciências para tentar solucionar um crime.
Na divisão da polícia brasileira, o pontapé inicial da investi-
gação é dado pelo perito, sem a companhia de legistas, como
ocorre nos seriados norte-americanos. Cabe a ele examinar o lo-
cal do crime, fazer o exame externo da vítima, coletar qualquer
tipo de vestígio, inclusive impressões digitais, pegadas e objetos
do cenário, e levar as evidências para análise nos laboratórios
forenses.”
Pedro Azevedo. Folha Imagem, ago./2004 (com adaptações).
A respeito do texto acima, julgue os itens subsequentes.
(1) De acordo com o presidente da OAB/SP, as provas técnicas têm sido am-
pliadas, principalmente na área criminal, com o avanço tecnológico no
espaço do direito brasileiro.
(2) Está explícita no último parágrafo do texto a seguinte relação de causa e
consequência: o perito examina o local do crime, faz o exame externo da
vítima e coleta qualquer tipo de vestígio porque precisa levar as evidências
para análise nos laboratórios forenses.
1: incorreta. A paráfrase não equivale ao trecho original. A assertiva dá a entender que foi o avanço tec-
nológico que ganhou espaço no direito brasileiro, sendo que o entrevistado afirma que a prova técnica
ganhou espaço, por conta do avanço tecnológico; 2: incorreta, porque a relação está implícita. O texto,
puramente, não trata como uma relação de causa e consequência, porque “levar as evidências para aná-
lise” também é uma de suas atribuições e não o objetivo delas. Em que pese não seja explícita, a relação
causal é uma dedução possível, resultado do exercício de interpretação.
Gabarito 1E, 2E
3. TIPOS DE TEXTO
3.1. Os diferentes objetivos de um texto
Dependendo do que estamos buscando com nossa comunicação, podemos
adotar diversas formas de nos expressar. Cada uma é composta de características
próprias que facilitam a transmissão da mensagem para o interlocutor.
Manual Completo de Português para Concursos 29
Enquanto textos publicitários pretendem convencer-nos a adquirir determina-
do produto ou serviço, textos jornalísticos buscam informar sobre a ocorrência de
um fato e a literatura quer apenas contar histórias. Certamente, ao pensar em casos
concretos que ilustrem cada um desses exemplos, você já conseguiu visualizar as
diferenças existentes entre eles.
A classificação dos tipos de texto não é uniforme entre os estudiosos da Língua
Portuguesa, afinal não há classificação correta ou incorreta (mudam somente os cri-
térios escolhidos para classificar). Há, não obstante, tópicos que aparecem com mais
frequência do que outros, razão pela qual podemos construir a lista abaixo como os
tipos de texto majoritariamente reconhecidos:
TIPO DE TEXTO FUNÇÃO PRIMÁRIA
Narração Contar uma história
Argumentação Defender um ponto de vista
Relato Documentar fatos
Exposição Transmitir conhecimento
Instrução Orientar comportamentos
Anotamos que cada tipo de texto tem uma função primária, porque nada
impede que diferentes funções se misturem ao longo da mensagem. É possível
que um certo ponto de vista do autor venha imiscuído em uma parte de um texto
narrativo sem descaracterizá-lo. O importante é verificar qual das funções está em
primeiro plano.
Cada tipo de texto será estudado em tópico próprio mais adiante. Antes preci-
samos conhecer as funções da linguagem e os tipos de discurso.
3.2. Funções da linguagem
Dependendo das intenções relacionadas à exteriorização do texto, o emissor
da mensagem pode ressaltar algum aspecto dela para atingir seu objetivo com maior
precisão, escolhendo para isso as palavras que surtirão o efeito almejado. Esses re-
cursos de ênfase direcionados voluntariamente pelo autor, visando a causar determinada
sensação ou chamar a atenção do receptor, são chamados de funções da linguagem.
Vamos a elas:
a) Função denotativa ou referencial: a ênfase é colocada sobre o objeto da
mensagem. A preocupação do autor é transmitir uma informação objetiva, ten-
tando deixá-la afastada de impressões pessoais, ou seja, sem avaliá-la ou julgá-la.
Exemplos:
Texto I
“Com R$ 3 mi por mês, Neymar é maior milionário do Brasil em
Londres”
(http://www.uol.com.br)
30 Henrique Subi
Texto II
(Disponível em: http://br.weather.com/weather/local/BRXX0232)
b) Função emotiva ou expressiva: aqui, o foco da mensagem é o próprio emissor.
Ele deseja que suas opiniões e sentimentos sejam percebidos pelo destinatário, pro-
duzindo um texto mais subjetivo do que objetivo. Apresenta-se na primeira pessoa do
singular e os sinais de pontuação acompanham as emoções inseridas no texto (ponto
de exclamação, reticências etc.). Exemplo:
Texto III
“Se eu não olhasse para Ezequiel, é provável que não estivesse
aqui escrevendo esse livro, porque o meu primeiro ímpeto foi cor-
rer ao café e bebê-lo. (...). Chamem-me embora assassino; não
serei eu que os desdiga ou contradiga; o meu segundo impulso foi
criminoso. Inclinei-me e perguntei a Ezequiel se já tomara café.
(...)
Ezequiel abriu a boca. Cheguei-lhe a xícara, tão trêmulo que quase
a entornei, mas disposto a fazê-la cair pela goela abaixo, caso o
sabor lhe repugnasse, ou a temperatura, porque o café estava frio...
Mas não sei que senti que me fez recuar. Pus a xícara em cima da
mesa, e dei por mim a beijar doidamente a cabeça do menino.
- Papai! Papai! exclamava Ezequiel.
- Não, não, eu não sou teu pai!”
(ASSIS, Machado de. Dom Casmurro)
Manual Completo de Português para Concursos 31
c) Função conativa ou apelativa: transferimos o centro de atenção agora para
o receptor. A mensagem quer chamar sua atenção, incentivá-lo ou convencê-lo a praticar
determinada conduta ou agir de determinada forma. É caracterizada pelo uso de verbos
no imperativo (“faça”, “diga”). Exemplo:
Texto IV
(http://www.editorafoco.com.br).
d) Função metalinguística: ocorre quando a linguagem do texto é o próprio
objeto dele, isto é, o texto fala de si mesmo. A função metalinguística relaciona-se com
o próprio ato de explorar a linguagem utilizada. Pode ser ou um pintor retratando o
ato de pintar ou uma música falando do ato de compor a própria canção, como nos
exemplos abaixo:
Texto V
(VELÁZQUEZ. As meninas. 1656)
32 Henrique Subi
Texto VI
“Eis aqui este sambinha
Feito de uma nota só
Outras notas vão entrar
Mas a base é uma só
Essa outra é consequência
Do que acabo de dizer
Como eu sou a consequência
Inevitável de você
Quanta gente existe por aí
Que fala tanto e não diz nada
Ou quase nada
Já me utilizei de toda a escala
E no final não deu em nada
Não sobrou nada
E voltei pra minha nota
Como eu volto pra você
Vou cantar com minha nota
Como eu gosto de você
E quem quer todas as notas
Ré, mi, fá, sol, lá, si, dó
Fica sempre sem nenhuma
Fique numa nota só”
(JOBIM, Tom e MENDONÇA, Newton. Samba de uma nota só)
e) Função fática: mais pontual, reconhece-se a função fática da linguagem
quando a atenção do emissor volta-se para o canal de comunicação entre ele e o receptor,
buscando mantê-lo aberto para a continuação do diálogo. Exercem a função fática as
interjeições e saudações, como “o quê?” e “alô!”, sublinhadas no exemplo abaixo:
Texto VII
“Querida, eu juro que não era eu. Que coisa ridícula! Se você es-
tivesse aqui – Alô? Alô? – olha, se você estivesse aqui ia ver a
minha cara, inocente como o Diabo. O quê? Mas como ironia?
‘Como o Diabo’ é força de expressão, que diabo. Você acha que
eu ia brincar numa hora desta? Alô! Eu juro, pelo que há de mais
sagrado, pelo túmulo da minha mãe, pela nossa conta no banco,
pela cabeça dos nossos filhos, que não era eu naquela foto de car-
naval no ‘Cascalho’ que saiu na Folha da Manhã. O quê? Alô! Alô!
Como é que eu sei qual é a foto? Mas você não acaba de dizer...
Ah, você não chegou a dizer... Ah, você não chegou a dizer qual
era o jornal. Bom, bem. Você não vai acreditar, mas acontece que
eu também vi a foto. Não desliga! (...)”
(VERÍSSIMO, Luis Fernando. Trapezista, in Comédias da Vida Privada)
Manual Completo de Português para Concursos 33
f) Função poética: decorre da intenção do autor de expressar sua mensagem por
uma forma pouco usual, valendo-se de rimas, ritmos, jogos de imagem etc.. Apesar do
nome, não se aplica somente a poesias, podendo ser encontrada em outros exemplos
textuais:
Texto VIII
he = ele
& = e
She = ela
S = serpens
h = homo
e eva
(XISTO, Pedro. Ephitalamium II. 1966)
3.3. Tipos de discurso
Dá-se o nome de discurso à representação textual das falas de uma pessoa, ou
seja, quando uma personagem do texto diz alguma coisa para outra ou para si mes-
mo. As funções da linguagem sofrem influência direta do tipo de discurso utilizado:
por exemplo, a função emotiva em destaque no texto III acima é potencializada pela
fala dos personagens. Por essa razão, é importante conhecer e saber identificar os três
tipos de discurso.
a) Discurso direto: quando deixa explícita a ocorrência de um diálogo entre
as personagens através do uso de sinais de pontuação como dois-pontos, travessão
ou aspas.
Texto IX
“– A mim? – perguntou Rubião depois de alguns segundos. – A
você – confirmou o Palha. – Devia tê-la dito há mais tempo, mas
estas histórias de casamento, de comissão das Alagoas, etc., atra-
palharam-me, e não tive ocasião; agora, porém, antes do almoço...
Você almoça comigo.
– Sim, mas que é?
– Uma coisa importante.”
(ASSIS, Machado de. Quincas Borba)
34 Henrique Subi
b) Discurso indireto: o próprio narrador da história relata, com suas palavras,
o que dissera a personagem. O discurso indireto, portanto, representa uma paráfrase
do diálogo. Nele, não há travessões ou quaisquer outros sinais de pontuação; o texto
segue seu curso normalmente.
Texto X
“O coronel convidou Cauda Pintada a ir até seu quartel-general e
lamentou a perda de sua filha. O chefe disse que nos dias em que
os brancos e os índios estavam em paz, ele trouxera a filha a Fort
Laramie muitas vezes, que ela gostava do forte, e ele gostaria que o
palanque fúnebre fosse elevado no cemitério do posto. O coronel
Maynadier imediatamente deu permissão. Ficou espantado ao ver
lágrimas nos olhos de Cauda Pintada; ele não sabia que um índio
podia chorar.”
(BROWN, Dee. Enterrem meu coração na curva do rio)
c) Discurso indireto livre: é o ponto médio entre o discurso direto e o discurso
indireto. Aqui, o narrador mistura-se ao personagem, transcrevendo diretamente seus
pensamentos sem indicar, com sinais de pontuação, que disso se trata.
Texto XI
“Sinhá Vitória desejava possuir uma cama igual à de seu Tomás da
bolandeira. Doidice. Não dizia nada para não contrariá-la, mas sa-
bia que era doidice. Cambembes podiam ter luxo? E estavam ali de
passagem. Qualquer dia, patrão os botaria fora, e eles ganhariam
o mundo, sem rumo, nem teria meio de conduzir os cacarecos.”
(RAMOS, Graciliano. Vidas secas)
3.4. Narração
O texto narrativo caracteriza-se pela presença de um enredo, um encadeamento
lógico dos acontecimentos com começo, meio e fim.
Dentre os tipos de texto que elencamos, é o que permite maior liberdade do
autor, o qual pode trabalhar de muitas formas diferentes para expor seu relato. Pode
se apresentar como um romance, uma história onde as personagens e os fatos são
criados com maior profundidade; um conto, que é uma narrativa mais curta, ou uma
crônica, normalmente espelhando fatos do cotidiano; até mesmo poemas podem
assumir um viés narrativo, como a famosa obra “Os Lusíadas”, de Camões.
Por conta dessa amplitude de forma, a narração pode reunir quaisquer das
funções da linguagem, as quais transitarão pelo texto conforme a intenção do autor,
bem como valer-se dos três tipos de discurso.
A narração ainda se divide em duas subespécies:
a) Narração propriamente dita: na qual o foco do texto é contar os fatos. Aquilo
que aconteceu é mais importante para o autor do que como aconteceu.
Manual Completo de Português para Concursos 35
Texto XI
“Pedro Bala bateu a moeda de quatrocentos réis na parede da Al-
fândega, ela caiu diante da de Boa-Vida. Depois Pirulito bateu a
dele, a moeda fica entre a de Boa-Vida e a de Pedro Bala. Boa-Vida
estava acocorado, espiando. Tirou o cigarro da boca:
– Eu gosto é assim mesmo. De começar ruim...
E continuaram o jogo, mas Boa-Vida e Pirulito perderam as moe-
das de quatrocentão, que Pedro Bala embolsou:
– Eu sou é bamba mesmo.”
(AMADO, Jorge. Capitães da areia)
b) Descrição: chamamos a narração de texto descritivo quando as atenções do
autor estão voltadas a dividir com o intérprete cada detalhe da cena narrada. Pretende,
com isso, permitir que o leitor imagine a cena em cada pormenor, valorizando mais
as circunstâncias do que os fatos em si.
Texto XII
“Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte,
nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais ne-
gros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo do jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha re-
cendia no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão
e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo da grande
nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a
verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.”
(ALENCAR, José de. Iracema)
Atenção! Mais uma vez, a classificação entre narração propriamente dita e
descrição leva em consideração as características preponderantes do texto. É claro
que um texto narrativo apresentará algumas descrições, da mesma forma que um
texto puramente descritivo, sem o transcorrer de qualquer acontecimento, justifica-
se apenas por razões artísticas (como no movimento literário conhecido por
Parnasianismo).
3.5. Argumentação
Na argumentação, a intenção básica do autor é defender um determinado ponto
de vista ou expressar sua opinião sobre um fato relevante. Esse gênero textual, portanto,
afasta-se da narração na medida em que esta é expressão de ficção, enquanto aquele
se fundamenta em fatos concretos sobre os quais o autor quer se manifestar. É a espé-
cie de texto mais explorada nos concursos públicos hoje em dia, tanto nas questões
de interpretação, quanto na redação.
36 Henrique Subi
No texto argumentativo, são muito usadas as funções emotiva e conativa,
cujos teores variam de acordo com a maior ou menor intenção do autor de convencer
seus interlocutores através da razão ou dos sentimentos (prática comum nos textos
publicitários).
Também se apresenta em diversos formatos: ensaio, onde o autor discorre so-
bre o tema lastreado em fatos ou opiniões que corroborem sua conclusão; resenha,
na qual se discute as características de uma obra artística, culminando com um jul-
gamento sobre sua qualidade; manifestações processuais, próprias dos advogados,
quando defendem os interesses de seus clientes, entre outros.
A estrutura mais conhecida, porém, é a dissertação, organizada de forma a con-
trapor diferentes posições para que o autor, e também o intérprete, cheguem à conclu-
são após ponderar todos os argumentos. Por sua grande importância nos concursos
públicos, principalmente nas provas de redação, na parte III voltaremos a estudá-la.
Texto XIII
O fator Russomanno
“O empate técnico entre José Serra (PSDB) e Celso Russomanno
(PRB) foi o dado mais inesperado da última pesquisa Datafolha.
Segundo o instituto, o tucano tem 30% das intenções de voto, con-
tra 26% de Russomanno. Os demais candidatos a prefeito de São
Paulo, como Fernando Haddad (PT) e Soninha Francine (PPS),
não passam de 7%. A margem de erro é de três pontos percentuais.
Desde dezembro, o pleiteante do nanico PRB avançou dez pontos
nas pesquisas. Manteve, até aqui, trajetória ascendente que sur-
preendeu boa parcela dos analistas.
O crescimento de Russomanno vinha sendo atribuído a sua pre-
sença no quadro “Patrulha do Consumidor”, que integra um pro-
grama matinal diário veiculado pela TV Record, emissora ligada
ao PRB.
A exposição do ex-deputado na TV, no entanto, terminou no final
de junho. De lá para cá, sua candidatura não chegou a atrofiar-se,
como se previa. Ao contrário, confirmou-se a tendência, com os-
cilação positiva de dois pontos.
Ainda que a boa colocação se comprove fenômeno apenas inercial,
fadado a esvair-se, é preciso reconhecer que há mais vetores a in-
fluenciar essa trajetória.
Um deles é a Igreja Universal, denominação neopentecostal que
controla o PRB. Não é coincidência que Russomanno tenha seu
melhor desempenho justamente entre os eleitores que declaram
alguma religião evangélica pentecostal.
Outro vetor é o baixo conhecimento de Fernando Haddad. Quase
metade dos paulistanos ainda ignora o candidato do PT. Por en-
Manual Completo de Português para Concursos 37
quanto, Russomanno é quem mais se beneficiou desse fato, mas
ele também tem mais a perder. Hoje, os petistas representam qua-
se um terço de suas intenções de voto.
Jogam a favor de Russomanno ainda outros dois fatores: a retirada
da candidatura do popular Netinho (PC do B) e a baixa avaliação
do prefeito Gilberto Kassab (PSD), que afeta diretamente José Serra.
Contra o candidato do PRB, paradoxalmente, pesará em breve
uma força decisiva – o tempo de TV. Com meros dois minutos
de propaganda eleitoral, Russomanno terá menos de um terço
da exposição de Serra e Haddad e metade da de Gabriel Chalita
(PMDB).
Nas eleições presidenciais de 2002, nesta mesma época do ano,
Ciro Gomes, então no PPS, tinha 28% e ameaçava a liderança de
Lula (PT), com 33%. No final de agosto, após o início do horá-
rio eleitoral, Ciro, com menos tempo na TV, perdeu sete pontos e
nunca mais se recuperou na disputa.
Para firmar-se como alternativa à polarização PT-PSDB, Russo-
manno precisa sobreviver às primeiras semanas de campanha na
TV. Até lá, não passará de uma anomalia.”
(Folha de São Paulo. Editorial publicado em 24/07/2012)
3.6. Relato
É o tipo de texto voltado à difusão de fatos concretos. Nele, predominam a fun-
ção denotativa, porque o autor deve evitar a influência de suas posturas pessoais na
composição, e o discurso indireto, que permite ao historiador ou jornalista resumir
as falas dos envolvidos e manter o texto fluido, com poucas interrupções oriundas
dos sinais de pontuação. Nada impede, naturalmente, que diante da importância do
que foi dito, alterne-se para o discurso direto para consignar literalmente a expressão
usada. Nesse caso, a frase ou o diálogo é transcrito entre aspas e antecedido de dois-
-pontos.
São exemplos comuns as notícias, veiculadas nos meios de comunicação es-
critos ou falados; o relato histórico, sobre fatos passados da sociedade; a biografia,
usada para difundir experiências relevantes da vida de uma personalidade; o teste-
munho prestado em processos judiciais etc..
Texto XIV
“Mesmo a pior depressão cíclica mais cedo ou mais tarde tem de
acabar, e após 1939 havia sinais cada vez mais claros de que o pior
já passara. De fato, algumas economias dispararam na frente. O Ja-
pão e, em escala mais modesta, a Suécia alcançaram quase duas ve-
zes o nível de produção pré-Depressão no fim da década de 1930,
e em 1938 a economia alemã (embora não a italiana) estava 25%
38 Henrique Subi
acima de 1929. Mesmo economias emperradas como a britânica
davam claros sinais de dinamismo. Contudo, o esperado aumento
não voltou. O mundo continuou em depressão. Isso foi mais visí-
vel na maior de todas as economias, a dos EUA, porque as várias
experiências para estimular a economia feitas pelo ‘New Deal’ do
presidente F. D. Roosevelt – às vezes de maneira inconsistente –
não corresponderam exatamente à sua promessa econômica.”
(HOBSBAWN, Eric. A era dos extremos)
3.7. Exposição
O objetivo da exposição é transmitir conhecimentos, instruir ou ensinar o leitor/
intérprete por meio de informações que ele ainda não possua. Muito usada no meio aca-
dêmico e para a propagação do conhecimento científico, a exposição é marcada pela
função denotativa e, por força do costume, é redigida em terceira pessoa.
As características do trabalho final se assemelham bastante às do relato. Di-
ferenciam-se somente na objeto: o relato publica fatos reais; a exposição transmite
conhecimentos, conceitos teóricos. Ela é mais abstrata, ele é mais concreto.
Encontramos exemplos de exposição nas enciclopédias, nos dicionários, nos
artigos científicos, nos livros didáticos, entre outros.
Texto XV
Nome empresarial, já vimos, é o elemento identificador do em-
presário, a forma como ele é conhecido no mercado. Sua proteção
contra uso indevido é feita pela própria Junta Comercial, como
consequência imediata do registro da empresa.
Título do estabelecimento é o elemento identificador do ponto co-
mercial, é o nome fantasia do estabelecimento. Nada obsta que
contenha elementos idêncitos ao nome empresarial, mas são ins-
titutos distintos (...).”
(SUBI, Henrique. In Super-Revisão – OAB – negrito e itálico no original)
3.8. Instrução
Por último, classifica-se como instrução o texto que pretende prescrever um pa-
drão de conduta, determinar a forma de agir das pessoas. Deve ser o mais claro e objetivo
possível, para que efetivamente permita aos seus destinatários atuar conforme as regras.
Manifesta-se na forma de regras de jogo, leis e normas jurídicas, receitas culi-
nárias, ordens de serviço etc..
Texto XVI
“Art. 1.300. O proprietário construirá de maneira que o seu pré-
dio não despeje águas, diretamente, sobre o prédio vizinho.
Manual Completo de Português para Concursos 39
Art. 1.301. É defeso abrir janelas, ou fazer eirado, terraço ou va-
randa, a menos de metro e meio do terreno vizinho.”
(Código Civil)
Para finalizar, confira como o tema desse capítulo foi cobrado no concurso de
agente de Polícia Federal de 2004, de responsabilidade do CESPE:
Texto XVII
“O valor da vida é de tal magnitude que, até mesmo nos momentos
mais graves, quando tudo parece perdido dadas as condições mais
excepcionais e precárias — como nos conflitos internacionais, na
hora em que o direito da força se instala negando o próprio Direi-
to, e quando tudo é paradoxal e inconcebível —, ainda assim a in-
tuição humana tenta protegê-lo contra a insânia coletiva, criando
regras que impeçam a prática de crueldades inúteis.
Quando a paz passa a ser apenas um instante entre dois tumul-
tos, o homem tenta encontrar nos céus do amanhã uma aurora de
salvação. A ciência, de forma desesperada, convoca os cientistas
a se debruçarem sobre as mesas de seus laboratórios, na procura
de meios salvadores da vida. Nas salas de conversação internacio-
nais, mesmo entre intrigas e astúcias, os líderes do mundo inteiro
tentam se reencontrar com a mais irrecusável de suas normas: o
respeito pela vida humana.
Assim, no âmago de todos os valores, está o mais indeclinável de
todos eles: a vida humana. Sem ela, não existe a pessoa humana,
não existe a base de sua identidade. Mesmo diante da proletária
tragédia de cada homem e de cada mulher, quase naufragados na
luta desesperada pela sobrevivência do dia a dia, ninguém abre
mão do seu direito de viver. Essa consciência é que faz a vida mais
que um bem: um valor.
A partir dessa concepção, hoje, mais ainda, a vida passa a ser res-
peitada e protegida não só como um bem afetivo ou patrimonial,
mas pelo valor ético de que ela se reveste. Não se constitui apenas
de um meio de continuidade biológica, mas de uma qualidade e
de uma dignidade que faz com que cada um realize seu destino de
criatura humana”.
Internet: <http://www.dhnet.org.br>. Acesso em ago./2004 (com adaptações).
Com base no texto acima, julgue os itens a seguir.
(1) O texto estrutura-se de forma argumentativa em torno de uma ideia fun-
damental e constante: a vida humana como um bem indeclinável.
(2) O primeiro parágrafo discorre acerca da valorização da existência e da
necessidade de proteção da vida contra a insânia coletiva, por intermédio
40 Henrique Subi
de normas de convivência que impeçam a prática de crueldades inúteis,
principalmente em épocas de graves conflitos internacionais, quando o
direito da força contrapõe-se à força do Direito e quando a situação se
apresenta paradoxal e inconcebível.
(3) No segundo parágrafo, estão presentes as ideias de que a paz é ilusória,
não passando de um instante apenas de trégua entre dois tumultos, e
de que, para mantê-la, os cientistas se desdobram à procura de fórmulas
salvadoras da humanidade e os líderes mundiais se encontram para pre-
servar o respeito recíproco.
(4) No penúltimo parágrafo, encontra-se uma redundância: a afirmação de
que o soberano dos valores é a vida humana, sem a qual não existe a pes-
soa humana, sequer a sua identidade.
(5) O comprometimento ético para com a humanidade é defendido no último
parágrafo do texto, que discorre acerca da vida não só como um meio de
continuidade biológica, mas como a responsável pelo destino da criatura
humana.
1: correta. A estrutura argumentativa, própria dos textos dissertativos, é aquela que pretende convencer
o leitor através de argumentos, científicos ou emotivos, de que o autor tem razão. No caso, busca-se
sacramentar que a vida humana, ainda que diante das arbitrariedades e crueldades dos conflitos, é um
bem maior e deve ser sempre protegido; 2: correta. A assertiva parafraseia, sem perda de conteúdo, o que
consta do primeiro parágrafo; 3: incorreta. Na verdade, o parágrafo expõe que, apesar da paz ser transi-
tória durante os períodos de conflito, ainda assim o ser humano, espontaneamente ou contrariado, não
deixa de buscar formas de salvar vidas ou evitar mais perdas humanas; 4: correta. Ocorre redundância
(ou pleonasmo) quando verificamos que a conclusão ou o objeto da frase é uma obviedade. Natural-
mente, sem a vida humana, não se pode falar em pessoa humana; 5: incorreta. Não se conclui no texto
que a vida é a responsável pelo destino da criatura humana, mas sim que a ética que ela reveste o é.
Gabarito 1C, 2C, 3E, 4C, 5E
4. INSTRUMENTOS DE INTERPRETAÇÃO
4.1. Contexto
4.1.1. Conceito
Chamamos contexto o conjunto de circunstâncias implícitas ou explícitas no tex-
to que complementam as palavras com o intuito de desenvolver completamente as ideias
nele expostas.
Identificar o contexto é o primeiro passo da interpretação, constituindo dela
importante instrumento. Mais ainda, é o próprio fundamento da leitura ativa.
A regra de ouro para a captação do contexto é indagar: “quem disse?”, “por que
ele disse?”, “quando ele disse?”, “onde ele disse?”. Vamos trabalhar juntos o texto
abaixo:
Texto I
“Mas quando o príncipe está à frente de seu exército, e com um
grande número de soldados sob seu comando, é necessário que
Manual Completo de Português para Concursos 41
aceite a fama de crueldade, sem a qual não conseguirá manter as
tropas unidades e dispostas para qualquer tarefa. Entre as ações
notáveis de Aníbal, conta-se que, embora dispusesse de um exér-
cito vastíssimo e muito heterogêneo, e combatesse em terras es-
trangeiras, nunca houve qualquer dissensão entre seus soldados,
ou entre estes e o príncipe, nos bons tempos ou na adversidade.
Isto outra causa não tinha senão sua crueldade desumana que,
juntamente com outras inumeráveis virtudes, fez com que fosse
visto sempre com terror e veneração pelos comandados; sem tal
crueldade, as outras virtudes não teriam bastado para alcançar tal
efeito. Desavisadamente, alguns historiadores admiram, de um
lado, suas ações, e de outro lhe reprovam a causa mais importante
das mesmas”.
(MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe)
O texto aborda a conduta ideal que um príncipe ou governante deve ter no
campo de batalha ao liderar seu exército. O que ele diz sobre isso? Que o príncipe
deve ser cruel para ser respeitado na guerra, tanto pelo inimigo quanto por seus
soldados. Essa opinião soa absurda nos dias de hoje, quando se prega a solução pací-
fica dos conflitos e são criados tribunais internacionais para o julgamento de crimes
contra a humanidade.
Continue questionando: por que ele disse isso? Porque a obra “O Príncipe” foi
escrita como um guia, um compilado de sugestões para o sucesso de um governante.
Quando e onde ele disse? No século XVI, mais precisamente em 1513, época das
grandes navegações e intensas disputas territoriais na Europa, tanto entre potências,
quanto por colônias nos novos continentes. Apesar do avanço intelectual do Re-
nascimento, a sociedade ainda se dividia de acordo com a capacidade financeira, as
mulheres não tinham direitos, escravidão era comum e não se enxergava a sociedade
com um sentimento coletivo.
Perceba que, ao responder as questões periféricas, enxergamos melhor a rea-
lidade na qual o autor estava inserido e as razões de sua opinião. Ao visualizar o
contexto podemos refletir com precisão sobre as ideias elencadas na exposição e
discuti-las com mais propriedade.
Todo texto está inserido em um contexto. É muito comum lermos ou ouvirmos,
principalmente em anúncios publicitários, que determinado veículo de comunicação
é “isento”, “neutro”, que se limita a “noticiar os fatos tal como eles aconteceram”.
Enfim, é comum a tentativa de transmitir implicitamente que a mensagem está livre
de impressões pessoais de seu autor ou emissor.
A verdade é bem outra: não existe texto neutro, despretensioso, alheio às experiên-
cias, certezas e opiniões de seu criador. Mesmo quando desejamos apenas relatar o que
sabemos (usando a função denotativa da linguagem), empenhando nossos maiores
esforços para sermos imparciais, não podemos esquecer de que tudo que está em nos-
sa memória ali ingressou através de nossos sentidos (visão, olfato, paladar, audição
e tato), os quais são moldados de acordo com nossa experiência. Todos nós temos
42 Henrique Subi
“filtros” em nossos olhos, ouvidos, nariz, implantados com o passar do tempo como
resultado de nossa história, das nossas experiências vividas; e sempre pretendemos,
ao exteriorizar isso, que o receptor da mensagem seja marcado positiva ou negativa-
mente pelas nossas palavras.
Por isso, toda mensagem chega até nós, por qualquer caminho que seja, acom-
panhada de diversas circunstâncias que o bom intérprete consegue identificar para
estabelecer com clareza o que o autor pretende obter com a publicação do texto.
A análise do contexto, muitas vezes, depende de conhecimentos prévios sobre
História, Geografia ou Literatura. Em concursos públicos, por outro lado, é bastante
comum a contextualização em relação a eventos recentes que tiveram destaque na
imprensa nacional e internacional. Isso é bom, porque ao ler jornais, revistas e sites
de notícias, além de estar se preparando para a prova de Atualidades, você igual-
mente estará se municiando de dados relevantes para as questões de Português, pois
ficará consciente da conjuntura econômica e política atual para extrair corretamente
as informações sobre o contexto.
Em outra linha, pontos importantes do contexto podem ser encontrados no
momento da leitura. A leitura ativa deve considerar todos os elementos do texto:
o título, eventuais notas de rodapé, a fonte de onde o texto foi retirado etc.. Por
exemplo: textos encontrados em publicações científicas costumam ser objetivos e
ter a função de informar sobre uma nova descoberta ou estudo (classificam-se como
exposições); já textos advindos de jornais e revistas, principalmente dos editoriais,
trazem elevada carga de opinião do autor, a sua análise pessoal de determinado acon-
tecimento (classificam-se como argumentações).
Dizemos isso para mostrar que o caminho do estudo da interpretação de tex-
tos segue, agora, para a “desmontagem” do conceito de leitura ativa. Imagine que
vamos colocá-la no microscópio e investigar de que ela é formada. Assim, conhece-
remos os diversos instrumentos de interpretação que nos ajudarão na construção
do contexto.
Antes, passe ao exercício seguinte, elaborado pela Fundação CESGRANRIO,
para praticar aquilo que aprendemos. Após as alternativas estão os gabaritos e breves
comentários:
Texto II
NADA MUDOU
“Em outros declives semelhantes, vimos, com prazer, progressivos in-
dícios de desbravamento, isto é, matas em fogo ou já destruídas, de
cujas cinzas começavam a brotar o milho, a mandioca e o feijão”.(...)
“Pode-se prever que em breve haverá falta até de madeira necessária
para construções se, por meio de uma sensata economia florestal, não
se der fim à livre utilização e devastação das matas desta zona”. “As
ervas desse campo, para serem removidas e fertilizar o solo com car-
bono e extirpar a multidão de insetos nocivos, são queimadas anual-
mente pouco antes de começar a estação chuvosa. Assistimos, com
Manual Completo de Português para Concursos 43
espanto, à surpreendente visão da torrente de fogo ondulando podero-
samente sobre a planície sem fim.” “(…) Há a atividade dos homens
que esburacam o solo (…) para a extração de metais. (...)” “Infeliz-
mente (…), ávidos da carne do tatu galinha, não ponderam sobre es-
sas sábias disposições. Perseguem-no com tanta violência, como se a
espécie tivesse de ser extinta”. “No solo adubado com cinzas das ma-
tas queimadas dá boas colheitas (…) Contudo, isso se refere somente
à colheita do primeiro ano; no segundo já é menor e, no terceiro, o
solo em geral está parcialmente esgotado e em parte tão estragado por
um capim compacto, que a plantação é desfeita …”. “Em parte, ha-
viam sido queimadas grandes extensões das pradarias. Assisti hoje a
este fenômeno diversas vezes e, por um quarto de hora, atravessamos
campos incendiados, crepitando em altas chamas.”
Lendo as citações acima, o leitor pode estar se perguntando de
onde elas foram extraídas, até pela linguagem pouco usual, e a
que lugares se referem. Poderá imaginar que são trechos de pu-
blicações técnicas sobre o meio ambiente, talvez algum relato de
um membro de uma ONG ambientalista ou de um viajante de
Portugal ou outra coisa qualquer do gênero. Pois bem, não é nada
disso. Na verdade, as citações foram extraídas do livro “Viagem
no Interior do Brasil” (1976, Editora Itatiaia), do naturalista aus-
tríaco Johann Emanuel Pohl. O detalhe que torna as citações mais
interessantes para aquelas pessoas preocupadas com o meio am-
biente é a época em que foi feita a viagem: entre 1818 e 1819. Isto
mesmo, há quase 190 anos! Repito: cento e noventa anos atrás.
Triste constatar que, de lá pra cá, não só pouca coisa mudou como
retrocedemos em outras. O naturalista viajou pelos estados do Rio
de Janeiro, Minas Gerais, Goiás e Tocantins e descreveu os ca-
minhos por onde passou. (...) O imediatismo, a destruição pela
cobiça, a nefanda prática das queimadas, a falta de planejamento
e o hábito de esgotar os recursos para posteriormente mudar o
local da destruição são facilmente percebidos ao longo do texto.
Na verdade, dada a época em que o relato foi feito, isto não cons-
titui grande surpresa. O mais impressionante é a analogia com os
dias atuais. (...) Quase dois séculos se passaram. O discurso am-
bientalista ganhou força e as ONG são entidades de peso político
extraordinário. Mas tudo indica que, na prática, nada mudou.
Rogério Grassetto Teixeira da Cunha, biólogo, é doutor em comportamento
animal pela Universidade de Saint Andrews. JB – Ecológico, ano V, nº 71,
dez/2007
Sobre o texto, é correto afirmar que o autor
(A) faz previsões quanto à situação do ecossistema.
(B) tira conclusões a partir de suas viagens pelo interior.
44 Henrique Subi
(C) preocupa-se com a deterioração do ecossistema brasileiro.
(D) critica a opinião dos observadores estrangeiros sobre o meio ambiente.
(E) atribui aos naturalistas a falta de planejamento para a conservação do
meio ambiente.
O autor vale-se de citações de um livro para demonstrar que, mesmo séculos depois, a situação do meio
ambiente no Brasil continua preocupante, pois a deterioração já era ruim no século XIX.
Gabarito “C”
Segundo o autor, nas citações iniciais do texto (três primeiros parágrafos), o
leitor poderá identificar
(A) relatos críticos de viagens exploratórias.
(B) interesses escusos de organizações ambientalistas.
(C) propostas de ocupação do solo pelas comunidades agrícolas.
(D) preparação do solo para a produção de biocombustível.
(E) viagens exploratórias com vistas ao desenvolvimento sustentável.
Os três primeiros parágrafos refletem as opiniões do naturalista austríaco que viajou pelo interior do
país em viagens exploratórias, analisando a situação do ecossistema.
Gabarito “A
Na construção do texto, o autor
(A) procura um diálogo com o leitor.
(B) tece considerações a partir de um monólogo.
(C) desconsidera a interação com o leitor.
(D) responsabiliza o leitor pela situação instalada.
(E) apresenta solução ao leitor para os fatos constatados.
No texto, sobressai a função fática da linguagem, que busca manter o canal de comunicação aberto entre
o autor e o leitor, buscando criar um diálogo entre eles.
Gabarito “A
4.1.2. Intertextualidade
Ocorre intertextualidade, ou intertexto, quando dois textos se entrelaçam, um
mencionando o outro. Dessa forma, para a perfeita interpretação de um, é preciso pri-
meiro conhecer e extrair o sentido do outro.
Observe os exemplos abaixo:
Texto III
PT QUER ABAFAR MENSALÃO COM A CPI DO CACHOEIRA
“(...) A estratégia antes negada publicamente pela maioria dos
petistas, – de usar a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
(CPMI) de Carlinhos Cachoeira para desviar o foco e neutralizar o
julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF) – foi
Manual Completo de Português para Concursos 45
admitida ontem pelo presidente nacional do PT, Rui Falcão. Em
vídeo de quase dois minutos postado ontem à tarde no site oficial
do partido, Falcão conclama centrais sindicais e partidos políti-
cos que defendem o combate a corrupção, além de movimentos
populares, a fazerem uma mobilização contra o que chamou de
‘operação abafa’ que visaria a impedir a realização da investigação
da CPMI, que já envolve parlamentares de seis partidos, inclusive
do PT.
No vídeo, pela primeira vez, Falcão cita a intenção de desmas-
carar, na CPMI, aqueles que, segundo o presidente do PT, são os
autores do que ele chama de ‘farsa do mensalão’, PSDB e DEM. As
declarações foram criticadas pela oposição e até por setores mais
moderados do PT.
(...) No vídeo, ele ataca o governador de Goiás, Marconi Perillo
(PSDB), mas não faz nenhuma menção ao envolvimento do governa-
dor petista do Distrito Federal, Agnelo Queiroz – que teve seu nome
citado na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, como interes-
sado num suposto encontro com Cachoeira, o que Agnelo nega.”
(LIMA, Maria. O Globo. Publicado em 12/04/2012)
Texto IV
A CPI DE CACHOEIRA E A RETÓRICA DO “MENSALÃO”
“Era questão de tempo: tímidos, até então, com a escancarada re-
lação mantida pelo contraventor Carlinhos Cachoeira com sena-
dor, deputados e um governador tucano, os jornais chegaram às
bancas, nesta quinta-feira 12, com a arma apontada na direção
oposta.
Estamparam em suas capas a suspeita de que o lobby de Cachoeira
chegara ao governador petista Agnelo Queiróz (DF). Num
exercício de retórica mais elástico que os tentáculos políticos
de Cachoeira, conseguiram trazer ao centro do debate a palavra
‘mensalão’.
Tudo isso às vésperas da instalação de uma CPI mista para in-
vestigar as relações suprapartidárias do contraventor pelo mundo
político, tão ecléticas quanto suas áreas de influência – que iam do
jogo do bicho à indústria farmacêutica, passando por serviços de
coleta de lixo. (...)
A abertura da CPI passou a ser defendida abertamente pelo presi-
dente do PT, Rui Falcão. Foi o suficiente para que O Globo visse na
postura uma tentativa de desviar o foco do ‘mensalão’.”
(Revista Carta Capital. Publicado em 12/04/2012)
46 Henrique Subi
Note que o texto IV menciona o texto III no último parágrafo. Essa informação
é fundamental para a interpretação, pois dela podemos extrair que o texto IV é uma
resposta ao texto III, criando o cenário de intertextualidade. Isso é confirmado por
outras circunstâncias do contexto: são dois veículos de comunicação tradicional-
mente conhecidos por terem alinhamentos políticos opostos e ambos os textos foram
publicados na mesma data.
Há, ainda, uma espécie de relação intertextual muito famosa chamada paródia.
Nela, o autor faz referência a outro texto com o intuito de reescrevê-lo, normalmente com
pretensões humorísticas ou críticas. Está implícito em qualquer paródia a intenção de
gerar no leitor a necessidade de revisitar o texto original, de vê-lo com outros olhos
diante da evolução da sociedade ou até mesmo para simplesmente desconstruir o
ideal artístico alheio. Leia com atenção os poemas que seguem:
Texto V
“Minha terra tem palmeiras,
onde canta o Sabiá;
as aves que aqui gorjeiam,
não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
nossas várzeas têm mais flores,
nossos bosques têm mais vida,
nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
mais prazer encontro eu lá;
minha terra tem palmeiras
onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
que tais não encontro eu cá;
em cismar – sozinho, à noite –
mais prazer encontro eu lá;
minha terra tem palmeiras
onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra
sem que eu volte para lá;
sem que desfrute os primores
que não encontro por cá;
sem qu’inda aviste as palmeiras
onde canta o Sabiá.”
(DIAS, Gonçalves. Canção do Exílio. 1843)
Manual Completo de Português para Concursos 47
Texto VI
“Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo.”
(ANDRADE, Oswald de. Canto de regresso à pátria. 1926)
A importância de estudarmos a paródia é destacar que a relação intertextual não
precisa ser explícita. A correta interpretação da “Canção de regresso à pátria”, de Os-
wald de Andrade, pressupõe o conhecimento da “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias,
para se apontar que o poeta modernista buscou atualizar a visão do Brasil exposta pelo
seu antecessor do Romantismo. Há crítica à escravidão antes reinante no país (“Minha
terra tem palmares/Onde gorjeia o mar”) e uma nova paisagem urbana que ocupa os
espaços naturais cantados por Gonçalves Dias (“Não permita Deus que eu morra/ Sem
que eu volte para São Paulo/ Sem que veja a Rua 15/ E o progresso de São Paulo”).
A intertextualidade foi assim questionada em concurso público realizado pelo
CESPE:
Texto VII
“O Brasil dá mais um passo em direção ao futuro. A normatiza-
ção da rotulagem permitirá que o consumidor saiba o que está
adquirindo e consumindo. O país ganha fôlego para continuar as
pesquisas. A vitória é, portanto, da biotecnologia. Um país como
o nosso, com uma das mais extensas áreas cultiváveis do mundo,
poderá ser um dos grandes celeiros da humanidade.”
Edmundo Klotz, presidente da Associação Brasileira das Indústrias da Alimen-
tação (com adaptações). Jornal Correio Braziliense, 28/08/2001.
48 Henrique Subi
Texto VIII
“A Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação, despre-
zando os direitos dos consumidores ao manifestar seu apoio ao
decreto do governo federal, revela que, por trás do ato governa-
mental, está o interesse das indústrias de alimentos e das empresas
de biotecnologia em liberar os transgênicos, sem avaliação dos
seus riscos para a saúde e o ambiente, e sem informação clara da
sua origem transgênica.”
Marilena Lazzarini, coordenadora executiva do Instituto de Defesa do Consu-
midor (IDEC). Jornal Correio Braziliense, 28/08/2001.
Com o auxílio dos textos acima, julgue os itens subsequentes.
(1) O tema remete a alimentos manipulados por engenharia genética, enten-
dendo-se por transgênicos os organismos geneticamente modificados.
(2) Para o empresariado, a pesquisa aplicada na área biotecnológica é funda-
mental para que o país avance quanto a qualidade e quantidade na produ-
ção de alimentos.
(3) A questão que aparentemente mais divide as opiniões em relação à produ-
ção de alimentos transgênicos reside nos efeitos que eles poderiam acar-
retar à saúde da população e em seu impacto ambiental.
1: correta. “Transgênico” foi o adjetivo criado para referir-se aos organismos geneticamente modificados;
2: correta, pois a liberação dos OGMs possibilitará um crescimento na qualidade e na quantidade de pro-
dutos produzidos no país, diante de sua maior resistência a pragas e outras vantagens comparativas; 3:
correta, porquanto tais efeitos ainda são parcialmente desconhecidos dos pesquisadores.
Gabarito 1C, 2C, 3C
4.2. Observação
Uma boa interpretação de texto tem um quê de processo científico. Imagine
um biólogo que pretende estudar o comportamento de uma colônia de formigas.
Qual seu primeiro passo? Observar os insetos e anotar suas primeiras impressões.
O mesmo se dá com a leitura ativa de um texto. O primeiro instrumento que
devemos utilizar é a observação, até por uma questão natural: a visão é o primeiro
sentido que toma contato com o objeto de estudo.
Antes de começar propriamente a ler, observe o texto e suas características.
Assim, de antemão, você já pode identificar se ele está escrito em prosa ou verso; se
está diante de um texto verbal escrito ou misto; procure a fonte do texto e veja de
onde ele foi extraído. Há muito o que descobrir nesse primeiro contato, principal-
mente nos textos mistos, como no exemplo abaixo:
Texto IX
Manual Completo de Português para Concursos 49
“O número de mulheres no mercado de trabalho mundial é o
maior da História, tendo alcançado, em 2007, a marca de 1,2 bi-
lhão, segundo relatório da Organização Internacional do Traba-
lho (OIT). Em dez anos, houve um incremento de 200 milhões
na ocupação feminina. Ainda assim, as mulheres representaram
um contingente distante do universo de 1,8 bilhão de homens
empregados. Em 2007, 36,1% delas trabalhavam no campo, ante
46,3% em serviços. Entre os homens, a proporção é de 34% para
40,4%. O universo de desempregadas subiu de 70,2 milhões para
81,6 milhões, entre 1997 e 2007 — quando a taxa de desemprego
feminino atingiu 6,4%, ante 5,7% da de desemprego masculino.
Há, no mundo, pelo menos 70 mulheres economicamente ativas
para 100 homens.
O relatório destaca que a proporção de assalariadas subiu de 41,8%
para 46,4% nos últimos dez anos. Ao mesmo tempo, houve queda
no emprego vulnerável (sem proteção social e direitos trabalhis-
tas), de 56,1% para 51,7%. Apesar disso, o universo de mulheres
nessas condições continua superando o dos homens.”
O Globo, 7/3/2007, p. 31 (com adaptações).
Perceba que, em um primeiro momento, nossa observação encontra um gráfi-
co, o qual, visivelmente, ilustra um cenário de crescimento do número de mulheres
no mercado de trabalho. Em seguida, vemos um texto verbal que, pelas diversas re-
ferências a percentuais, veio para explicar os resultados inseridos no gráfico anterior.
Verificamos, ao final, que se trata de uma notícia de jornal (um relato, portanto),
porque extraído de um famoso periódico (“O Globo”). Isso tudo já sabemos antes de
avançarmos sobre as palavras em si!
Naturalmente, é difícil que questões de concurso cobrem o uso puro e simples
da observação. Na verdade, ela é o primeiro passo, ao qual se seguirão necessaria-
mente outros que devem ser tomados para encontrarmos a resposta. Mesmo assim, é
uma ferramenta imprescindível para nosso trabalho.
4.3. Análise
É a consequência lógica imediatamente posterior à observação. Depois de
apreender com nossos sentidos as principais características do texto, começamos
a lê-lo para dele retirar as informações relevantes e, dentro do processo intelectual de
interpretação, compreender o quanto foi dito. Na etapa da análise é que utilizamos nos-
sos conhecimentos prévios (significado das palavras, situação política e econômica
nacional e internacional, conceitos científicos etc.) e alargamos a simples imagem do
texto para o conjunto de informações que ele representa.
Vamos permanecer com o exemplo do texto IX acima. É muito comum que
as questões de interpretação de textos em concursos públicos exijam a análise de
gráficos e tabelas. Como vimos, essa operação mental consiste em avaliar os dados
50 Henrique Subi
esparsos e “remontá-los” de forma que permitam deles extrair uma conclusão. No nosso
texto, o gráfico se chama “número de mulheres no mercado de trabalho mundial (em
milhões)”, informação que faz nosso cérebro resgatar o problema histórico de discri-
minação na contratação de mão de obra feminina. Vemos, então, uma sequência de
colunas crescentes que representam os anos de 1983 a 2007 e os patamares, respecti-
vamente, atingem 810 e 1.200. O que isso significa? Que em 1983 havia 810.000.000
(oitocentos e dez milhões) de mulheres no mercado de trabalho mundial (não se
esqueça da informação entre parênteses no título do gráfico!), o número foi progres-
sivamente subindo e em 2007 esse total atingiu 1.200.000.000 (um bilhão e duzentos
milhões), um aumento de quase 50%. À primeira vista, parece um bom resultado.
Mas a interpretação não pode prescindir de nenhuma informação e resta ainda
analisar a parte verbal do texto. Após a leitura, percebemos que o autor não ficou
satisfeito com os números apresentados pela OIT, afirmando que há uma grande
distância entre homens e mulheres no ambiente de trabalho. Sua visão é pessimista,
pois ele procura realçar os problemas que ainda existem em detrimento dos bons
resultados obtidos até o momento.
Tente responder à questão abaixo, elaborada pelo Núcleo de Computação Ele-
trônica (NCE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), através das técni-
cas apresentadas:
Texto X
DIAGNÓSTICO
“Em oito anos, o número de turistas no Rio de Janeiro dobrou, en-
quanto os assaltos a turistas foram multiplicados por três, alcan-
çando hoje a média de dez casos por dia. Considerando a impor-
tância que o turismo tem para a cidade – que anualmente recebe
5,7 milhões de visitantes de outros estados e do estrangeiro, des-
tes, aliás, quase 40% dos que chegam ao Brasil têm como destino
o Rio – é alarmante esse grau crescente de insegurança.
Por maior que tenha sido a indignação manifestada pelo governo
federal, são números que reforçam o alerta do Departamento de
Estado americano a agências de turismo dos Estados Unidos, di-
vulgado no início do mês, a respeito do perigo que apresentam o
Rio e outras grandes cidades brasileiras.
Não é exagero classificar de urgente a tarefa de fazer o turista se sen-
tir mais seguro no Rio, considerando que os visitantes movimentam
13% da economia da cidade e que dentro de três anos teremos aqui
o Pan. Parte da solução é simples: reforçar o policiamento ostensi-
vo. A Secretaria de Segurança do Estado informa que há quase duas
centenas de policiais patrulhando a orla, do Leblon ao Leme, mas
não é o que se vê – nem é o que percebem os assaltantes.
Muitos destes aliás, são menores de idade com que o poder públi-
co simplesmente não sabe lidar, por falta de ação integrada entre
autoridades estaduais e municipais, empenhadas num jogo de em-
Manual Completo de Português para Concursos 75
QUESTÕES COMENTADAS DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
1: incorreta. Há dois problemas com a nova oração proposta. O pri-
meiro é que ela não representa a mesma ideia do texto original,
porque não menciona que a comparação só faz sentido se feita
entre a psicanálise e o materialismo histórico. O segundo refere-se
a questões gramaticais: não deve haver vírgula depois de “rigor”,
ocorre crase em “à análise” e o verbo “existir” deve ser conjugado
no plural – “existem”; 2: incorreta. A conclusão apresentada não
pode ser extraída da afirmação inicial do texto. A autora quis de-
monstrar, somente, que Marx tratou em sua obra de um aspecto do
inconsciente humano de forma reflexa, isto é, não ligada à natureza
do pensamento, mas em relação a suas consequências econômicas.
Não há qualquer referência que, por conta disso, Freud tenha se
baseado, em qualquer medida, nos escritos de Marx; 3: correta. O
texto prossegue comparando o fetichismo e a alienação nas diversas
esferas das relações humanas, demonstrando que a expressão des-
tacada refere-se a esses dois institutos; 4: correta. Essa é justamente
a ideia central do texto: demonstrar que as pessoas agem com base
em diferentes pontos de vista tanto por questões psicanalíticas (cons-
ciente/inconsciente) como por questões econômicas (consumidor/
trabalhador explorado).
Gabarito 1E, 2E, 3C, 4C
1 Nossos projetos de vida dependem muito do futuro
do país no qual vivemos. E o futuro de um país não é
obra do acaso ou da fatalidade. Uma nação se constrói.
4 E constrói-se no meio de embates muito intensos — e, às
vezes, até violentos — entre grupos com visões de futuro,
concepções de desenvolvimento e interesses distintos e
7 conflitantes.
Para muitos, os carros de luxo que trafegam pelos
bairros elegantes das capitais ou os telefones celulares não
10 constituem indicadores de modernidade.
Modernidade seria assegurar a todos os habitantes
do país um padrão de vida compatível com o pleno exercício
13 dos direitos democráticos. Por isso, dão mais valor a um
modelo de desenvolvimento que assegure a toda a população
alimentação, moradia, escola, hospital, transporte coletivo,
16 bibliotecas, parques públicos. Modernidade, para os que
pensam assim, é sistema judiciário eficiente, com aplicação
rápida e democrática da justiça; são instituições públicas
19 sólidas e eficazes; é o controle nacional das decisões
econômicas.
Plínio Arruda Sampaio. O Brasil em construção.
In: Márcia Kupstas (Org.). Identidade nacional em debate.
São Paulo: Moderna, 1997, p. 27-9 (com adaptações).
(CESPE) Considerando a argumentação do texto aci-
ma bem como as estruturas linguísticas nele utiliza-
das, julgue o item a seguir.
(1) Infere-se da leitura do texto que o futuro de um
país seria “obra do acaso” (l.3) se a modernidade
não assegurasse um padrão de vida democrático
a todos os seus cidadãos.
1 Dizem que Karl Marx descobriu o inconsciente três
décadas antes de Freud. Se a afirmação não é rigorosamente
exata, não deixa de fazer sentido, uma vez que Marx, em
4 O Capital, no capítulo sobre o fetiche da mercadoria,
estabelece dois parâmetros conceituais imprescindíveis para
explicar a transformação que o capitalismo produziu na
7 subjetividade. São eles os conceitos de fetichismo e de
alienação, ambos tributários da descoberta da mais-valia — ou
do inconsciente, como queiram.
10 A rigor, não há grande diferença entre o emprego
dessas duas palavras na psicanálise e no materialismo histórico.
Em Freud, o fetiche organiza a gestão perversa do desejo
13 sexual e, de forma menos evidente, de todo desejo humano; já
a alienação não passa de efeito da divisão do sujeito, ou seja,
da existência do inconsciente. Em Marx, o fetiche da
16 mercadoria, fruto da expropriação alienada do trabalho, tem
um papel decisivo na produção “inconsciente” da mais-valia.
O sujeito das duas teorias é um só: aquele que sofre e se indaga
19 sobre a origem inconsciente de seus sintomas é o mesmo que
desconhece, por efeito dessa mesma inconsciência, que o poder
encantatório das mercadorias é condição não de sua riqueza,
22 mas de sua miséria material e espiritual. Se a sociedade em que
vivemos se diz “de mercado”, é porque a mercadoria é o
grande organizador do laço social.
São Paulo: Boitempo, 2011, p. 142 (com adaptações).
(CESPE) Com relação às ideias desenvolvidas no texto
acima e a seus aspectos gramaticais, julgue os itens
subsequentes.
(1) Com correção gramatical, o período “A rigor (...)
histórico” (L.10-11) poderia, sem se contrariar a
ideia original do texto, ser assim reescrito: Caso
se proceda com rigor, a análise desses conceitos,
verifica-se que não existe diferenças entre eles.
(2) A informação que inicia o texto é suficiente para
se inferir que Freud conheceu a obra de Marx,
mas o contrário não é verdadeiro, visto que esses
pensadores não foram contemporâneos.
(3) A expressão “dessas duas palavras” (L.11), como
comprovam as ideias desenvolvidas no parágrafo
em que ela ocorre, remete não aos dois vocábulos
que imediatamente a precedem — “mais-valia”
(L.8) e “inconsciente” (L.9) —, mas, sim, a “feti-
chismo” (L.7) e “alienação” (L.8).
(4) Depreende-se da argumentação apresentada que
a autora do texto, ao aproximar conceitos presen-
tes nos estudos de Marx e de Freud, busca de-
monstrar que, nas sociedades “de mercado”, a
“divisão do sujeito” (L.14) se processa de forma
análoga na subjetividade dos indivíduos e na re-
lação de trabalho.
76 Henrique Subi
1: incorreta, porque o texto não passa essa mensagem. O autor afir-
mar taxativamente que o futuro de um país nunca será “obra do
acaso”, sendo sempre construído. A divergência ocorre apenas na
forma de construção da modernidade.
Gabarito “1E”
1 Na verdade, o que hoje definimos como democracia
só foi possível em sociedades de tipo capitalista, mas não
necessariamente de mercado. De modo geral, a
4 democratização das sociedades impõe limites ao mercado,
assim como desigualdades sociais em geral não contribuem
para a fixação de uma tradição democrática. Penso que temos
7 de refletir um pouco a respeito do que significa democracia.
Para mim, não se trata de um regime com características
fixas, mas de um processo que, apesar de constituir formas
10 institucionais, não se esgota nelas. É tempo de voltar ao
filósofo Espinosa e imaginar a democracia como uma
potencialidade do social, que, se de um lado exige a criação
13 de formas e de configurações legais e institucionais, por
outro não permite parar. A democratização no século XX
não se limitou à extensão de direitos políticos e civis. O tema
16 da igualdade atravessou, com maior ou menor força, as
chamadas sociedades ocidentais.
Renato Lessa. Democracia em debate. In: Revista Cult,
n.º 137, ano 12, jul./2009, p. 57 (com adaptações).
(CESPE) Com base nas estruturas linguísticas e nas re-
lações argumentativas do texto acima, julgue o item
a seguir.
(1) Depreende-se da argumentação do texto que o
autor considera as instituições como as únicas
“características fixas” (l.8-9) aceitáveis de “demo-
cracia” (l.1 e 7).
1: incorreta, pois o autor é categórico ao afirmar que a democracia
não pode ser reduzida a “características fixas”. Pretende, com sua
argumentação, demonstrar que o conceito de democracia não pres-
cinde das instituições, mas vai além delas.
Gabarito “1E”
O valor da vida é de tal magnitude que, até mesmo
nos momentos mais graves, quando tudo parece per-
dido dadas as condições mais excepcionais e precá-
rias — como nos conflitos internacionais, na hora em
que o direito da força se instala negando o próprio
Direito, e quando tudo é paradoxal e inconcebível —,
ainda assim a intuição humana tenta protegê-lo con-
tra a insânia coletiva, criando regras que impeçam a
prática de crueldades inúteis.
Quando a paz passa a ser apenas um instante entre
dois tumultos, o homem tenta encontrar nos céus do
amanhã uma aurora de salvação. A ciência, de forma
desesperada, convoca os cientistas a se debruçarem so-
bre as mesas de seus laboratórios, na procura de meios
salvadores da vida. Nas salas de conversação interna-
cionais, mesmo entre intrigas e astúcias, os líderes do
mundo inteiro tentam se reencontrar com a mais irre-
cusável de suas normas: o respeito pela vida humana.
Assim, no âmago de todos os valores, está o mais
indeclinável de todos eles: a vida humana. Sem ela,
não existe a pessoa humana, não existe a base de sua
identidade. Mesmo diante da proletária tragédia de
cada homem e de cada mulher, quase naufragados
na luta desesperada pela sobrevivência do dia a dia,
ninguém abre mão do seu direito de viver. Essa cons-
ciência é que faz a vida mais que um bem: um valor.
A partir dessa concepção, hoje, mais ainda, a vida
passa a ser respeitada e protegida não só como um
bem afetivo ou patrimonial, mas pelo valor ético de
que ela se reveste. Não se constitui apenas de um
meio de continuidade biológica, mas de uma quali-
dade e de uma dignidade que faz com que cada um
realize seu destino de criatura humana.
Internet: <http://www.dhnet.org.br>. Acesso em ago./2004
(com adaptações).
(CESPE) Com base no texto acima, julgue os itens a
seguir.
(1) O texto estrutura-se de forma argumentativa em
torno de uma ideia fundamental e constante: a
vida humana como um bem indeclinável.
(2) O primeiro parágrafo discorre acerca da valori-
zação da existência e da necessidade de prote-
ção da vida contra a insânia coletiva, por inter-
médio de normas de convivência que impeçam
a prática de crueldades inúteis, principalmente
em épocas de graves conflitos internacionais,
quando o direito da força contrapõe-se à força
do Direito e quando a situação se apresenta pa-
radoxal e inconcebível.
(3) No segundo parágrafo, estão presentes as ideias
de que a paz é ilusória, não passando de um ins-
tante apenas de trégua entre dois tumultos, e de
que, para mantê-la, os cientistas se desdobram à
procura de fórmulas salvadoras da humanidade e
os líderes mundiais se encontram para preservar o
respeito recíproco.
(4) No penúltimo parágrafo, encontra-se uma redun-
dância: a afirmação de que o soberano dos va-
lores é a vida humana, sem a qual não existe a
pessoa humana, sequer a sua identidade.
(5) O comprometimento ético para com a humanida-
de é defendido no último parágrafo do texto, que
discorre acerca da vida não só como um meio de
continuidade biológica, mas como a responsável
pelo destino da criatura humana.
1: correta. A estrutura argumentativa, própria dos textos dissertativos,
é aquela que pretende convencer o leitor por meio de argumen-
tos, científicos ou emotivos, de que o autor tem razão. No caso,
busca-se sacramentar que a vida humana, ainda que diante das ar-
bitrariedades e crueldades dos conflitos, é um bem maior e deve
ser sempre protegido; 2: correta. A assertiva parafraseia, sem perda
de conteúdo, o que consta do primeiro parágrafo; 3: incorreta. Na
Manual Completo de Português para Concursos 77
verdade, o parágrafo expõe que, apesar da paz ser transitória durante
os períodos de conflito, ainda assim o ser humano, espontaneamente
ou contrariado, não deixa de buscar formas de salvar vidas ou evitar
mais perdas humanas; 4: correta. Ocorre redundância (ou pleonas-
mo) quando verificamos que a conclusão ou o objeto da frase é uma
obviedade. Naturalmente, sem a vida humana, não se pode falar em
pessoa humana; 5: incorreta. Não se conclui no texto que a vida é
a responsável pelo destino da criatura humana, mas sim que a ética
que ela reveste o é.
Gabarito 1C, 2C, 3E, 4C, 5E
Os novos sherlocks
1Dividida basicamente em dois campos,
criminalística e medicina legal, a área de perícia nunca
esteve tão na moda. Seus especialistas volta e meia estão no
4noticiário, levados pela profusão de casos que requerem
algum tipo de tecnologia na investigação. Também viraram
heróis de seriados policiais campeões de audiência.
7Nos EUA, maior produtor de programas desse tipo, o
sucesso é tão grande que o horário nobre, chamado de prime
time, ganhou o apelido de crime time. Seis das dez séries de
10 maior audiência na TV norte-americana fazem parte desse
filão.
Pena que a vida de perito não seja tão fácil e
13 glamorosa como se vê na TV. Nem todos utilizam aquelas
lanternas com raios ultravioleta para rastrear fluidos do
corpo humano nem as canetas com raio laser que traçam a
16 trajetória da bala. “Com o avanço tecnológico, as provas
técnicas vêm ampliando seu espaço no direito brasileiro,
principalmente na área criminal”, declara o presidente da
19 OAB/SP, mas, antes disso, já havia peritos que recorriam às
mais diversas ciências para tentar solucionar um crime.
Na divisão da polícia brasileira, o pontapé inicial da
22 investigação é dado pelo perito, sem a companhia de legistas,
como ocorre nos seriados norte-americanos. Cabe a ele
examinar o local do crime, fazer o exame externo da vítima,
25 coletar qualquer tipo de vestígio, inclusive impressões
digitais, pegadas e objetos do cenário, e levar as evidências
para análise nos laboratórios forenses.
Pedro Azevedo. Folha Imagem, ago./2004
(com adaptações).
(CESPE) A respeito do texto acima, julgue os itens sub-
sequentes.
(1) De acordo com o presidente da OAB/SP, as pro-
vas técnicas têm sido ampliadas, principalmente
na área criminal, com o avanço tecnológico no
espaço do direito brasileiro.
(2) Está explícita no último parágrafo do texto a se-
guinte relação de causa e consequência: o perito
examina o local do crime, faz o exame externo da
vítima e coleta qualquer tipo de vestígio porque
precisa levar as evidências para análise nos labo-
ratórios forenses.
1: incorreta. A paráfrase não equivale ao trecho original. A assertiva
dá a entender que foi o avanço tecnológico que ganhou espaço no
direito brasileiro, sendo que o entrevistado afirma que a prova téc-
nica ganhou espaço, por conta do avanço tecnológico; 2: incorreta,
porque a relação está implícita. O texto, puramente, não trata como
uma relação de causa e consequência, porque “levar as evidências
para análise” também é uma de suas atribuições e não o objetivo
delas. A relação causal é uma dedução possível, resultado do exer-
cício de interpretação.
Gabarito 1E, 2E
Texto
1A maioria dos comentários sobre crimes ou se
limitam a pedir de volta o autoritarismo ou a culpar a
violência do cinema e da televisão, por excitar a
4imaginação criminosa dos jovens. Poucos pensam que
vivemos em uma sociedade que estimula, de forma
sistemática, a passividade, o rancor, a impotência, a
7inveja e o sentimento de nulidade nas pessoas. Não
podemos interferir na política, porque nos ensinaram a
perder o gosto pelo bem comum; não podemos tentar
10 mudar nossas relações afetivas, porque isso é assunto de
cientistas; não podemos, enfim, imaginar modos de viver
mais dignos, mais cooperativos e solidários, porque isso
13 é coisa de “obscurantista, idealista, perdedor ou ideólogo
fanático”, e o mundo é dos fazedores de dinheiro.
Somos uma espécie que possui o poder da
16 imaginação, da criatividade, da afirmação e da
agressividade. Se isso não pode aparecer, surge, no lugar,
a reação cega ao que nos impede de criar, de colocar no
19 mundo algo de nossa marca, de nosso desejo, de nossa
vontade de poder. Quem sabe e pode usar — com
firmeza, agressividade, criatividade e afirmatividade —
22 a sua capacidade de doar e transformar a vida, raramente
precisa matar inocentes, de maneira bruta. Existem mil
outras maneiras de nos sentirmos potentes, de nos
25 sentirmos capazes de imprimir um curso à vida que não
seja pela força das armas, da violência física ou da evasão
pelas drogas, legais ou ilegais, pouco importa.
Jurandir Freire Costa. In: Quatro autores em busca do Brasil.
Rio de Janeiro: Rocco, 2000, p. 43 (com adaptações).
(CESPE) Acerca das ideias do texto acima , julgue os
seguintes itens.
(1) Muitos acreditam que a censura aos meios de co-
municação seria uma forma de reduzir a violên-
cia entre jovens.
(2) A argumentação do texto põe em confronto atitu-
des possíveis: uma que se caracteriza por passivi-
dade e impotência, outra, por resistência criativa.
(3) O trecho “Não podemos (...) dinheiro” ( .7-14)
apresenta exemplificações que funcionam como
argumentos para a afirmação do período que o
antecede.
78 Henrique Subi
(4) Infere-se do texto que o autor culpa a violência
do cinema e da televisão pela disseminação da
violência nos dias atuais.
(5) De acordo com as ideias defendidas no texto, as
formas positivas de dar sentido à vida e experi-
mentar a sensação de poder vinculam-se à ma-
neira como se usa a capacidade de doação e de
transformação.
1: correta. É o que se pode deduzir, em interpretação a contrario sen-
su, dos fatos expostos no primeiro parágrafo; 2: correta. A passividade
é exposta nos primeiros parágrafos, resumindo o ideal da maioria de
que não podemos interferir nos grandes temas sociais. A “resistência
criativa” é descrita a partir da linha 20, ao dizer que podemos usar
nossas características humanas como armas para nos sentirmos po-
tentes, sem precisar da violência gratuita; 3: correta. Os exemplos
esclarecem o argumento do autor sobre a razão da passividade da
maioria das pessoas; 4: incorreta. Ao contrário, os argumentos expos-
tos evidenciam que, para o autor, culpar o cinema e a televisão é evi-
tar olhar sobre o real problema: a passividade das pessoas; 5: correta.
Para o autor, apenas pelo uso daquilo que nos faz humanos é que po-
demos lutar, positivamente, contra a passividade e dar sentido à vida.
Gabarito 1C, 2C, 3C, 4E, 5C
Um desafio cotidiano
Recentemente me pediram para discutir os desafios
políticos que o Brasil tem pela frente. Minha primeira
dúvida foi se eles seriam diferentes dos de ontem.
Os problemas talvez sejam os mesmos, o país é que
mudou e reúne hoje mais condições para enfrentá-
-los que no passado. A síntese de minhas conclusões
é que precisamos prosseguir no processo de democra-
tização do país.
Kant dizia que a busca do conhecimento não tem fim.
Na prática, democracia, como um ponto final que uma
vez atingido nos deixa satisfeitos e por isso decretamos
o fim da política, não existe. Existe é democratização,
o avanço rumo a um regime cada vez mais inclusivo,
mais representativo, mais justo e mais legítimo. E quais
as condições objetivas para tornar sustentável esse mo-
vimento de democratização crescente?
Embora exista forte correlação entre desenvolvimento
e democracia, as condições gerais para sua sustenta-
ção vão além dela. O grau de legitimidade histórica,
de mobilidade social, o tipo de conflitos existentes na
sociedade, a capacidade institucional para incorporar
gradualmente as forças emergentes e o desempenho
efetivo dos governos são elementos cruciais na susten-
tação da democratização no longo prazo.
Nossa democracia emergente não tem legitimidade
histórica. Esse requisito nos falta e só o alcançaremos
no decorrer do processo de aprofundamento da de-
mocracia, que também é de legitimação dela.
Uma parte importante desse processo tem a ver com
as relações rotineiras entre o poder público e os ci-
dadãos. Qualquer flagrante da rotina desse relaciona-
mento arrisca capturar cenas explícitas de desrespeito
e pequenas ou grandes tiranias. As regras dessa rela-
ção não estão claras. Não existem mecanismos aces-
síveis de reclamação e desagravo.
(CESPE) Com relação às ideias do texto, julgue os se-
guintes itens.
(1) O autor considera que o modelo de democracia
do Brasil não resolverá os problemas políticos do
país.
(2) Um regime democrático caracteriza-se pela exis-
tência de um processo contínuo de busca pela le-
gitimidade, justiça, representatividade e inclusão.
(3) Democracia é uma das condições de sustentação
do desenvolvimento, mas não a única.
(4) Enquanto não houver mecanismos acessíveis de
reclamação e desagravo, as relações entre poder
público e cidadãos não serão regidas por meio de
regras claras.
(5) De acordo com o desenvolvimento da argumen-
tação, o pedido estabelecido no primeiro perío-
do do texto, e que deu origem ao ensaio, não
pode ser atendido, razão pela qual o texto não é
conclusivo.
1: incorreta. O autor aponta que o modelo de democracia no país
realmente tem problemas históricos, mas conclui que somente a
continuidade do processo de democratização é que poderá resolver
nossos problemas políticos; 2: correta. É o que se infere das lições de
Kant expostas no terceiro parágrafo; 3: correta. O autor elenca, ain-
da, “o grau de legitimidade histórica, de mobilidade social, o tipo de
conflitos existentes na sociedade, a capacidade institucional para in-
corporar gradualmente as forças emergentes e o desempenho efetivo
dos governos” como condições de sustentação do desenvolvimento;
4: correta. Essa relação pode ser extraída dos dois últimos períodos
do texto; 5: incorreta. O autor apresenta suas conclusões sobre o
pedido realizado. O que ocorre é uma determinação do ponto de
vista a ser abordado, adaptando a pergunta à realidade percebida
pelo autor.
Gabarito 1E, 2C, 3C, 4C, 5E
(CESPE) Com relação às ideias do texto, julgue os se-
guintes itens.
(1) A decretação do “fim da política” (l. 9) traria,
como consequência, a satisfação dos praticantes
da democracia – representantes e representados.
(2) A ideia de “democracia” está para um produto
acabado assim como “democratização” está para
um processo.
(3) Relações entre poder público e cidadãos incluem-
-se no processo de aprofundamento e legitimação
da democracia.
(4) Cenas explícitas de desrespeito aos cidadãos têm
como causa imediata a emergência de nossa de-
mocracia histórica.
(5) Não havendo busca do conhecimento como sus-
tentação histórica, não há democracia e, conse-
quentemente, não há política.
1: incorreta. O autor destaca que a democracia não é um valor rea-
lizável em si mesmo. O contínuo processo de democratização é que
traz melhorias e vantagens para o povo; 2: correta. Isso pode ser
inferido do texto, destacando a impossibilidade de se atingir esse
Manual Completo de Português para Concursos 79
“produto acabado”; 3: correta. Segundo o autor, tais relações são
parte integrante do processo de democratização; 4: incorreta. Tal
conclusão não é possível a partir da leitura do texto. No máximo,
a pouca idade de nossa democracia é um fator indireto, mediato,
do desrespeito aos direitos humanos pelo poder público, interação
que deve ser melhorada dentro do processo de democratização; 5:
incorreta. A busca do conhecimento, no conceito kantiano, é citado
como instrumento de retórica para sustentar o argumento que vem
em seguida (tal qual a busca do conhecimento, o processo de de-
mocratização também não tem um fim). Ela não se relaciona com a
existência ou inexistência da democracia e da política. Ademais, há
outros sistemas políticos diferentes da democracia, não sendo essa,
portanto, seu pressuposto.
Gabarito 1E, 2C, 3C, 4E, 5E
A Revolução Industrial provocou a dissociação entre
dois pensamentos: o científico e tecnológico e o hu-
manista. A partir do século XIX, a liberdade do homem
começa a ser identificada com a eficiência em dominar
e transformar a natureza em bens e serviços. O concei-
to de liberdade começa a ser sinônimo de consumo.
Perde importância a prática das artes e consolidam-se a
ciência e a tecnologia. Relega-se a preocupação ética.
A procura da liberdade social se faz sem considerar-se
sua distribuição. A militância política passa a ser tolera-
da, mas como opção pessoal de cada um.
Essa ruptura teve o importante papel de contribuir para
a revolução do conhecimento científico e tecnológico.
A sociedade humana se transformou, com a eficiência
técnica e a consequente redução do tempo social ne-
cessário à produção dos bens de sobrevivência.
O privilégio da eficiência na dominação da natureza
gerou, contudo, as distorções hoje conhecidas: em
vez de usar o tempo livre para a prática da liberdade,
o homem reorganizou seu projeto e refez seu objetivo
no sentido de ampliar o consumo. O avanço técnico
e científico, de instrumento da liberdade, adquiriu au-
tonomia e passou a determinar uma estrutura social
opressiva, que servisse ao avanço técnico e científico.
A liberdade identificou-se com a ideia de consumo.
Os meios de produção, que surgiram no avanço téc-
nico, visam ampliar o nível dos meios de produção.
Graças a essa especialização e priorização, foi possí-
vel obter-se o elevado nível do potencial de liberda-
de que o final do século XX oferece à humanidade.
O sistema capitalista permitiu que o homem atingis-
se as vésperas da liberdade em relação ao trabalho
alienado, às doenças e à escassez. Mas não conse-
gue permitir que o potencial criado pela ciência e
tecnologia seja usado com a eficiência desejada.
(Cristovam Buarque, Na fronteira do futuro. Brasília:
EDUnB, 1989, p. 13; com adaptações)
(CESPE) Julgue os itens abaixo, relativos às ideias do
texto acima.
(1) O conceito de “liberdade” é tomado como sinô-
nimo de consumo e de eficiência no domínio e na
transformação da natureza em bens e serviços.
(2) O autor sugere que o sistema capitalista apresenta
a seguinte correlação: quanto mais tempo livre,
mais consumo, mais lazer e menos opressão.
(3) Depreende-se do primeiro parágrafo que a ética
foi abolida a partir do século XIX.
(4) No segundo parágrafo, a expressão “Essa ruptura”
retoma e resume a ideia central do parágrafo an-
terior.
(5) O emprego da expressão “as vésperas da liberda-
de” (l. 29) sugere que a humanidade ainda não
atingiu a liberdade desejada.
1: correta. É correta tal correspondência entre as ideias apresentadas
no primeiro parágrafo; 2: incorreta. Ao contrário, o autor coloca as
distorções geradas pelo esforço do homem em dominar a nature-
za: aumentar o consumo tornou-se o grande objetivo, mesmo em
detrimento do uso do tempo livre para a prática da liberdade; 3: in-
correta. A ética não foi abolida. Diz o autor, apenas, que ela deixou
de ser uma preocupação em face do crescente desejo de consumo;
4: correta. A ruptura em questão é a dissociação do pensamento
científico-tecnológico do humanista; 5: correta. “Véspera” é o dia
anterior. O autor quis dizer que estamos muito próximos à liberdade,
mas ainda não chegamos a ela.
Gabarito 1C, 2E, 3E, 4C, 5C
Texto para as cinco questões seguintes:
ALIMENTO DA ALMA
O comerciante André Faria, 49 anos, dono de um bar
em Campinas (SP), pulou da cama às 6 da manhã,
trabalhou o dia inteiro e ainda guarda disposição e
bom humor para cantar baixinho enquanto prepara a
terceira “quentinha” da noite.
O homem miúdo, de cabelos grisalhos e olhos azuis
de um brilho intenso, aguarda sua outra freguesia: há
anos ele alimenta moradores de rua por sua conta
própria. Com a ajuda do fiel escudeiro, Mineiro, 64
anos, André prepara uma grande panela de sopa para
10, 12 pessoas no inverno, ou distribui arroz, feijão e
carne para quem passa por ali nos dias mais quentes
do ano.
Basta conversar alguns minutos com André para per-
ceber que ele não faz isso para “parecer bonzinho”.
“Não dá pra gente, que trabalha com comida, negar
um prato a quem tem fome”, diz. “Tem gente que faz
isso, mas não é o meu caso, pois precisa ser muito
frio.
Tatiana Fávero, Correio Popular.
(UNIFAP) Lançando mão de qualquer recurso com
relação à linguagem, o texto, desde o seu título, tem
como função principal dar ao leitor indícios que o
levem à construção de sentidos. Com base nesta afir-
mação, que alternativa melhor justifica o título do
texto?
(A) Foi escolhido, principalmente, com o intuito de
mostrar que fazer o bem é uma atitude inerente
ao ser humano.
80 Henrique Subi
(B) As pessoas, ao alimentarem o corpo, alimentam
necessariamente a alma.
(C) Quando as pessoas encontram-se alimentadas fi-
sicamente, sentem-se em paz consigo mesmas.
(D) Quando se dá um prato de comida a um necessi-
tado, alimenta-se, ao mesmo tempo, seu corpo e
seu espírito.
(E) Para quem recebe, um prato de comida faz bem
ao corpo, para quem dá, faz bem à alma.
Sem dúvida, a alternativa “E” melhor justifica o título do texto na
medida em que André, ao doar comida às pessoas que precisam,
alimenta o físico delas e alimenta sua própria alma, no sentido de
sentir-se um ser humano melhor e mais feliz por poder ajudar o pró-
ximo.
Gabarito “E”
(UNIFAP) Assinale a alternativa incorreta:
(A) No 1º parágrafo do texto, a mistura dos verbos
nos tempos passado e presente tem por finalidade
chamar a atenção do leitor, principalmente para
a ação presente que é sobre a qual se encontra
focalizado o texto.
(B) O comerciante chama aos moradores de rua de
freguesia (2º parágrafo), por trabalhar no ramo da
alimentação também com eles.
(C) De acordo com os dados apresentados no texto,
pode-se afirmar que André distribui alimentação
aos moradores de rua há mais de dez anos.
(D) O vocábulo ali (2º parágrafo) é um locativo que
substitui, no texto, o lugar onde André fica quan-
do distribui comida.
(E) Ao trocar-se o vocábulo há (2º parágrafo) pelo vo-
cábulo faz em “...há anos ele alimenta...”, além
de sentir-se a necessidade do uso do conectivo
que, altera-se, no fragmento, o tipo de variante
linguística.
A única alternativa incorreta é a “C”, pois em nenhum momento
afere-se do texto a quantidade de anos em que André distribui ali-
mento aos moradores de rua. O texto menciona apenas “há anos”,
não sendo possível medir a quantidade.
Gabarito “C”
(UNIFAP) Assinale a alternativa incorreta:
(A) No 1º parágrafo do texto, a relação predomi-
nante entre as orações que o compõe é de equi-
valência.
(B) No 1º parágrafo do texto, as ações indicadas pe-
los vocábulos cantar e prepara, em consequên-
cia do elemento articulador que há entre eles,
são ações praticadas concomitantemente.
(C) De acordo com o texto, pode-se inferir, com
base ainda no 1º parágrafo, que a disposição
e o bom humor de André Faria, advêm de sua
vontade de praticar o bem.
(D) A sopa ou o arroz, feijão e carne, dependendo
do clima, são distribuídos sempre para as mes-
mas pessoas.
(E) A preparação da sopa é feita por André e Minei-
ro, seu fiel escudeiro.
A: correta. Chama-se relação de equivalência a relação de interde-
pendência entre duas orações quando elas possuem o mesmo valor
semântico, não se podendo indicar uma dominante e outra depen-
dente. É o que ocorre nos períodos compostos por coordenação,
como no primeiro parágrafo do texto; B: correta. Sim, o elemento
articulador “enquanto” dá a ideia de que ambas atividades são pra-
ticadas ao mesmo tempo; C: correta. Pela leitura do primeiro pará-
grafo é possível concluir que o bom humor dele advém da vontade
de praticar o bem; D: incorreta (devendo ser assinalada). Tanto a
sopa como o arroz, feijão e carne são distribuídos para as pessoas
que passam por “ali”, ou seja, para as pessoas que passam pelo local
onde ele distribui a comida, não especificando se são as mesmas; E:
correta. André prepara a sopa com a ajuda de Mineiro.
Gabarito “D”
(UNIFAP) Dentre as alternativas abaixo, qual a
que melhor resume a atitude de André no texto em
estudo?
(A) “O comerciante André Faria, 49 anos, dono de
um bar em Campinas (SP), pulou da cama às 6 da
manhã, trabalhou o dia inteiro...
(B) “O homem miúdo, de cabelos grisalhos e olhos
azuis de um brilho intenso, aguarda sua outra fre-
guesia...
(C) André prepara uma grande panela de sopa para
10, 12 pessoas no inverno...
(D) “Basta conversar alguns minutos com André para
perceber que ele não faz isso para ‘parecer bon-
zinho’.
(E) “‘Não dá pra gente, que trabalha com comida,
negar um prato a quem tem fome’...
A única alternativa que resume de forma perfeita a atitude de vida
de André é a letra “E”, que mesmo após um dia de trabalho, sente-
-se feliz em distribuir comida a quem precisa. Resume também seu
pensamento, de que, principalmente as pessoas que trabalham no
ramo da alimentação, não têm como negar comida a quem não tem
o que comer.
Gabarito “E”
(UNIFAP) Pelo que sabemos, vivemos ou ouvimos fa-
lar, além de vir de longas datas, a distribuição de rendas
em nosso país é injusta, posto que, alguns têm muito,
outros o suficiente para sobreviver e, a maioria, não
têm nada ou quase nada.
Segundo o texto, que alternativa melhor se relaciona
a esta afirmação, levando-se em consideração o foco
principal do texto?
(A) “...André Faria, 49 anos, dono de um bar em
Campinas (SP),...
(B) “O homem miúdo, de cabelos grisalhos e olhos
azuis de um brilho intenso, aguarda sua outra fre-
guesia...
(C) “...há anos ele alimenta moradores de rua por sua
conta própria.
(D) “...distribui arroz, feijão e carne para quem passa
por ali...
Manual Completo de Português para Concursos 81
(E) “‘Tem gente que faz isso, mas não é o meu caso,
pois precisa ser muito frio.’”
O foco principal do texto é o fato de André alimentar moradores de
rua por conta própria, denotando que a distribuição de renda não é
paritária, tal qual afirma o enunciado da questão.
Gabarito “C”
Texto para as duas questões seguintes:
MULHERES MAIS FORTES QUE HOMENS?
Quando ficam doentes, os homens agem como be-
bês, dizem as mulheres. Mas talvez elas devessem
seguir o exemplo dos rapazes – isso poderia salvar-
-lhes a vida, explicam pesquisadores da Universidade
de Michigan. Quando as mulheres sofrem um enfarte,
têm mais probabilidade de adiar a busca por ajuda
médica e, depois, dificilmente tomam providências
para melhorar a saúde em geral. O motivo? As mulhe-
res são fortes demais; elas acham que seus problemas
simplesmente não têm muita importância. Quando
Steven Erickson e colaboradores perguntaram a 348
homens e 142 mulheres, que haviam sido internados
por causa de enfarte, sobre seus sintomas e a medica-
ção, descobriram que, embora as mulheres tivessem
tido mais sintomas e estivessem tomando mais remé-
dios, classificaram sua doença como menos grave do
que os homens.
J.R. O Globo, 2005.
(UNIFAP) Que argumento o autor utiliza para mostrar
que o enfarte, na mulher, é mais difícil de ser tratado
do que o enfarte no homem?
(A) Maior probabilidade de adiar a busca por ajuda
médica após o enfarte.
(B) O reconhecimento de que a mulher é mais resis-
tente que o homem, consequentemente, quando
acometida de enfarte, este é mais violento.
(C) A mulher, por ter mais desgaste físico com proble-
mas domésticos, está mais sujeita a enfarte fulmi-
nante.
(D) O enfarte na mulher se torna mais perigoso
porque ela não pode tomar qualquer tipo de
remédio.
(E) Por se pensar forte, a mulher acredita-se isenta de
enfarte.
Para o autor, o enfarte é mais difícil de ser tratado nas mulheres,
pois estas, por serem fortes, têm maior probabilidade de adiar a
busca pelo auxílio médico do que os homens, o que dificulta o
tratamento.
Gabarito “A
(UNIFAP) De acordo com o texto, podemos inferir
que o autor quer chamar a atenção para a
(A) maneira de agir das mulheres que, por se acredi-
tarem fortes, veem seus problemas de saúde sem
importância.
(B) maneira infantil de agir dos homens.
(C) pesquisa de Steven Erickson e colaboradores.
(D) superioridade, em termos de saúde, das mulheres
sobre os homens.
(E) doença das mulheres que é menos grave que a
doença dos homens.
De acordo com o texto, o autor quer chamar a atenção para a di-
ferença de reação frente às doenças por homens e mulheres, desta-
cando que estas, por se acharem fortes, consequentemente não dão
importância aos seus problemas de saúde. Por isso, não procuram
ajuda médica quando necessário no caso de enfarte.
Gabarito “A
Texto para as quatro questões seguintes.
TEXTO – DIAGNÓSTICO
O Globo, 15/10/2004
Em oito anos, o número de turistas no Rio de Janeiro
dobrou, enquanto os assaltos a turistas foram multipli-
cados por três, alcançando hoje a média de dez casos
por dia. Considerando a importância que o turismo
tem para a cidade – que anualmente recebe 5,7 mi-
lhões de visitantes de outros estados e do estrangeiro,
destes, aliás, quase 40% dos que chegam ao Brasil
têm como destino o Rio – é alarmante esse grau cres-
cente de insegurança.
Por maior que tenha sido a indignação manifestada
pelo governo federal, são números que reforçam o
alerta do Departamento de Estado americano a agên-
cias de turismo dos Estados Unidos, divulgado no iní-
cio do mês, a respeito do perigo que apresentam o Rio
e outras grandes cidades brasileiras.
Não é exagero classificar de urgente a tarefa de fazer
o turista se sentir mais seguro no Rio, considerando
que os visitantes movimentam 13% da economia da
cidade e que dentro de três anos teremos aqui o Pan.
Parte da solução é simples: reforçar o policiamento
ostensivo. A Secretaria de Segurança do Estado infor-
ma que há quase duas centenas de policiais patru-
lhando a orla, do Leblon ao Leme, mas não é o que se
vê – nem é o que percebem os assaltantes.
Muitos destes aliás, são menores de idade com que
o poder público simplesmente não sabe lidar, por
falta de ação integrada entre autoridades estaduais e
municipais, empenhadas num jogo de empurra sobre
a responsabilidade por tirá-los das ruas. O que lhes
confere uma percepção de impunidade que só faz
piorar a situação.
Impunidade é também a sensação que resulta do de-
ficiente trabalho de investigação policial: se não se
consegue impedir o crime, sua gravação pelas câme-
ras da orla de pouco serve, pois não há um esquema
eficaz de inteligência nem estrutura técnica adequada
para seguir pistas.
É fácil atribuir todos os problemas à falta de verbas.
Mas é mais justo falar em dinheiro mal aplicado. As
82 Henrique Subi
próprias autoridades anunciam fartos investimentos
em aparato tecnológico contra o crime; o retorno que
deveria produzir a aplicação eficiente desse dinheiro
seria o que não está acontecendo: a redução a níveis
mínimos dos assaltos a turistas.
(NCE-UFRJ) O título Diagnóstico se justifica porque
o texto:
(A) trata da insegurança como uma doença social;
(B) mostra as causas históricas da insegurança na ci-
dade do Rio;
(C) indica o conhecimento das causas de determina-
do fenômeno;
(D) aponta os remédios para uma doença observada;
(E) faz uma análise científica de um problema atual.
“Diagnóstico” significa identificação da natureza de um problema
pela interpretação de seus indícios ou sinais. O seu uso no título
baseia-se na pretensão do autor de apresentar as causas do problema
da violência contra turistas. Correta, portanto, a alternativa C.
Gabarito “C”
(NCE-UFRJ) “Em oito anos, o número de turistas no
Rio de Janeiro dobrou, enquanto os assaltos a turis-
tas foram multiplicados por três”; essa relação mostra
que:
(A) a insegurança aumenta quando se reduz o núme-
ro de turistas;
(B) o nº de turistas cresce, apesar dos assaltos;
(C) a redução do nº de turistas faz crescer a segurança;
(D) quanto mais aumentam os turistas, menos assaltos
ocorrem;
(E) os turistas aumentam na mesma proporção que os
assaltos.
A: incorreta. A insegurança aumenta conforme aumenta o número
de turistas; B: correta. Mesmo com a curva crescente de assaltos, os
turistas continuam vindo em maior número; C: incorreta. O número
de turistas aumentou, o que fez aumentar o número de assaltos e os
riscos à segurança; D: incorreta. A relação é inversa: quanto mais
turistas, mais assaltos; E: incorreta. Os assaltos crescem mais rápido
do que o aumento do número de turistas.
Gabarito “B”
(NCE-UFRJ) Entre os argumentos apresentados a favor
do trabalho das autoridades competentes para a segu-
rança policial do Rio de Janeiro, só NÃO está:
(A) instalação de câmeras na orla;
(B) falta de verbas;
(C) investimentos em aparato tecnológico;
(D) presença de policiais nas praias;
(E) policiamento ostensivo.
A: correta (penúltimo parágrafo); B: incorreta, devendo ser assinala-
da. O autor conclui dizendo que este argumento não é válido, por se
basear apenas no comodismo das autoridades; C: correta (último pa-
rágrafo); D: correta (terceiro parágrafo); E: correta (terceiro parágrafo).
Gabarito “B”
(NCE-UFRJ) “Por maior que tenha sido a indignação
manifestada pelo governo federal...”; tal indignação,
referida no primeiro parágrafo do texto, se dirige contra:
(A) a Secretaria de Segurança do Estado do Rio de
Janeiro;
(B) o Departamento de Estado americano;
(C) o grande número de assaltos a turistas no Rio;
(D) o despreparo da polícia carioca;
(E) a redução do número de turistas que se dirigem
ao Rio.
A indignação dirigiu-se contra o Departamento de Estado ameri-
cano, que aumentou o alerta emitido para as agências de turismo
daquele país para que informassem os clientes sobre os riscos de se
viajar ao Brasil.
Gabarito “B”
Paz como equilíbrio do movimento
1 Como definir a paz? Desde a antiguidade encontramos muitas
definições. Todas elas possuem suas
2 boas razões e também seus limites. Privilegiamos uma, por ser
extremamente sugestiva: a paz é o equilíbrio
3 do movimento. A felicidade desta definição reside no fato de
que se ajusta à lógica do universo e de todos
4 os processos biológicos. Tudo no universo é movimento, nada é
estático e feito uma vez por todas.
5 Viemos de uma primeira grande instabilidade e de um incomen-
surável caos. Tudo explodiu. E ao
6 expandir-se, o universo vai pondo ordem no caos. Por isso o
movimento de expansão é criativo e
7 generativo. Tudo tem a ver com tudo em todos os momentos e
em todas as circunstâncias. Essa afirmação
8 constitui a tese básica de toda a cosmologia contemporânea, da
física quântica e da biologia genética e
9 molecular.
10 Em razão da panrelacionalidade de tudo com tudo, o universo
não deve mais ser entendido como o
11 conjunto de todos os seres existentes e por existir, mas como o
jogo total, articulado e dinâmico, de todas as
12 relações que sustentam os seres e os mantém unidos e interde-
pendentes entre si.
13 A vida, as sociedades humanas e as biografias das pessoas se
caracterizam pelo movimento.
14 A vida nasceu do movimento da matéria que se auto-organiza; a
matéria nunca é “material”, mas um jogo
15 altamente interativo de energias e de dinamismos que fazem
surgir os mais diferentes seres. Não sem razão
16 asseveram alguns biólogos que, quando a matéria alcança deter-
minado nível de auto-organização, em
16 qualquer parte do universo, emerge a vida como imperativo cós-
mico, fruto do movimento de relações
18 presentes em todo o cosmos.
19 As coisas mantêm-se em movimento, por isso evoluem; elas ain-
da não acabaram de nascer. Mas o
20 caos jamais teria chegado a cosmos e a desordem primordial
jamais teria se transformado em ordem aberta
21 se não houvesse o equilíbrio. Este é tão importante quanto o
movimento. Movimento desordenado é
Manual Completo de Português para Concursos 83
22 destrutivo e produtor de entropia. Movimento com equilíbrio
produz sintropia e faz emergir o universo como
23 cosmos, vale dizer, como harmonia, ordem e beleza.
24 Que significa equilíbrio? Equilíbrio é a justa medida entre o mais
e o menos. O movimento possui
25 equilíbrio e assim expressa a situação de paz se ele se realizar
dentro da justa medida, não for nem
26 excessivo nem deficiente. Importa, então, sabermos o que sig-
nifica a justa medida.
27 A justa medida consiste na capacidade de usar potencialidades
naturais, sociais e pessoais de tal
28 forma que elas possam durar o mais possível e possam, sem
perda, se reproduzir. Isso só é possível,
29 quando se estabelece moderação e equilíbrio entre o mais e o
menos. A justa medida pressupõe realismo,
30 aceitação humilde dos limites e aproveitamento inteligente das
possibilidades. É este equilíbrio que garante
31 a sustentabilidade a todos os fenômenos e processos, à Terra, às
sociedades e à vida das pessoas.
32 O universo surgiu por causa de um equilíbrio extremamente su-
til. Após a grande explosão originária,
33 se a força de expansão fosse fraca demais, o universo colapsaria
sobre si mesmo. Se fosse forte demais, a
34 matéria cósmica não conseguiria adensar-se e formar assim gi-
gantescas estrelas vermelhas,
35 posteriormente, as galáxias, as estrelas, os sistemas planetários e
os seres singulares. Se não tivesse
36 funcionado esse refinadíssimo equilíbrio, nós humanos não es-
taríamos aqui para falar disso tudo.
37 Como alcançar essa justa medida e esse equilíbrio dinâmico? A
natureza do equilíbrio demanda
38 uma arte combinatória de muitos fatores e de muitas dimensões,
buscando a justa medida dentre todas
39 elas. Pretender derivar o equilíbrio de uma única instância é
situar-se numa posição sem equilíbrio. Por isso
40 não basta a razão crítica, não é suficiente a razão simbólica,
presente na religião e na espiritualidade, nem a
41 razão emocional, subjacente ao mundo dos valores e das signi-
ficações, nem o recurso da tradição, do bom
42 senso e da sabedoria dos povos.
43 Todas estas instâncias são importantes, mas nenhuma delas é
suficiente, por si só, para garantir o
44 equilíbrio. Este exige uma articulação de todas as dimensões e
todas as forças.
45 A partir destas ideias, temos condições de apreciar a excelência
da compreensão da paz como
46 equilíbrio do movimento. Se houvesse somente movimento sem
equilíbrio, movimento linear ou
47 desordenado, em todas as direções, imperaria o caos e teríamos
perdido a paz. Se houvesse apenas
48 equilíbrio sem movimento, sem abertura a novas relações, reina-
ria a estagnação e nada evoluiria. Seria a
49 paz dos túmulos. A manutenção sábia dos dois polos faz emergir
a paz dinâmica, feita e sempre por fazer,
50 aberta a novas incorporações e a sínteses criativas.
51 Consideradas sob a ótica da paz como equilíbrio do movimento,
as sociedades atuais são
52 profundamente destruidoras das condições da paz. Vivemos di-
lacerados por radicalismos, unilateralismos,
53 fundamentalismos e polarizações insensatas em quase todos os
campos. A concorrência na economia e no
53 mercado, feita princípio supremo, esmaga a cooperação neces-
sária para que todos os seres possam viver e
55 continuar a evoluir. O pensamento único da ideologia neolibe-
ral, levado a todos os quadrantes da terra,
56 destrói a diversidade cultural e espiritual dos povos. A imposi-
ção de uma única forma de produção, com a
57 utilização de um único tipo de técnica e de administração, ma-
ximizando os lucros, encurtando o tempo e
58 minimizando os investimentos, devasta os ecossistemas e coloca
sob risco o sistema vivo de Gaia. As
59 relações profundamente desiguais entre ricos e pobres, entre
Norte e Sul e entre religiões que se
60 consideram portadoras de revelação divina e outras religiões da
humanidade, reforçam a arrogância e
61 aumentam os conflitos religiosos. Todos estes fenômenos são
manifestações da destruição do equilíbrio do
62 movimento e, por isso, da paz tão ansiada por todos. Somente
fundando uma nova aliança entre todos e
63 com a natureza, inspirada na paz-equilíbrio-do-movimento
como método e como meta, conseguiremos
64 sociedades sem barbárie, onde a vida pode florescer e os seres
humanos podem viver no cuidado de uns
65 para com os outros, em justiça e, enfim, na paz perene, secu-
larmente ansiada.
BOFF, Leonardo. Paz como equilíbrio do movimento.
Disponível em: <http://www.leonardoboff.com/site/
vista/2001-2002/pazcomo.htm>.
Acesso em: 14 nov. 2012. (Adaptado).
(UEG) Defende-se no texto a ideia de que
(A) a vida surgiu a partir de um momento de estagna-
ção, de inércia da matéria.
(B) o universo deve ser entendido como o agrupa-
mento estático de todos os seres existentes.
(C) as coisas não são estáticas, fato que condiciona
sua evolução.
(D) a razão simbólica é suficiente, por si só, para ga-
rantir o equilíbrio do universo.
A: incorreta. O autor deixa claro sua concordância com a teoria do
“Big Bang” e de que a vida decorre do movimento gerado por essa
grande explosão; B: incorreta. A ideia de movimento permeia todo o
texto, inclusive nos argumentos de que ele que mantém o universo
em equilíbrio evolutivo; C: correta. Como o próprio autor sugere, se
não houvesse movimento, os destroços da grande explosão nunca
teriam evoluído até as formas mais avançadas de vida; D: incorreta.
O autor defende que, da mesma forma que as condições biológicas,
as relações humanas também dependem do equilíbrio entre diversas
ideologias, não podendo ele existir se albergado por uma só razão.
Gabarito “C”
84 Henrique Subi
(UEG) No sétimo parágrafo (linhas 27-31), tem-se a
ideia de que a justa medida
(A) consiste no uso consciente das potencialidades
naturais e sociais, de maneira a não esgotá-las.
(B) é uma possibilidade de rompimento entre o mais
e o menos, a fim de que o menos possa ser mais.
(C) deve ser entendida como a não aceitação e a su-
peração dos limites que cerceiam a existência.
(D) é insuficiente para instaurar o equilíbrio entre
as coisas e para manter a sustentabilidade no
planeta.
A: correta. O autor defende, com palavras diferentes, a ideia do
desenvolvimento sustentável, ou seja, o poder de usarmos dos re-
cursos naturais do planeta sem, contudo, extinguir suas fontes, para
que elas possam sempre sustentar a vida na Terra; B, C e D: incor-
retas. Todo o texto circunda a ideia de equilíbrio como a medida
necessária para impedir excessos. Essa medida seria encontrada no
meio-termo de todas as coisas e opiniões, ideologias e posturas, sem
radicalismos, sendo suficiente para, assim, fazer brotar a paz.
Gabarito “A
(UEG) No último parágrafo do texto (linhas 51-65), o
autor defende a ideia de que a paz, considerada como
equilíbrio do movimento,
(A) é fortalecida pelo pensamento neoliberal que pre-
domina em grande parte do mundo atual e que va-
loriza a diversidade cultural e espiritual dos povos.
(B) é nutrida por ricos e pobres, sendo reforçada pelas
diversas religiões do mundo, que buscam superar
as desigualdades, as arrogâncias e os conflitos.
(C) encontra-se realizada nas sociedades atuais, já
que a concorrência na economia e no mercado
propicia a cooperação necessária para a paz entre
os povos.
(D) encontra obstáculos nas sociedades atuais, que
destroem as condições de paz, desvalorizam a
cooperação e apresentam radicalismos e funda-
mentalismos em quase todos os campos.
A: incorreta. O autor é crítico da ideologia neoliberal, que considera
imperialista, no sentido de que avança sobre todos os países impon-
do sua suposta superioridade econômica, extirpando as diferenças
culturais; B: incorreta. O autor critica as religiões, porque fundadas
em radicalismos de fé, não sendo um caminho para o equilíbrio
como provam, segundo o autor, os conflitos religiosos ao redor do
mundo; C: incorreta. A livre concorrência, para o autor, cria uma
selvageria no mercado que promove o oposto ao equilíbrio, porque
não permite a cooperação entre as pessoas; D: correta. Esse seria o
grande problema social atual, gerador de todos os conflitos acompa-
nhados ao redor do globo.
Gabarito “D”
(UEG) No último parágrafo (linhas 51-65), o autor faz
uma referência implícita à “hipótese Gaia” ou “teoria
Gaia”, formulada por James Lovelock com o objeti-
vo de defender que a Terra seria um organismo vivo,
comportando-se como tal. Ao fazer isso, o autor es-
tabelece entre seu texto e as ideias de Lovelock uma
relação
(A) paródica
(B) sarcástica
(C) metatextual
(D) intertextual
A característica na qual dois textos se entrelaçam, um mencionando
o outro, cujo conhecimento é obrigatório para a plena compreensão
da mensagem, chama-se intertextualidade.
Gabarito “D”
Um problema básico – descentralizar a Justiça
Hélio Bicudo, vice-prefeito de São Paulo, destacou-
-se pela sua participação, durante longos anos,
como um dos membros da Pontifícia Comissão de
Justiça e Paz, defendendo aqueles que eram per-
seguidos pelo regime militar. Nessa atividade, sua
preocupação principal era a de encontrar soluções
práticas e concretas para as questões que afligiam
os brasileiros que enfrentavam dificuldades em re-
correr à Justiça, a fim de postularem seus direitos.
É bem conhecida, por exemplo, sua luta – como
membro do Ministério Público e como jornalista –
contra o Esquadrão da Morte.
O depoimento de Hélio Bicudo foi colhido por es-
tudos avançados no dia 12 de maio. Cabe destacar
ainda a participação, nesta entrevista, do advogado
Luís Francisco Carvalho Filho, que milita na imprensa
e se dedica especialmente a questões relacionadas à
Justiça.
Luís Francisco Carvalho Filho – Hélio Bicudo, em sua
opinião, como devem ser resolvidos os problemas do
acesso à Justiça brasileira e de sua eficiência?
Hélio Bicudo – O problema do acesso à Justiça é uma
questão fundamental quando se deseja promover uma
reforma do Poder Judiciário. É importante salientar
que essa é uma reforma que não necessita de altera-
ções no texto constitucional. Acredito que os próprios
Poderes Judiciários dos Estados poderiam adotar de-
terminadas medidas, até mesmo administrativas, para
diminuir a distância entre o cidadão e o juiz. Penso
nisso há muito tempo. Quando trabalhei com o gover-
nador Carvalho Pinto, de 1959 a 1962, conseguimos
sensibilizar o Tribunal de Justiça de São Paulo para a
realização de uma reforma mais ou menos desse tipo.
O que acontece hoje – e que acontecia naquela épo-
ca – é que o Poder Judiciário está localizado na região
central da cidade. É o caso, por exemplo, do Fórum
Criminal, que tem cerca de sessenta Varas Criminais.
Para se ouvir uma testemunha que, por exemplo, mora
em Parelheiros, temos de trazê-la até o Centro, o que é
um problema complicado.
Além disso, temos a maneira pela qual se desenvolve
o processo. Por exemplo, o juiz que recebe a denúncia
não é o mesmo que interroga, não é o mesmo que
ouve as testemunhas, não é o que examina a prova.
Manual Completo de Português para Concursos 85
No final, é um quarto ou um quinto juiz que decide, a
partir de um documento inserido no papelório. Sem-
pre acreditei que, para diminuir a distância entre o juiz
e o cidadão, é preciso descentralizar o Poder Judiciá-
rio. Ora, se em São Paulo há cerca de cem delegacias
policiais distritais, por que não se pode ter também
250 ou trezentos juizados?
(FGV) “Hélio Bicudo, em sua opinião, como devem
ser resolvidos os problemas do acesso à Justiça brasi-
leira e de sua eficiência?”.
Na pergunta do entrevistador há uma série de dados
implícitos; assinale a afirmativa que não pode ser in-
ferida da pergunta feita pelo jornalista.
(A) a opinião do entrevistado é importante para o tra-
balho do jornalista.
(B) a intenção do jornalista é mostrar certa formalida-
de na entrevista.
(C) o entrevistador considera que há problemas no
acesso à justiça no Brasil.
(D) o jornalista acha que a justiça brasileira carece de
mais eficiência.
(E) o jornalista considera que ele e o entrevista-
do possuem opiniões semelhantes em alguns
pontos.
A: correta. Mais do que inferido, esse ponto está expresso na per-
gunta elaborada. A opinião do entrevistado é o principal foco do
jornalista; B: incorreta, devendo ser assinalada. Não há qualquer
traço de formalidade na questão. Ao contrário, foram usadas pala-
vras cotidianas e o entrevistado é chamado diretamente pelo nome,
sem qualquer pronome de tratamento que o anteceda; C: correta. Ao
perguntar quais seriam as soluções para os problemas mencionados,
fica claro que o entrevistador entende que eles existem; D: correta,
porque menciona que há problemas de eficiência no Poder Judiciá-
rio que podem ser resolvidos; E: correta. A pergunta denota que o
entrevistador acredita que o entrevistado também vê problemas no
acesso à Justiça e na eficiência do Poder Judiciário e pode sugerir
soluções para a melhora nesse serviço.
Gabarito “B”
(FGV) A entrevista é precedida de um pequeno texto
cuja finalidade é
(A) apresentar o entrevistado aos leitores que não o
conhecem.
(B) dar autoridade às opiniões emitidas pelo entrevis-
tado.
(C) acrescentar credibilidade às respostas do entrevis-
tado.
(D) adicionar qualidade ao trabalho realizado pelo
jornalista.
(E) demonstrar o valor político da atuação do entre-
vistado.
O texto inicial tem como mote a atuação politica do entrevistado du-
rante sua carreira pública, dando ênfase às necessidades das classes
menos favorecidas da população.
Gabarito “E”
(FGV) Observe a charge abaixo com atenção:
Em relação à mensagem da charge, assinale a afirma-
tiva que não é coerente.
(A) A circunstância de a charge trazer na parte supe-
rior o termo “Insegurança nacional...” já indica o
conteúdo crítico em relação às políticas de segu-
rança.
(B) Na fala do cidadão, a presença de reticências
indica as pausas características de vacilação da
língua falada.
(C) O fato de a polícia auxiliar o cidadão com uma
oração representa a ausência absoluta de as auto-
ridades lhe providenciarem segurança.
(D) Na verdade, entre as duas falas atribuídas à polí-
cia há uma contradição evidente.
(E) Estar o cidadão a pé e apelar para um orelhão em
lugar de utilizar um celular são marcas de já ter
sido ele vítima de um assalto anterior.
A: correta. O próprio título da charge já demonstra o crítica que
nela está contida; B: correta. Realmente essa é a função exercida
pelas reticências no texto; C: correta. A crítica exposta na charge é a
falta de aparelhamento da polícia, que nada pode fazer de concreto
para auxiliar o cidadão amedrontado; D: correta. O cidadão pede
uma providência da polícia, que afirma que poderá tomá-la, ao que
interlocutor é surpreendido com a total impossibilidade de a polícia
ajudá-lo – dado que o policial simplesmente começa a rezar; E: in-
correta, devendo ser assinalada. Não há qualquer dado no texto que
autoriza essa ilação.
Gabarito “E”
Sofrimento psíquico em policiais civis: uma questão
de gênero
Apesar de concebida pelo senso comum como uma
instituição predominantemente masculina, a Polícia
Civil do Estado do Rio de Janeiro admite também
mulheres entre seus servidores. Em suas atividades
86 Henrique Subi
diárias, elas relatam enfrentar dificuldades, frustra-
ções e cobranças. Um estudo realizado pelo Centro
Latino-americano de Estudos de Violência e Saúde
(Claves), vinculado à Escola Nacional de Saúde Pú-
blica Sergio Arouca (Ensp), uma unidade da Fiocruz,
questionou 2.746 policiais, dos quais cerca de 19%
eram mulheres, e descobriu que elas apresentam mais
sofrimento psíquico que seus colegas de trabalho.
“Sofrimento psíquico é um conjunto de condições
psicológicas que, apesar de não caracterizar uma
doença, gera determinados sinais e sintomas que
indicam sofrimento” explica a psicóloga Edinilsa Ra-
mos de Souza, coordenadora do projeto. O problema
pode ser causado por diversos fatores, inclusive as
condições de trabalho, como falta de instalações ade-
quadas, estresse e falta de preparo para a função. “No
dia a dia, o policial precisa continuar com o seu tra-
balho e não pode demonstrar fragilidade”, acrescenta.
“Isso aumenta o sofrimento e, muitas vezes, faz com
que o profissional somatize as questões psicológicas
em problemas de saúde, como pressão alta, insônia e
dores de cabeça”.
(Catarina Chagas)
(FGV)Apesar de concebida pelo senso comum como
uma instituição predominantemente masculina, a Po-
lícia Civil do Estado do Rio de Janeiro admite também
mulheres entre seus servidores”.
A maneira de reescrever-se essa frase do texto que al-
tera o seu sentido original é:
(A) Embora concebida pelo senso comum como uma
instituição predominantemente masculina, a Polí-
cia Civil do Estado do Rio de Janeiro admite tam-
bém mulheres entre seus servidores.
(B) A Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro admi-
te também mulheres entre seus servidores, ainda
que seja concebida pelo senso comum como uma
instituição predominantemente masculina.
(C) Conquanto concebida pelo senso comum como
uma instituição predominantemente masculina, a
Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro admite
também mulheres entre seus servidores.
(D) Apesar de admitir mulheres entre seus servidores,
também a Polícia Civil do Estado do Rio de Ja-
neiro é concebida pelo senso comum como uma
instituição predominantemente masculina.
(E) Mesmo que admita também mulheres entre seus
servidores, a Polícia Civil do Estado do Rio de Ja-
neiro é concebida pelo senso comum como uma
instituição predominantemente masculina.
A única redação que altera o sentido original do texto é a exposta na
alternativa “D”, consistente no deslocamento do advérbio também.
No trecho original, ele transmite a ideia de que há mulheres ao lado
dos homens na Polícia Civil. Ao ser deslocado, passou a referir-se
não só à Polícia Civil, ou seja, dá a entender que há outras institui-
ções de segurança pública que são concebidas pelo senso comum
como predominantemente masculinas.
Gabarito “D”
(FGV) O título e o texto informam ao leitor que o so-
frimento psíquico entre policiais é uma questão de
gênero, ou seja,
(A) atinge os policiais em geral de diferentes formas.
(B) está mais presente entre as mulheres que entre os
homens.
(C) trata-se mais de uma questão psicológica do que
física.
(D) apresenta relações com a maior fragilidade das
mulheres.
(E) mostra relações com o despreparo das mulheres
para a função policial.
“Gênero”, no texto, é utilizado no sentido de “diferença de sexo»:
gênero masculino e gênero feminino. Logo, «ser uma questão de
gênero» refere-se a algo que é diferente para os homens e para as
mulheres. No caso, o sofrimento psíquico, que é mais comum no
universo feminino. Gabarito «B»
Gabarito “B”
(FGV) “Um estudo realizado pelo Centro Latino-
-americano de Estudos de Violência e Saúde (Claves),
vinculado à Escola Nacional de Saúde Pública Sergio
Arouca (Ensp), uma unidade da Fiocruz, questionou
2.746 policiais, dos quais cerca de 19% eram mulhe-
res, e descobriu que elas apresentam mais sofrimento
psíquico que seus colegas de trabalho”.
Com relação aos constituintes desse segmento do tex-
to, assinale a alternativa que mostra um comentário
inadequado.
(A) Os adjetivos “realizado” e “vinculado” se pren-
dem ao substantivo “estudo”.
(B) A expressão “cerca de” se refere a uma quantida-
de aproximada.
(C) As duas palavras colocadas entre parênteses são
siglas dos nomes anteriores.
(D) A informação de o estudo citado estar ligado à
Fiocruz dá autoridade ao texto.
(E) Para evitar polissemia, a forma “questionou” po-
deria ser substituída por “entrevistou”.
A: incorreta, devendo ser assinalada. O adjetivo “vinculado” refere-
-se ao Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde; B:
correta. Esse é justamente o significado da expressão, sinônima de
«aproximadamente»; C: correta. Note que as palavras entre parênte-
ses são formadas com as iniciais dos institutos que as precedem; D:
correta. A Fiocruz é uma importante instituição nacional voltada â
saúde pública; E: correta. «Questionar» pode significar «perguntar»,
como no texto, ou “duvidar”, o que poderia causar confusão no leitor.
Gabarito “A
(FGV) “Isso aumenta o sofrimento e, muitas vezes, faz
com que o profissional somatize as questões psico-
lógicas em problemas de saúde, como pressão alta,
insônia e dores de cabeça”. O termo sublinhado sig-
nifica que o profissional
(A) prioriza as questões psicológicas em relação às de
saúde física.
(B) transforma algo em doenças do corpo.
Manual Completo de Português para Concursos 87
(C) considera as questões psicológicas como proble-
mas de saúde.
(D) identifica as questões de saúde como problemas
psicológicos.
(E) acrescenta problemas psicológicos aos de saúde.
“Somatizar” significa transformar um problema emocional ou psico-
lógico em um mal físico, corporal.
Gabarito “B”
(FGV) A manchete do jornal, trazia a seguinte frase:
Rocinha ganha UPP de 700 PMs e 100 câmeras
(O Globo, de 21/09/2012)
Com relação à frase da manchete, assinale a afirmati-
va que traz uma observação inadequada.
(A) Como nas manchetes em geral, mesmo se tratan-
do de um fato passado, a forma verbal empregada
está no presente.
(B) As referências presentes na manchete contam
com o conhecimento de mundo dos leitores para
que a comunicação se realize.
(C) Por tratar-se de um tipo de texto em que a brevi-
dade é essencial, há a presença de algumas siglas
na manchete.
(D) As quantificações informadas atuam como mar-
cas de grandiosidade do projeto de segurança.
(E) A mesma forma de indicação de plural em PMs
deveria ter sido empregada em UPP.
A: correta. Esse é um recurso muito comum do texto jornalístico; B:
correta. É necessário conhecer previamente a politica das Unidades
de Policia Pacificadora do Governo do Estado do Rio de Janeiro para
interpretar corretamente a manchete; C: correta. A manchete jorna-
lística deve transmitir sua mensagem em pouco espaço, daí porque
o uso de siglas; D: correta. Essa é a ideia que o jornalista quer trans-
mitir com sua manchete; E: incorreta, devendo ser assinalada. No
texto, UPP está no singular, portanto não deve receber qualquer «s»
indicativo de plural.
Gabarito “E”
(FGV) Observe o material fotográfico a seguir, perten-
cente a uma campanha sobre a violência contra as
mulheres.
Homens pelo fim da violência contra as mulheres
Sobre os elementos presentes na mensagem e na foto
acima, assinale a afirmativa adequada.
(A) A mão à esquerda do cartaz representa um pedi-
do de ajuda à polícia.
(B) O fato de o homem representado ser um negro
mostra que a violência é predominante entre esse
segmento de nossa população.
(C) O ato de o homem representado estar com o
olhar voltado para o observador da foto mostra
a tentativa de condenação da indiferença diante
dessa violência.
(D) O homem presente no cartaz funciona como re-
presentante do mote da campanha expresso nas
palavras na parte superior da foto.
(E) A mensagem na parte superior da foto faz supor
que os homens só condenam a violência contra
as mulheres.
A única afirmação que pode ser extraída da campanha é a constante
da alternativa “D”. O homem ilustra a mensagem transmitida, de que
eles mesmos estão reconhecendo a necessidade e pedindo o fim da
violência contra as mulheres.
Gabarito “D”
É voz corrente que a humanidade está vivendo um
momento de crise. A excessiva exaltação dos objeti-
vos econômicos, com a eleição dos índices de cres-
cimento como o padrão de sucesso ou fracasso dos
governos, estimulou a valorização exagerada da bus-
ca de bens materiais.
Isso foi agravado pela utilização dos avanços tecno-
lógicos para estimular o consumismo e apresentar
maliciosamente a posse de bens materiais supérfluos
como padrão de sucesso individual. A consequên-
cia última desse processo foi a implantação do ma-
terialismo e do egoísmo na convivência humana,
sufocando-se os valores espirituais, a ética e a so-
lidariedade.
Dalmo Dallari. Internet: <dhnet.org.br/direitos/sos/
discrim/preconceito/policiais.html>.
(CESPE) Assinale a opção que não está de acordo com
as ideias do texto acima.
(A) A crise que a humanidade está vivendo envolve
o abafamento de valores espirituais, da ética e da
solidariedade.
(B) A busca de bens materiais provém da excessiva
valorização dos índices de crescimento como pa-
drão de sucesso das nações.
(C) O consumismo foi estimulado por meio dos avan-
ços tecnológicos que apresentam os bens mate-
riais como forma de sucesso individual.
(D) O processo de valorização exagerada dos bens
materiais atenua a manifestação do egoísmo na
convivência entre as pessoas.
A única alternativa que não está de acordo com o disposto no texto
é a letra “D”, que deve ser assinalada. Com efeito, o texto exalta
justamente o contrário: que a valorização da posse de bens materiais
é responsável pelo surgimento do egoísmo na sociedade.
Gabarito “D”
(CESPE) A dimensão social da democracia marcou o
primeiro grande salto na conceituação dos direitos
humanos. A afirmação dos direitos sociais surgiu da
88 Henrique Subi
constatação da fragilidade dos direitos liberais, no sen-
tido de que o homem, a favor do qual se proclamavam
liberdades políticas, não satisfez ainda necessidades
primárias: alimentar-se, vestir-se, morar, ter condições
de saúde, ter segurança diante da doença, da velhice,
do desemprego e de outros percalços da vida.
Idem, ibidem (com adaptações).
Assinale a opção que está de acordo com as ideias do
texto acima.
(A) Do primeiro salto na definição dos direitos huma-
nos decorre o caráter social da democracia.
(B) A fragilidade dos direitos liberais constitui a di-
mensão social da democracia.
(C) A afirmação dos direitos sociais proveio da cons-
tatação de que o homem, para o qual se propu-
nha o direito à liberdade, ainda não havia con-
quistado suas necessidades primárias.
(D) Alimentar-se, vestir-se, morar, ter saúde, ter seguran-
ça diante dos percalços da vida foram os primeiros
direitos humanos a serem requeridos na história.
A: incorreta. O caráter social da democracia não é a causa do pri-
meiro salto na definição dos direitos humanos, mas sua principal
característica; B: incorreta, pois, segundo o autor do texto, a fra-
gilidade dos direitos liberais foi a causa da afirmação dos direitos
sociais, não sendo sinônimos; C: correta, uma vez que o autor expõe
a contraposição dos direitos liberais e dos direitos sociais, pois este
nasceram da insuficiência daqueles; D: incorreta. O autor define os
direitos sociais como o “primeiro grande salto na conceituação dos
direitos humanos”, deixando claro que estes já eram reconhecidos,
mas não ainda em sua completa extensão. “Salto”, no texto, tem o
sentido de “avanço”.
Gabarito “C”
Texto para a questão seguinte.
As mudanças e transformações globais nas estruturas
políticas e econômicas no mundo contemporâneo
colocam em relevo as questões de identidade e as
lutas pela afirmação e manutenção das identidades
nacionais e étnicas. Mesmo que o passado que as
identidades atuais reconstroem seja, sempre, apenas
imaginado, ele proporciona alguma certeza em um
clima que é de mudança, fluidez e crescente incer-
teza. As identidades em conflito estão localizadas no
interior de mudanças sociais, políticas e econômicas,
mudanças para as quais elas contribuem.
Tomaz Tadeu da Silva (Org.). Stuart Hall e Kathryn
Woodward. Identidade e diferença — A perspectiva
dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2004, p. 24-5
(com adaptações).
(CESPE) A argumentação textual se apoia na ideia de
que
(A) as transformações globais decorrem de conflitos
de identidades nacionais e étnicas.
(B) as lutas pela afirmação e manutenção das estrutu-
ras globais são necessárias.
(C) as identidades atuais padecem de incerteza por-
que são apenas imaginadas.
(D) as identidades não são fixas e integram as mudan-
ças sociais e políticas.
(E) as lutas pelas transformações sociais são o confli-
to de identidades.
A: incorreta. Segundo o autor do texto, aumenta-se a atenção sobre as
identidades nacionais e étnicas por conta das transformações, não o con-
trário; B: incorreta, pois o autor em momento algum destaca a necessida-
de de conflitos; C: incorreta. O argumento esposado é de que o passado
no qual se fundam as identidades atuais é imaginado, mas mesmo assim
é um horizonte fixo em tempos de incerteza; D: correta, sendo um resu-
mo da ideia geral proposta no texto. As identidades nacionais mudam
com o tempo, visto que o passado é sempre imaginado, e contribuem
para as mudanças sociais e políticas; E: incorreta. O autor não coloca os
eventos como sinônimos, mas sim como complementares.
Gabarito “D”
1As mudanças na economia global têm produzido
uma dispersão das demandas ao redor do mundo. Isso ocorre
não apenas em termos de bens e serviços, mas também de
4mercados de trabalho. A migração dos trabalhadores não é,
obviamente, nova, mas a globalização está estreitamente
associada à aceleração da migração. E a migração produz
7identidades plurais, mas também identidades contestadas,
em um processo que é caracterizado por grandes
desigualdades em termos de desenvolvimento. Nesse
10 processo, o fator de expulsão dos países pobres é mais forte
que o fator de atração das sociedades pós-industriais e
tecnologicamente avançadas.
Idem, ibidem, p. 21 (com adaptações).
(CESPE) Assinale a opção correspondente a relação
de causa e efeito que se depreende da argumentação
do texto acima.
(A) A migração dos trabalhadores tem como causa a
aceleração dos movimentos de globalização.
(B) A formação de identidades plurais provoca mais
resistência dos trabalhadores às mudanças na
economia global.
(C) A migração gera desigualdade de desenvolvimen-
to e confronto entre países pobres e ricos.
(D) A dispersão das demandas ao redor do mundo
acelera a migração e a constituição de identida-
des plurais.
(E) A atração que sociedades tecnologicamente
avançadas exercem sobre os migrantes acarreta
a expulsão de trabalhadores dos países pobres.
O autor do texto argumenta que as mudanças na economia são um
fator de aceleração na migração de mão de obra. Atesta que ela (a
migração) aconteceria de qualquer maneira, mas não na velocidade
permitida pela globalização. Aduz, ainda, que a miscigenação de
culturas cria identidades plurais e, ao mesmo tempo, desequilíbrio
de desenvolvimento, porque os países pobres tendem a exportar
mais trabalhadores do que os países ricos conseguem absorver. A
única alternativa que resume perfeitamente a ideia é a “D”.
Gabarito “D”
Manual Completo de Português para Concursos 89
TEXTO 1
Uma língua, múltiplos falares
No Brasil, convivemos não somente com várias lín-
guas que resistem, mas também com vários jeitos
de falar. Os mais desavisados podem pensar que os
mineiros, por exemplo, preferem abandonar algumas
palavras no meio do caminho quando perguntam
“ôndôtô?” ao invés de “onde eu estou?”. Igualmente
famosos são os “s” dos cariocas ou o “oxente” dos
baianos. Esses sotaques ou modos de falar resultam
da interação da língua com uma realidade específica,
com outras línguas e seus falantes.
Todas as línguas são em si um discurso sobre o indiví-
duo que fala, elas o identificam. A língua que eu uso
para dizer quem eu sou já fala sobre mim; é, portanto,
um instrumento de afirmação da identidade.
Desde suas origens, o Brasil tem uma língua dividi-
da em falares diversos. Mesmo antes da chegada dos
portugueses, o território brasileiro já era multilíngue.
Estimativas de especialistas indicam a presença de
cerca de mil e duzentas línguas faladas pelos povos
indígenas. O português trazido pelo colonizador tam-
pouco era uma língua homogênea. Havia variações,
dependendo da região de Portugal de onde ele vinha.
Há de se considerar também que a chegada de falan-
tes de português acontece em diferentes etapas, em
momentos históricos específicos. Na cidade de São
Paulo, por exemplo, temos primeiramente o encontro
linguístico de portugueses com índios e, além dos ne-
gros da África, vieram italianos, japoneses, alemães,
árabes, todos com suas línguas. Daí que na mesma
São Paulo podem-se encontrar modos de falar dis-
tintos, como o de Adoniram Barbosa, que eternizou
em suas composições o sotaque típico de um filho
de imigrantes italianos, ou o chamado erre retroflexo,
aquele erre dobrado que, junto com a letra i, resulta
naquele jeito de falar “cairne” e “poirta” característico
do interior de São Paulo.
Independentemente dessas peculiaridades no uso da
língua, o português, no imaginário, une. Na verdade,
a construção das identidades nacionais modernas
se baseou num imaginário de unidade linguística. É
daí que surge o conceito de língua nacional, língua
da nação, que pretensamente une a todos sob uma
mesma cultura. Esta unidade se constitui a partir de
instrumentos muito particulares, como gramáticas e
dicionários, e de instituições como a escola. No Brasil,
hoje, o português é a língua oficial e também a língua
materna da maioria dos brasileiros. Entretanto, nem
sempre foi assim.
Patrícia Mariuzzo.Disponível em: http://www.labjor.
unicamp.br/patrimonio/materia.php?id=219.
Acesso em 09/05/2012. Excerto adaptado.
(PIAUÍ) Desde o título, o leitor do Texto 1 tem ele-
mentos para antecipar que ele trata:
(A) da importância da língua portuguesa como instru-
mento de afirmação da identidade.
(B) da herança linguística deixada por diferentes po-
vos na cidade de São Paulo.
(C) de como a língua portuguesa, como qualquer ou-
tra língua, apresenta variedades.
(D) do forte sotaque que caracteriza falantes de algu-
mas regiões, como o do mineiro.
(E) da diversidade de povos indígenas que habitavam
o Brasil antes da colonização.
O texto trabalha a ideia central de que, mesmo sendo um único
idioma, os regionalismos transformam a Língua Portuguesa em uma
grande diversidade de sons, como todas as demais línguas vivas. O
candidato deve ter cuidado com questões desse tipo, porque todas
as alternativas apresentam ideias que, umas mais, outras menos di-
retamente, estão expostas no texto, mas não representam o tema, a
ideia central discutida.
Gabarito “C”
(PIAUÍ) O conteúdo global do Texto 1 pode ser sinte-
tizado pelas seguintes palavras-chave:
(A) Brasil; sotaques; índios.
(B) língua portuguesa; falares; variedades.
(C) colonização; sotaques; portugueses.
(D) português; índios; negros.
(E) língua portuguesa; Brasil; São Paulo.
Palavras-chave são aquelas que têm o condão de resumir as princi-
pais ideias do texto. Nesse caso, poderíamos elencá-las como “lín-
gua portuguesa”, “falares” e “variedades”. Mais uma vez, atente para
o fato de que todas as palavras sugeridas relacionam-se com o texto,
porém devemos procurar aqueles que se ligam ao seu núcleo.
Gabarito “B”
(PIAUÍ) Analise as informações apresentadas a seguir.
1) Foi a partir da chegada dos portugueses ao Brasil
que o nosso país passou a caracterizar-se como
um país multilíngue.
2) Um dos fatores que contribuíram para a multipli-
cidade de falares no Brasil foi a vinda de falantes
de português em diferentes momentos históricos.
3) A heterogeneidade de falares é uma característica
do português brasileiro, uma vez que os portu-
gueses falavam uma língua bastante homogênea
quando aqui chegaram.
4) Além da escola, alguns instrumentos, como
gramáticas e dicionários, contribuem para que
nós, brasileiros, imaginemos que temos unida-
de linguística.
Estão em consonância com o Texto 1 as informações:
(A) 2 e 4, apenas.
(B) 1 e 3, apenas.
(C) 2, 3 e 4, apenas.
(D) 1 e 4, apenas.
(E) 1, 2, 3 e 4.
90 Henrique Subi
1: incorreta. A autora destaca no terceiro parágrafo que o Brasil já
era multilíngue antes da chegada dos portugueses; 2: correta, con-
forme exposto no começo do quarto parágrafo; 3: incorreta. A autora
afirma que o português de Portugal também já não era homogêneo
no fim do terceiro parágrafo; 4: correta. Esse argumento é apresenta-
do no último parágrafo.
Gabarito “A
(PIAUÍ) “No Brasil, hoje, o português é a língua ofi-
cial e também a língua materna da maioria dos bra-
sileiros.” Sobre esse trecho, analise as proposições a
seguir.
1) Claramente, a afirmação que nele se faz está loca-
lizada espacialmente.
2) As expressões “língua oficial” e “língua materna”
são dadas como sinônimas.
3) Ele autoriza o leitor a concluir que, no Brasil, nem
todos os habitantes falam português.
4) Há marcas explícitas de localização temporal.
Estão corretas:
(A) 2, 3 e 4, apenas.
(B) 1, 2 e 4, apenas.
(C) 1, 3 e 4, apenas.
(D) 2 e 3, apenas.
(E) 1, 2, 3 e 4.
1: correta. A localização da informação no espaço está expressa pelo
adjunto adverbial de lugar “No Brasil”; 2: incorreta. Ao mencionar
ambas as expressões vinculadas pela conjunção “e”, a autora denota
que cada uma tem seu significado próprio; 3: correta, porque o por-
tuguês é atribuído como língua materna “da maioria dos brasileiros”,
ou seja, não todos; 4: correta. A localização da informação no tempo
está expressa pelo adjunto adverbial de tempo “hoje”.
Gabarito “C”
(PIAUÍ) “Estimativas de especialistas indicam a pre-
sença de cerca de mil e duzentas línguas faladas pelos
povos indígenas.” O sentido global desse trecho está
mantido em:
(A) Especialistas têm a expectativa de que os povos de
origem indígena sejam perto de mil e duzentos.
(B) A previsão de especialistas é estimada em mais de
mil e duzentas línguas indígenas faladas.
(C) As mil e duzentas línguas faladas pelos povos in-
dígenas foram contadas por especialistas.
(D) Havia aproximadamente mil e duzentas línguas
faladas pelos índios, calculam os especialistas.
(E) A presença de especialistas entre os povos indí-
genas indica que estes falavam perto de mil e du-
zentas línguas.
A: incorreta. A alternativa confunde a informação da quantidade de
línguas indígenas com a quantidade de povos indígenas. Pode ha-
ver povos com mais de uma língua ou mais de um povo que fale a
mesma língua; B: incorreta. “Línguas faladas pelos povos indígenas”
não é a mesma coisa que “línguas indígenas faladas”, porque essas
últimas transmitem a ideia de que podem não ser faladas pelos po-
vos indígenas; C: incorreta. Trata-se de uma estimativa, portanto não
houve uma contagem precisa das línguas; D: correta. A alternativa
parafraseia o enunciado com perfeição; E: incorreta. O substantivo
“presença” foi deslocado de forma a alterar o sentido da oração. O
enunciado não diz que os especialistas estavam presentes, mas sim
que existiam cerca de mil e duzentas línguas indígenas.
Gabarito “D”
TEXTO 2
Imagem disponível em: descomplicandoared.blogspot.com.
Acesso em 09/05/2012.
(PIAUÍ) O Texto 2 pode ser utilizado para ilustrar a
seguinte informação do Texto 1:
(A) “Igualmente famosos são os “s” dos cariocas ou o
“oxente” dos baianos.
(B) “Esses modos de falar resultam da interação da
língua com uma realidade específica.
(C) “Daí que na mesma São Paulo podem-se encon-
trar modos de falar distintos”.
(D) “O português é a língua oficial e também a língua
materna da maioria dos brasileiros. Entretanto,
nem sempre foi assim.
(E) A construção das identidades nacionais moder-
nas se baseou num imaginário de unidade lin-
guística.
A: incorreta. As personagens da charge são um gaúcho e um mi-
neiro, portanto não ilustram o carioca e o baiano mencionados
na alternativa; B: correta. O texto 2 demonstra, de forma lúdica, a
diversidade linguística das diferentes regiões do país, baseada nas
características culturais peculiares de cada uma; C: incorreta. Não
há qualquer referência no texto 2 de que as personagens estejam em
São Paulo; D: incorreta. O texto 2 não se refere às línguas diferentes
do português; E: incorreta. A charge é mais superficial que o texto
1, não avançando sobre a questão da suposta unidade linguística
nacional.
Gabarito “B”
Manual Completo de Português para Concursos 91
Texto para as duas questões seguintes.
Triste Europa
1 Um Estado pode prender e expulsar um menor
desacompanhado só porque ele é estrangeiro e não possui os
documentos que o próprio Estado não quis lhe conceder? E,
na mesma situação, os idosos, as grávidas e os portadores de
5 deficiência? E os que, no país de origem, foram vítimas de
tortura, estupro ou outras formas graves de violência?
Pois a nova norma sobre “o regresso de nacionais de
terceiros países em situação irregular”, recentemente
aprovada pelo Parlamento Europeu, não apenas permite que
10 um país o faça como estende uma tenebrosa concepção
jurídica da imigração aos Estados-membros da União
Europeia.
Tanto essa diretiva como as leis de certos países que a
inspiraram são incompatíveis com as Constituições nacionais
15 dos Estados-membros. São ilegais em relação ao direito
internacional dos direitos humanos, arduamente tecidos após
a Segunda Guerra Mundial. E colidem com o próprio direito
regional – especialmente a Carta dos Direitos Fundamentais
da UE (Nice, 2000) e a Convenção Europeia dos Direitos
20 Humanos (Roma, 1950).
De ardilosa redação, a norma, a um só tempo, refere os
direitos humanos e institucionaliza sua violação sistemática.
Uma alínea assegura um direito, enquanto outra mais adiante
o condiciona ou lhe rouba o sentido.
25 Sob o pretexto de organizar a expulsão, batizada de
“afastamento”, o estrangeiro pode ser detido por até 18
meses. As condições de detenção e expulsão são
inaceitáveis: em princípio, há espaços isolados denominados
“centros de retenção” (os que já existem lembram campos de
30 concentração). Porém, havendo um número
“excepcionalmente elevado” de estrangeiros, estes podem ser
mesclados aos presos comuns, e as famílias podem ser
separadas.
Acompanha a expulsão uma “interdição de entrada” em
35 todo o território coberto pela diretiva, que pode durar cinco
anos ou até se prolongar indefinidamente. Num processo apto
a resultar em tão graves consequências, o Estado pode
considerar desnecessária a tradução dos documentos, desde
que “se possa razoavelmente supor” que o estrangeiro os
40 compreenda.
Ademais, as informações sobre as razões de fato da
expulsão podem ser limitadas, para salvaguardar, entre outros,
a segurança nacional.
Infelizmente, a comunidade internacional não exagerou ao
45 apelidá-la de “Diretiva da Vergonha”. Ela constitui uma derrota
mais grave do que o fracasso da Constituição Europeia ou do
Tratado de Lisboa, recentemente recusados por referendos
populares.
Concluída a fusão dos mercados, em vez de rumar para a
50 integração política e consolidar seu protagonismo na cena
mundial, a Europa faz da integração um utensílio da exclusão.
Claro está que Bruxelas não pode evitar a deriva à direita de
certos Estados, mas tampouco necessita servir à
regionalização da xenofobia.
55 Por outro lado, a diretiva complica ainda mais as já difíceis
negociações inter-regionais com o Mercado Comum do Sul,
Mercosul, cujos chefes de Estado se uniram para emitir um
veemente protesto na recente Cúpula de Tucumán (Argentina).
Com efeito, além da ilegalidade, aqui há ingratidão. Os
60 fluxos migratórios oriundos da Europa se espalharam por
todos os continentes. Mais do que ninguém, os europeus
sabem que não há emigração em massa sem fortes
motivações, essencialmente de natureza socioeconômica.
Ora, as mazelas da imigração só podem ser resolvidas
65 com a integração dos estrangeiros às sociedades, associada a
uma enfática cooperação internacional, a fim de extrair da
miséria e da desesperança a larga franja demográfica em que
nascerá o futuro ser humano a expulsar.
Estima-se que possam ser expulsos da Europa 8 milhões
70 de estrangeiros considerados em situação irregular, embora,
em sua ampla maioria, não tenham praticado nenhum crime,
trabalhem e recolham impostos.
Somando-se essa possibilidade à fresca barbárie do
governo republicano dos EUA, o mundo desenvolvido
75 desgasta aguda e paulatinamente sua autoridade moral para
cobrar valores humanistas de outros governos.
Paradoxos da globalização: jamais a humanidade dispôs
de tantas facilidades para se mover, mas nunca antes ela foi
tão fortemente cerceada em sua liberdade.
80 A Europa crava tristes trópicos em si mesma. Estamos,
ainda, distantes do fim do território nacional e do Estado como
inospitaleiras construções do homem contra si mesmo. Razão
a mais para acreditar que cabe ao Sul, e particularmente ao
plural Brasil, a invenção de novos modelos, talvez menos
85 opulentos, mas seguramente mais solidários, de convívio
respeitoso entre os homens.
(Ricardo Seitenfus e Deisy Ventura. Folha de São Paulo,
24 de julho de 2008)
(FGV) Para compor suas ideias no texto , os autores só
não se valeram de:
(A) apresentação de elementos de base estatística.
(B) comparações.
(C) questionamentos.
(D) citações.
(E) argumentos referendados por órgãos de credibili-
dade.
A: incorreta. Os autores se valem da estatística na linha 69, como
base para ilustrar o alcance das normas editadas pelo Parlamento
Europeu; B: incorreta. Há exemplo de comparação nas linhas 45
a 49, quando os autores traçam um paralelo entre a “diretiva da
vergonha” e os fracassos da Constituição Europeia e do Tratado de
Lisboa; C: incorreta. Os questionamentos, como recurso de retóri-
ca, que demandam um raciocínio do leitor durante a leitura, foram
usados na introdução (linhas 1 a 6); D: incorreta. Entre as linhas
25 e 40, os autores citam diversas passagens da diretiva, com o
92 Henrique Subi
intuito de, mais uma vez, ilustrar as razões de sua indignação; E:
correta. Com efeito, argumentos referendados por órgãos de credi-
bilidade, também conhecidos como “argumentos de autoridade”,
manifestados por pessoas ou entidades de renome sobre o tema,
não aparecem no texto.
Gabarito “E”
(FGV) A respeito do texto, analise as afirmativas a
seguir:
I. O texto aponta uma contradição entre a ideia de
“união” da Europa e sua real política de exclusão.
II. O texto representa um desabafo em tom emotivo
por parte dos autores.
III. O texto aponta para uma inferência dos Estados
europeus como não solidários.
Assinale:
(A) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.
(B) se todas as afirmativas estiverem corretas.
(C) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
(D) se somente as afirmativas I e III estiverem corretas.
(E) se nenhuma afirmativa estiver correta.
I: correta. O principal fundamento usado pelos autores é a aparente
contradição nas decisões tomadas pela União Europeia, pioneira na
integração regional de diferentes países e redução de barreiras fron-
teiriças, mas pródiga na criação de normas que afastam a entrada de
estrangeiros nos países do bloco; II: incorreta. O texto nada tem de
emotivo. Os autores lançam mão de argumentos históricos, estatís-
ticos e políticos de índole marcadamente objetiva para basear suas
opiniões; III: correta, sendo possível extrair do texto a conclusão de
que os países da Europa não se mostram solidários ao recusar asilo
a estrangeiros em qualquer situação que não lhes pareça proveitosa
para o próprio Estado.
Gabarito “D”
Texto para as seis questões seguintes:
1 Quanto mais nos vemos no espelho, mais dificuldade
temos, como brasileiros, de achar um foco para
nossa imagem. Pelo menos, nossa imagem como povo.
(...)
5 Nossa identidade é assunto polêmico desde tempos
remotos. Quando o escritor Mário de Andrade deu
vida ao espevitado e contraditório personagem
Macunaíma, em 1928, nosso herói sem nenhum caráter
já andava desesperadamente à procura dela. Ele sabia
10 que havia algo de brasileiro no ar e foi buscar indícios
desses traços na riqueza da cultura popular. (...) No final
dos anos 80, o antropólogo Darcy Ribeiro continuava indagan-
do:
“E não seria esta alegria – além da mestiçagem
alvoroçada, da espantosa uniformidade cultural e do brutal
15 desgarramento classista – uma das características
distintivas dos brasileiros? Seria a compensação dialética
à que o povo se dá da vida azarosa, famélica e triste que
lhe impõem?”
Ninguém ainda respondeu a contento à questão.
20 O historiador Sérgio Buarque de Holanda, em
Raízes do
Brasil
(1936), foi buscar na origem portuguesa os traços
que fazem do brasileiro um brasileiro: o estilo cordial,
hospitaleiro, pacato e resignado, em um povo que herdou
a bagunça lusa. Mas será que todo brasileiro vê essa
25 imagem no espelho? Ser apenas o povo do futebol, do
samba e das mais belas mulheres do mundo basta?
Aliás, será que somos isso mesmo? (...)
SCAVONE, Míriam. In: Porto Seguro Brasil.
Conteúdo fornecido e produzido
pela Editora Abril S.A. (SP).
(CESGRANRIO) A respeito da temática do Texto, é cor-
reto afirmar que se trata da:
(A) alienação do brasileiro quanto à busca de sua
identidade.
(B) perseverança do povo para construir sua identidade.
(C) tentativa de se caracterizar a identidade do povo
brasileiro.
(D) caracterização do brasileiro segundo teorias es-
trangeiras.
(E) oposição entre duas teorias sobre a identidade do
brasileiro.
O texto busca, através das opiniões de autores consagrados, de-
monstrar a dificuldade de se definir as características determinantes
do povo brasileiro.
Gabarito “C”
(CESGRANRIO) O período “Quanto mais nos vemos
no espelho, mais dificuldade temos, como brasilei-
ros, de achar um foco para nossa imagem.’(l.1-3),
no Texto acima, caracteriza-se pela ideia de:
(A) distanciamento.
(B) comparação.
(C) concessão.
(D) temporalidade.
(E) proporcionalidade.
O período transmite a ideia de proporcionalidade por conta da pre-
sença dos advérbios “quanto mais” e “mais”, que estabelecem uma
relação direta do número de vezes em que nos vemos no espelho
com a crescente dificuldade de achar um foco para a imagem.
Gabarito “E”
(CESGRANRIO) Para Sérgio Buarque de Holanda, o
que faz do brasileiro um brasileiro é a(o):
(A) tendência acolhedora, pacífica e afável.
(B) repulsa à “bagunça lusa”.
(C) resignação diante do domínio lusitano.
(D) distanciamento das características dos coloniza-
dores.
(E) espanto diante de sua imagem no espelho.
A: correta. A expressão é sinônima àquela que, no texto, tem a fun-
ção de aposto da teoria de Sérgio Buarque de Hollanda: “o estilo
cordial, hospitaleiro, pacato e resignado”; B: incorreta. Sérgio Buar-
que de Hollanda afirma, segundo o texto, que herdamos a bagunça
lusa; C: incorreta. A resignação mencionada na linha 23 não se refe-
re à herança lusitana, mas sim ao modo de viver do povo brasileiro;
Manual Completo de Português para Concursos 93
D: incorreta, conforme comentário à alternativa “B”; E: incorreta. A
imagem no espelho é usada em sentido conotativo, figurado. É uma
metáfora sobre a identidade do povo brasileiro.
Gabarito “A
(CESGRANRIO) Na frase do texto “Aliás, será que so-
mos isso mesmo?” (l. 27), o termo destacado introduz
um(a):
(A) argumento que comprova a falta de identidade do
brasileiro.
(B) indagação que leva à reflexão sobre o tema abor-
dado.
(C) pergunta que levanta dúvidas sobre o papel do
historiador.
(D) pergunta feita por um repórter a Sérgio Buarque
de Holanda.
(E) justificativa para a opinião de Mário de Andrade.
Aliás” é palavra denotativa que exprime retificação, exercendo
função sintática semelhante a advérbio. Seu uso remete ao ques-
tionamento daquilo que acabou de ser dito: no caso do texto, que
somos “o povo do futebol, do samba e das mais belas mulheres do
mundo”. Ao questionar esse fato, a autora busca conduzir o leitor
para o próprio problema debatido, que é a dificuldade de se definir
as características determinantes do povo brasileiro.
Gabarito “B”
(CESGRANRIO) De acordo com o Texto, no final dos
anos 80, o antropólogo Darcy Ribeiro:
(A) afirmava que a alegria era uma característica mar-
cante do brasileiro.
(B) priorizava a influência da mestiçagem como ele-
mento definidor da identidade.
(C) demonstrava a recusa do povo em contrapor sua
alegria instintiva às dificuldades enfrentadas.
(D) refletia sobre as razões da alegria do brasileiro,
apesar dos fatores que oprimiam o povo.
(E) dissipava as dúvidas sobre quais seriam as carac-
terísticas de nossa identidade.
O antropólogo sugeria que a alegria, ao lado da “mestiçagem al-
voroçada”, da “espantosa uniformidade cultural” e do “brutal des-
garramento classista”, seria uma compensação, ou consolo, para a
“vida azarosa, famélica e triste”, ou seja, cheia de dificuldades (má
sorte, fome e tristeza).
Gabarito “D”
(CESGRANRIO) No Texto, o trecho atribuído a Darcy
Ribeiro (l. 11-18) se caracteriza por:
(A) ser inteiramente afirmativo.
(B) estruturar-se numa circunstância de lugar.
(C) apoiar-se no uso de adjetivos.
(D) basear-se numa gradação de verbos irregulares.
(E) optar pela ausência de conectivos.
A: incorreta. O trecho é majoritariamente composto por períodos
interrogativos; B: incorreta. O trecho apoia-se nas características
das pessoas, não se referindo a critérios geográficos; C: correta. Há,
realmente, grande número de adjetivos: “alvoroçada”, “espantosa”,
“brutal”, “classista”, “azarosa”, “famélica” e “triste”; D: incorreta.
Não foi usada a gradação verbal, figura de linguagem na qual as
palavras são usadas em ordem crescente em direção a um clímax;
E: incorreta. O autor não evitou o uso de conectivos, usando “e” e
“além” (linha 13).
Gabarito “C”
Texto para as duas questões seguintes.
A morte da porta-estandarte
1Que adianta ao negro ficar olhando para as bandas
do Mangue ou para os lados da Central?
Madureira é longe e a amada só pela madrugada
entrará na praça, à frente do seu cordão.
5O que o está torturando é a ideia de que a presença
dela deixará a todos de cabeça virada, e será a hora
culminante da noite.
Se o negro soubesse que luz sinistra estão destilando
seus olhos e deixando escapar como as primeiras
10 fumaças pelas frestas de uma casa onde o incêndio apenas
começou! ...
Todos percebem que ele está desassossegado,
que uma paixão o está queimando por dentro. Mas só
pelo olhar se pode ler na alma dele, porque, em tudo
15 mais, o preto se conserva misterioso, fechado em sua
própria pele, como numa caixa de ébano. (...)
Sua agonia vem da certeza de que é impossível
que alguém possa olhar para Rosinha sem se apaixonar.
E nem de longe admite que ela queira repartir o amor.(...)
20 No fundo da Praça, uma correria e começo de pânico.
Ouvem-se apitos. As portas de aço descem com
fragor. As canções das Escolas de Samba prosseguem
mais vivas, sinfonizando o espaço poeirento.
— Mataram uma moça! (...)
25 A mulata tinha uma rosa no pixaim da cabeça. Um
mascarado tirou a mantilha da companheira, dobrou-a, e
fez um travesseiro para a morta. Mas o policial disse que
não tocassem nela. Os olhos não estavam bem fechados.
Pediram silêncio, como se fosse possível impor silêncio
30 àquela Praça barulhenta. (...)
— Só se você visse, Bentinha, quanto mais a faca
enterrava, mais a mulher sorria ... Morrer assim nunca se
viu ...
O crime do negro abriu uma clareira silenciosa no
35 meio do povo. Ficaram todos estarrecidos de espanto
vendo Rosinha fechar os olhos. O preto ajoelhado bebia-lhe
mudamente o último sorriso, e inclinava a cabeça de
um lado para outro como se estivesse contemplando uma
criança. (...)
40 Ele dobra os joelhos para beijá-la. Os que não queriam
se comover foram-se retirando. O assassino já não
sabe bem onde está. Vai sendo levado agora para um
destino que lhe é indiferente. É ainda a voz da mesma
canção que lhe fala alguma coisa ao desespero:
94 Henrique Subi
45 Quem fez do meu coração seu barracão?
Foi ela ...
MACHADO, Aníbal M. In: Antologia
escolar de contos brasileiros. Herberto
Sales (Org.) Rio de Janeiro, Ed. Ouro, s/d.
(CESGRANRIO) Relativamente às características tex-
tuais, é correto afirmar que, no Texto acima, há uma:
(A) cobertura jornalística de um incidente no Carnaval.
(B) série de definições sobre o amor, exemplificadas
com uma história.
(C) narrativa da agonia de um amante que é trocado
por outro, no Carnaval.
(D) narrativa sobre amor e ciúme, com segmentos des-
critivos.
(E) descrição minuciosa de um assassinato, num baile
carnavalesco.
Trata-se de um texto narrativo que conta uma história sobre amor
e ciúme. O negro é apaixonado por Rosinha e, por conta de um
ciúme doentio, “tem certeza de que é impossível que alguém pos-
sa olhar para Rosinha e não se apaixonar”. Por isso, conclui que a
melhor solução é matar a moça, ainda que a ame muito. A narração
é permeada de trechos eminentemente descritivos, como nas linhas
08-11 e 14-16.
Gabarito “D”
(CESGRANRIO) O par opositivo que NÃO correspon-
de aos elementos constitutivos da descrição do estado
do personagem, no 5º parágrafo do Texto, é:
(A) corpo e alma.
(B) agonia e calma.
(C) paixão e entorpecimento.
(D) interior e exterior.
(E) pele e olhar.
A descrição do personagem contempla aspectos exteriores, como
pele, olhar, corpo, e interiores, como alma, paixão e entorpecimen-
to. A única coisa que não podemos extrair da descrição é que o
negro está “calmo”, diante de seu “desassossego”, com a paixão
“queimando” por dentro. Portanto, incorreta a alternativa “B”, que
deve ser assinalada.
Gabarito “B”
Texto para as duas questões seguintes.
Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar
5 Preste atenção querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a sua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és
Ouça-me bem, amor
10 Preste atenção o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões a pó
Preste atenção querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
15 Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés
Cartola
(CESGRANRIO) Assinale a opção que tem correspon-
dência de sentido com a frase “Mal começaste a conhe-
cer a vida” (v. 2), no Texto.
(A) Começaste há pouco a conhecer a vida.
(B) Não percebes o mal no mundo.
(C) Já estás farta de conhecer a vida.
(D) Começaste erradamente a conhecer a vida.
(E) Só conheces as maldades da vida.
O advérbio “mal”, no texto, não tem conotação negativa. É, na ver-
dade, um indicativo de tempo, com o sentido de “recentemente”,
“há pouco tempo”. Com isso, estão incorretas as letras B, C, D e E e
correta a alternativa A.
Gabarito “A
(CESGRANRIO) Da leitura do texto de Cartola, de-
preende-se:
I. o sentimento de rejeição que o poeta tem pela
juventude;
II. os obstáculos que os sonhadores podem encon-
trar;
III. o desalento de quem desistiu de lutar;
IV. o sinal de alerta para quem começa a viver;
V. a ternura que o autor dedica à destinatária da
canção.
É(São) correta(s) apenas a(s) afirmação(ões):
(A) I e II
(B) II, IV e V
(C) III
(D) III e IV
(E) III e V
I: incorreta. Ao contrário, o poeta preocupa-se com a juventude de
sua interlocutora e cuida de informá-la das dificuldades da vida; II:
correta. O texto descreve uma série de conflitos comuns no dia a
dia, os quais muitas vezes acabam por trazer tristezas e decepções;
III: incorreta. O poeta não desistiu de viver ou lutar pela felicidade.
Ele apenas busca, por meio de conselhos, tornar mais fácil a vida
de sua interlocutora; IV: correta. Este é, inclusive, o tema principal
passado pela mensagem do poeta; V: correta. O carinho que o poeta
sente por sua interlocutora é demonstrada pelo tratamento adotado
(“amor” e “querida”).
Gabarito “B”
Texto para as três questões seguintes.
(...) Nossa identidade surgiu com a chegada dos
portugueses. O País foi crescendo e se transformando,
Manual Completo de Português para Concursos 95
como uma pessoa. Hoje não é mais aquele de 400 anos
atrás, porque identidade é uma coisa dinâmica. O brasileiro
5se vê como um povo com pouca informação, baixa
autoestima, por isso acha graça de ser visto como meio
malandro, simpático. Essa autoestima anda mais em
baixa ainda, pois um povo que pouco ou nada faz para
transformar a atual situação (...) não demonstra apreço
10 por si próprio.(...) Essa coisa de futebol, mulata, samba,
caipirinha, Carnaval ainda está na nossa identidade, é o
nosso lado folclórico, mas a gente precisa sair dessa e
se ver também como um povo com cultura, educação,
tecnologia. Não somos mais tão folclóricos, mas nos
15 portamos como se o fôssemos. O fato é que a grande e
difusa identidade brasileira está multifacetada em
subidentidades: do norte, do centro, do sul. (...)
LUFT, Lya. In: Porto Seguro Brasil. Conteúdo fornecido e
produzido pela Editora Abril S.A. (SP). (adaptado).
(CESGRANRIO) No texto, acima quando a autora afir-
ma que a identidade brasileira está “multifacetada em
subidentidades”, a expressão em destaque refere-se à:
(A) densidade demográfica do país.
(B) ambiguidade do caráter do brasileiro.
(C) diversidade de aspectos culturais.
(D) fragmentação do sentimento nacional.
(E) reduzida diferenciação sociopolítica.
“Faceta” pode ser usada, em sentido conotativo, com o significado
de “aspecto”, “característica”. A autora quer destacar que o povo
brasileiro apresenta inúmeras manifestações culturais diferentes en-
tre si, por isso o prefixo “multi”.
Gabarito “C”
(CESGRANRIO) De acordo com o desenvolvimento
da temática, no Texto IV, é correto afirmar que Lya
Luft:
(A) incita os brasileiros a abandonarem uma visão li-
mitada de si mesmos.
(B) repousa a identidade do povo brasileiro apenas
nos portugueses.
(C) dissocia a falta de apreço por si próprio da atual
situação.
(D) coloca no cultivo do folclore a razão da baixa au-
toestima do brasileiro.
(E) condena a falta de cultura e de investimentos na
tecnologia.
A: correta. Este é o objetivo do texto: demonstrar que o povo bra-
sileiro se acomodou com a imagem do “país do futebol, do samba
e do Carnaval” e não se porta como um país cultural e tecno-
lógico; B: incorreta. A autora deixa claro que nossa identidade
não é a mesma da época da chegada dos portugueses, ainda que
tenha surgido com ela, por conta de sua dinâmica; C: incorreta.
A autora manifesta sua indignação com o fato da autoestima do
brasileiro estar cada vez mais em baixa; D: incorreta. O folclore
é uma das características marcantes do povo, mas não a razão de
sua baixa autoestima, que nasce da imagem que o brasileiro tem
de si mesmo como um povo com pouca informação; E: incorreta.
Ao contrário, a autora conclama os brasileiros a olhar a sua volta
e perceber que já somos um país rico em cultura e em tecnologia.
Gabarito “A
(CESGRANRIO) No Texto IV, para a autora, a identi-
dade de um povo é algo que:
(A) precisa de coerência e conservadorismo para ser
válida.
(B) necessita de uma colonização estrangeira para se
firmar.
(C) determina a sua baixa autoestima.
(D) muda de acordo com as circunstâncias pelas
quais passa.
(E) independe dos valores morais existentes na socie-
dade.
Dentre todas as conclusões apresentadas, a única que pode ser in-
ferida corretamente do texto é a alternativa “D”, sendo que a autora
chega a dizer, diretamente, que a “identidade é uma coisa dinâmi-
ca”, sendo a identidade atual do brasileiro diferente daquela de 400
anos atrás, nascida da chegada dos portugueses.
Gabarito “D”
Texto para as três questões seguintes.
Brinkmanship
1 Em 1964, o cineasta Stanley Kubrick lançava o filme Dr. Strange-
love. Nele, um oficial norte-americano ordena um
bombardeio nuclear à União Soviética e comete suicídio em
seguida, levando consigo o código para cancelar o bombardeio.
O presidente norte-americano busca o governo soviético na
esperança de convencê-lo de que o evento foi um acidente e,
por isso,
4 não deveria haver retaliação. É, então, informado de que os sovié-
ticos implementaram uma arma de fim do mundo (uma rede de
bombas nucleares subterrâneas), que funcionaria automatica-
mente quando o país fosse atacado ou quando alguém tentasse
desacioná-la. O Dr. Strangelove, estrategista do presidente, apon-
ta uma falha: se os soviéticos dispunham de tal arma, por que
7 a guardavam em segredo? Por que não contar ao mundo? A respos-
ta do inimigo: a máquina seria anunciada na reunião do partido
na segunda-feira seguinte.
Pode-se analisar a situação criada no filme sob a ótica da Teoria
dos Jogos: uma bomba nuclear é lançada pelo país
10 A ao país B. A política de B consiste em revidar qualquer ataque
com todo o seu arsenal, o qual pode destruir a vida no planeta,
caso o país seja atacado. O raciocínio que leva B a adotar tal
política é bastante simples: até o país mais fraco do mundo está
seguro se criar uma máquina de destruição do mundo, ou seja,
ao ter sua sobrevivência seriamente ameaçada, o país destrói o
13 mundo inteiro (ou, em seu modo menos drástico, apenas os in-
vasores). Ao elevar os custos para o país invasor, o detentor dessa
arma garante sua segurança. O problema é que de nada adianta
um país possuir tal arma em segredo. Seus inimigos devem saber
de sua existência e acreditar na sua disposição de usá-la. O po-
der da máquina do fim do mundo está mais na intimidação do que
16 em seu uso.
96 Henrique Subi
O conflito nuclear fornece um exemplo de uma das conclusões
mais surpreendentes a que se chega com a Teoria dos
Jogos. O economista Thomas Schelling percebeu que, apesar de
o sucesso geralmente ser atribuído a maior inteligência,
19 planejamento, racionalidade, entre outras características que retra-
tam o vencedor como superior ao vencido, o que ocorre, muitas
vezes, é justamente o oposto. Até mesmo o poder de um jogador,
considerado, no senso comum, como uma vantagem, pode atuar
contra seu detentor.
22 Schelling denominou brinkmanship (de brink, extremo) a estra-
tégia de deliberadamente levar uma situação às suas
consequências extremas.
Um exemplo usado por Schelling é o bem conhecido jogo do
frango, que consiste em dois indivíduos acelerarem seus
25 carros na direção um do outro em rota de colisão; o primeiro a
virar o volante e sair da pista é o perdedor.
Se ambos forem reto, os dois jogadores pagam o preço mais alto
com sua vida. No caso de os dois desviarem, o jogo
termina em empate. Se um desviar e o outro for reto, o primeiro
será o frango, e o segundo, o vencedor. Schelling propôs que um
28 participante desse jogo retire o volante de seu carro e o atire para
fora, fazendo questão de mostrá-lo a todas as pessoas presentes.
Ao outro jogador caberia a decisão de desistir ou causar uma ca-
tástrofe. Um jogador racional optaria pelo que lhe causasse menos
perdas, sempre perdendo o jogo.
Fabio Zugman. Teoria dos jogos.
Internet: <www.iced.org.br> (com adaptações).
(CESPE) Assinale a opção correta com relação às
ideias do texto e às palavras e expressões nele em-
pregadas.
(A) Se o trecho “não deveria haver retaliação” (l.4)
estivesse flexionado no plural, a forma verbal “de-
veria” teria de ser substituída por deveriam.
(B) O período “É então (...) desacioná-la” (l.4-6) es-
clarece que a informação dada ao presidente
norte-americano era falsa.
(C) Nas linhas 5 e 6, as orações introduzidas por
“quando” permitem uma leitura em que são inter-
pretadas como condição para que a “arma de fim
do mundo” (l.4) funcione automaticamente.
(D) No texto, não há como se identificar o sujeito da
oração “Por que não contar ao mundo?” (l.7).
(E) O complemento da palavra “inimigo” (l.7) está
subentendido, artifício que evidencia que o autor
do texto assumiu a perspectiva norte-americana
segunda a qual a União Soviética é inimiga.
A: incorreta. O verbo “dever”, no caso, é usado como auxiliar do
verbo “haver” que, por estar empregado no sentido de “existir”, é
impessoal e não deve ser flexionado. Consequentemente, o seu au-
xiliar também permanece como está; B: incorreta. O trecho relata a
forma de funcionamento da arma; C: correta. O pronome “quando”
foi utilizado no mesmo sentido de “se”; D: incorreta. O sujeito está
implícito e pode ser inferido do texto: os soviéticos; E: incorreta. O
autor do texto não assumiu qualquer posição. Ao relatar o filme de
Stanley Kubrick, ele o faz da mesma perspectiva que o personagem
principal, um estrategista americano.
Gabarito “C”
(CESPE) Com relação às ideias e às estruturas linguís-
ticas do texto, assinale a opção correta.
(A) No trecho “lançada pelo país A ao país B” (l.9-
10), a substituição de “ao” por “no” altera o signi-
ficado do texto, mas não a sua correção gramati-
cal.
(B) O trecho “adotar tal política” (l.11) tem, no texto,
o sentido de “destruir a vida no planeta” (l.10).
(C) Os “custos” a que o narrador se refere na linha
13 são os de se construir “uma arma de fim do
mundo” (l.4).
(D) No trecho “denominou brinkmanship (de brink,
extremo) a estratégia” (l.22), o “a” deveria levar a
marca gráfica de crase.
(E) A pontuação do texto permaneceria correta se, no
trecho “o primeiro a virar o volante e sair da pista
é o perdedor” (l.25), fosse inserida uma vírgula
logo após a palavra “pista”.
A: correta. O verbo lançar pode reger tanto a preposição “a”, indi-
cando o lançamento em determinada direção (ex.: “lancei o papel
ao lixo”), como a preposição “em”, hipótese em que indica um lan-
çamento sobre algo ou alguém (ex.: “lancei a bola nele”); B: incor-
reta. A “política” adotada é a de “revidar qualquer ataque com todo
seu arsenal”; C: incorreta, pois os “custos” são as perdas de vidas
humanas; D: incorreta. “Denominar” é verbo transitivo direto, cujo
complemento, portanto, não deve ser preposicionado. Se não há
preposição, não há crase; E: incorreta. A oração “O primeiro a virar
o volante e sair da pista” é sujeito da oração “é o perdedor” e não se
separa com vírgula o sujeito do verbo.
Gabarito “A
(CESPE) Com base no texto, assinale a opção correta.
(A) Infere-se da leitura do texto que os soviéticos esta-
vam a ponto de disparar a “arma de fim do mundo”.
(B) As expressões “o primeiro a virar o volante e sair
da pista perde” e “quem virar o volante e sair da
pista perde” estabeleceriam a mesma regra des-
crita no penúltimo parágrafo do texto para deter-
minar o resultado do jogo do frango.
(C) Conclui-se da leitura do texto que, em 1964, a
capacidade nuclear da União Soviética era menor
do que a norte-americana.
(D) De acordo com a teoria de Schelling, a situação
narrada no filme terminaria com a derrota sovié-
tica, se o governo daquele país se comportasse
como um ser racional.
(E) Segundo o texto, um oficial norte-americano pro-
pôs o emprego da estratégia denominada brink-
manship para desmoralizar politicamente o go-
verno da União Soviética.
A: incorreta. Não se pode inferir tal conclusão. O texto narra que os
soviéticos alegavam possuir uma “arma de fim do mundo”, mas que
sua existência chegava mesmo a ser questionada pelos americanos;
B: incorreta, porque a segunda expressão não estabelece uma ordem
para que o evento aconteça, possibilitando a interpretação de que
qualquer dos competidores que sair da pista perde, independente-
mente se o fez em primeiro ou segundo lugar; C: incorreta. Os soviéti-
cos tentavam, justamente, provar o contrário: que tinham poder nuclear
Manual Completo de Português para Concursos 97
suficiente para deflagrar o fim do mundo; D: correta. Uma vez deter-
minado o bombardeio americano e sem chances de abortá-lo (por
conta da morte do oficial), racionalmente caberia à União Soviética
não revidar, porque seu contra-ataque mataria todos, inclusive eles
mesmos; E: incorreta. Não houve essa proposição dentro do evento
hipotético narrado. A teoria do “brinkmanship” aparece como expli-
cação dos possíveis resultados dentro da situação-limite apresentada.
Gabarito “D”
Texto para as duas questões seguintes.
O jargão
1 Nenhuma figura é tão fascinante quanto o Falso
Entendido. É o cara que não sabe nada de nada, mas sabe
o jargão. E passa por autoridade no assunto. Um
4 refinamento ainda maior da espécie é o tipo que não sabe
nem o jargão. Mas inventa.
— Ó Matias, você, que entende de mercado de
7 capitais...
— Nem tanto, nem tanto...
(Uma das características do Falso Entendido é
10 a falsa modéstia.)
Você, no momento, aconselharia que tipo de
aplicação?
13 — Bom. Depende do yield pretendido, do
throwback e do ciclo refratário. Na faixa de papéis top
market — ou o que nós chamamos de topi-marque —, o
16 throwback recai sobre o repasse e não sobre o release,
entende?
— Francamente, não.
18 Aí o Falso Entendido sorri com tristeza e abre
os braços como quem diz: “É difícil conversar com
leigos...”.
21 Uma variação do Falso Entendido é o sujeito
que sempre parece saber mais do que ele pode dizer. A
conversa é sobre política, os boatos cruzam os ares, mas
24 ele mantém um discreto silêncio. Até que alguém pede a
sua opinião e ele pensa muito antes de se decidir a
responder:
27 — Há muito mais coisa por trás disso do que
vocês pensam...
Ou então, e esta é mortal:
30 — Não é tão simples assim...
Faz-se aquele silêncio que precede as grandes
revelações, mas o falso informado não diz nada. Fica
32 subentendido que ele está protegendo as suas fontes em
Brasília.
E há o Falso que interpreta. Para ele, tudo o que
35 acontece deve ser posto na perspectiva de vastas
transformações históricas que só ele está sacando.
— O avanço do socialismo na Europa ocorre
38 em proporção direta ao declínio no uso de gordura
animal nos países do Mercado Comum. Só não vê quem
não quer.
41 E, se alguém quer mais detalhes sobre a sua
insólita teoria, ele vê a pergunta como manifestação de
uma hostilidade bastante significativa a interpretações
44 não ortodoxas, e passa a interpretar os motivos de quem
o questiona, invocando a Igreja medieval, os grandes
hereges da história, e vocês sabiam que toda a Reforma
47 se explica a partir da prisão de ventre de Lutero?
Luis Fernando Verissimo. As mentiras que os homens
contam. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000 (com adaptações).
(CESPE) Com base no texto, julgue os itens a seguir.
I. A substituição de “nem” (l.5) por “sequer” não
altera essencialmente o significado do texto nem
prejudica a sua correção gramatical.
II. A oração “que entende de mercado de capitais...
(l.6-7) é uma oração restritiva e restringe a refe-
rência de “Matias” (l.6).
III. No texto, o sentido de “Francamente, não” (l.18)
é o mesmo de “Não entendo de maneira franca”.
IV. A expressão “ciclo refratário” (l.14) é um exemplo
de nonsense usado pelo “Falso Entendido”.
V. Pela leitura de “É difícil conversar com leigos”
(l.20-21), conclui-se que o “Falso Entendido” (l.9)
não se considera um leigo.
A quantidade de itens certos é igual a
(A) 1.
(B) 2.
(C) 3.
(D) 4.
(E) 5.
I: correta. Ambas as expressões são sinônimas; II: incorreta. Trata-se
de oração subordinada adjetiva explicativa, pois dá mais detalhes
em relação aos conhecimentos de Matias; III: incorreta. “Franca-
mente” pode ser substituído por “sendo franco”, “sendo honesto”.
“Não entendo de maneira franca” significa que a pessoa não co-
nhece abertamente o assunto, mas apenas parte dele; IV: correta.
“Nonsense” é estrangeirismo que significa “palavra ou raciocínio
sem sentido”; V: correta, exatamente por isso que ele é chamado
pelo autor de falso entendido.
Gabarito “C”
(CESPE) Com base no texto, julgue os itens abaixo.
I. Com base no período “Fica subentendido que ele
está protegendo as suas fontes em Brasília” (l.33-
35), conclui-se que o “falso informado” (l.33) em
questão foi instado a emitir uma opinião sobre a
política brasiliense.
II. Não há elementos no texto, para além daqueles
apresentados pelo “Falso que interpreta” (l.36),
que corroborem a ideia de que o socialismo avan-
ça na Europa.
III. Segundo o que defende o “Falso que interpreta”
(l.36), se o uso de gordura animal nos países do
Mercado Comum Europeu diminui, o socialismo
avança na Europa.
98 Henrique Subi
IV. A palavra “insólita” (l.44) tem o sentido de normal
ou comum.
V. A pergunta expressa nas linhas 48 e 49 pressu-
põe que o narrador do texto acredita que toda a
Reforma se explica a partir da prisão de ventre de
Lutero.
A quantidade de itens certos é igual a
(A) 1.
(B) 2.
(C) 3.
(D) 4.
(E) 5.
I: incorreta. A menção a Brasília é feita para indicar a elevada per-
cepção que os interlocutores têm sobre o alcance das informações
do Falso Entendido, não que a conversa se refira expressamente a
Brasília; II: correta. Salvo o absurdo argumento invocado, não há
qualquer outra indicação no texto sobre o avanço do socialismo;
III: correta. Se considerarmos que o argumento do Falso Entendido é
verdade, a alternativa expressa corretamente o seu sentido; IV: incor-
reta. “Insólita” significa “extraordinário”, “incrível”, “incomum”; V:
incorreta. A pergunta é lançada para causar surpresa ao leitor, dan-
do ares humorísticos ao texto, porque o autor passa a se comportar
como um falso entendido após criticar a conduta deste.
Gabarito “B”
Texto para as três questões seguintes.
1O poema nasce do espanto, e o espanto decorre
do incompreensível. Vou contar uma história: um dia,
estava vendo televisão e o telefone tocou. Mal me ergui
4para atendê-lo, o fêmur de uma das minhas pernas roçou
o osso da bacia. Algo do tipo já acontecera antes? Com
certeza. Entretanto, naquela ocasião, o atrito dos ossos
7me espantou. Uma ocorrência explicável, de súbito,
ganhou contornos inexplicáveis. Quer dizer que sou
osso? — refleti, surpreso. Eu sou osso? Osso pergunta?
10 A parte que em mim pergunta é igualmente osso? Na
tentativa de elucidar os questionamentos despertados
pelo espanto, eclode um poema. Entende agora por que
13 demoro 10, 12 anos para lançar um novo livro de poesia?
Porque preciso do espanto. Não determino o instante de
escrever: hoje vou sentar e redigir um poema. A poesia
16 está além de minha vontade. Por isso, quando me
indagam se sou Ferreira Gullar, respondo: às vezes.
Ferreira Gullar. Bravo, mar./2009 (com adaptações).
(CESPE) Assinale a opção correta a respeito do texto.
(A) Pelo desenvolvimento do texto, depreende-se
que, segundo Ferreira Gullar, o poema tem ori-
gem no desconhecido.
(B) Infere-se do texto que um atrito de ossos como
o descrito nas linhas de 3 a 7 já havia causado
espanto a Ferreira Gullar antes.
(C) Infere-se do texto que, para Ferreira Gullar, aquilo
que, usualmente, é denominado espiritual se re-
duz ao plano material.
(D) Segundo o texto, Ferreira Gullar só experimenta o
espanto poético a cada 10 ou 12 anos.
(E) Está explícito no texto que Ferreira Gullar é um
nome fictício.
A: correta. É exatamente a mensagem passada por Ferreira Gullar ao
relatar sua experiência poética; B: incorreta. Ao contrário, o próprio
autor comenta que tal situação é corriqueira, mas naquele momento
especial causou-lhe espanto; C: incorreta. Ferreira Gullar não ex-
plica a experiência poética através dos planos espiritual e material,
mas entre o corriqueiro e o espantoso, entre o explicável e o incom-
preensível; D: incorreta. A menção ao intervalo de tempo é feita
para justificar a demora de se ter tantos “espantos poéticos” para
compor um livro de poesias; E: incorreta. O texto não autoriza essa
interpretação. Ao dizer que é Ferreira Gullar somente às vezes, signi-
fica que expressa seu lado poético apenas quando o lirismo exsurge,
independentemente de sua vontade.
Gabarito “A
(CESPE) Com relação às estruturas linguísticas e às
ideias do texto, assinale a opção correta.
(A) No trecho “Mal me ergui para atendê-lo,” (l.3-4),
o autor informa que se ergueu incorretamente.
(B) Em “Uma ocorrência explicável, de súbito, ga-
nhou contornos inexplicáveis” (l.7-8), a expressão
“de súbito” modifica o adjetivo “explicável”.
(C) De acordo com o texto, são afirmativas as respos-
tas para todas as perguntas contidas em “Quer di-
zer que sou osso? (...). Eu sou osso? Osso pergun-
ta? A parte que em mim pergunta é igualmente
osso?” (l.8-10).
(D) Infere-se do texto que o episódio do atrito dos os-
sos (l.3-5) tornou-se deflagrador de um processo
poético.
(E) O trecho “Não determino o instante de escrever:
hoje vou sentar e redigir um poema” (l.14-15)
contradiz o argumento de Ferreira Gullar de que
a poesia está além de sua vontade (l.15-16).
A: incorreta. O advérbio “mal” não se refere ao verbo “erguer”, mas
traz a ideia de tempo, equivalente a: “havia acabado de me erguer
(...)”; B: incorreta. “De súbito” é locução adverbial de tempo, equi-
valente a “de repente”, não se ligando ao adjetivo “inexplicável”;
C: incorreta. As perguntas são ilações filosóficas que acabarão cul-
minando em um poema, não havendo respostas corretas para elas,
quer positivas, quer negativas; D: correta. A história é usada como
um exemplo da necessidade de Ferreira Gullar de passar por algo es-
pantoso ou inexplicável para escrever; E: incorreta. O trecho após os
dois-pontos tem função de aposto, explicando o que seria “o instante
de escrever”, que, segundo o autor, não acontece com ele.
Gabarito “D”
(CESPE) Assinale a opção que apresenta um título que
melhor resume o tópico desenvolvido no texto.
(A) Como extrair do cotidiano um episódio surpreen-
dente
(B) O óbvio nunca é óbvio
(C) O indivíduo são indivíduos
(D) Poesia não é inspiração
(E) A poesia surge do espanto
Manual Completo de Português para Concursos 99
O título deve relacionar-se com a ideia desenvolvida no texto. O úni-
co que o faz com perfeição é “A poesia surge do espanto”, fato que
Ferreira Gullar explica com exemplos e experiências vividas como
poeta. Os demais fogem a esse argumento principal, não se relacio-
nando com os tópicos abordados.
Gabarito “E”
1 É essencial que as autoridades revejam as providências
referentes ao tratamento e à custódia de todos os presos, a fim
de assegurar que os mesmos sejam tratados com humanidade
4 e em conformidade com a legislação brasileira e o conjunto de
princípios da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre
proteção de todo indivíduo sob qualquer forma de detenção ou
7 reclusão, as regras mínimas da ONU sobre o tratamento de
prisioneiros e o artigo 10 do Acordo Internacional sobre os
Direitos Civis e Políticos (ICCPR), que reza que todo
10 indivíduo privado de liberdade deve ser tratado com
humanidade e respeito pela dignidade inerente à pessoa
humana.
Anistia Internacional. Tortura e maus-tratos no Brasil,
2001, p. 72 (com adaptações).
(CESPE) Tendo o texto acima por referência e conside-
rando o tema por ele tratado, julgue os itens seguintes.
(1) A expressão “dignidade inerente à pessoa huma-
na” (L.11-12) pode ser interpretada como: qual-
quer pessoa, pelo simples fato de se tratar de um
ser humano, possui valor essencial e intrínseco
que exige e merece respeito.
(2) A lei brasileira, como a de quase todos os paí-
ses, não aplica o conceito de direitos humanos
a prisioneiros que tenham cometido crimes vio-
lentos.
(3) Na tentativa de reverter os crescentes níveis de
violência dos dias de hoje, o sistema peniten-
ciário brasileiro está sendo modernizado e já é
considerado modelo, uma vez que oferece altos
níveis de segurança e conforto para os detentos.
1: correta. “Dignidade” é sinônimo de “respeito”, “decência”. Logo,
a dignidade da pessoa decorre de sua natureza humana e, como
tal, merecedora de respeito pelos demais; 2: incorreta. O Brasil é
signatário de diversos tratados internacionais sobre direitos humanos
e nenhum deles, dada o absurdo sugerido, determina a exclusão de
qualquer pessoa, sob qualquer razão, de sua proteção; 3: incorreta.
Infelizmente, falta muito para que as unidades prisionais brasileiras
possam servir de modelo. O que vemos, na verdade, são locais in-
salubres, superlotados e sem qualquer segurança para os presos ou
para os servidores públicos e cidadãos que por eles transitam.
Gabarito 1C, 2E, 3E
1 Falar em direitos humanos no Brasil é falar de lutas
sociais que se desenrolam em uma sociedade que carrega
marcas históricas de desmandos, violências, arbitrariedades,
4 desigualdades e injustiças. Os resultados não poderiam ser
outros, senão o quadro de violações aos direitos humanos que
permeiam as relações sociais em praticamente toda a sociedade
7 brasileira e que atingem com maior brutalidade as populações
empobrecidas e socialmente excluídas.
O importante avanço institucional que conquistamos
10 com o fim do ciclo totalitário, a redemocratização do país e
a volta das instituições democráticas, não foi acompanhado
de correspondente avanço no que se refere aos direitos
13 econômicos, sociais e culturais. Perpetuam-se no Brasil os
modelos econômicos que aprofundam o escandaloso quadro de
concentração de renda e contrastes sociais. O agravamento da
16 situação de desesperança de nosso povo, atingido duramente
pela exclusão social, pela falência dos serviços públicos e pela
violência crescente, seja no campo seja nas grandes cidades,
19 exige da sociedade civil brasileira uma atuação consciente,
transformadora e efetiva.
Internet: <http://www.mndh.org/br/asp> (com adaptações).
(CESPE) Considerando o texto acima como referência
e tendo em vista o que ele aborda, julgue os itens que
se seguem.
(1) A Constituição de 1988, claramente identifi-
cada com a defesa dos direitos sociais e indi-
viduais, é exemplo significativo daquilo que o
texto chama de “importante avanço institucio-
nal que conquistamos com o fim do ciclo tota-
litário” (L.9-10).
(2) De acordo com o texto, as flagrantes desigual-
dades existentes no Brasil são recentes, frutos do
processo de urbanização e industrialização que o
país veio a conhecer no século XX.
(3) O Plano Real, embora tenha obtido importante vi-
tória sobre uma inflação descontrolada, não con-
seguiu promover o fim da concentração de renda
e dos elevados contrastes sociais.
1: correta. A Constituição de 1988, apelidada de “Constituição-cida-
dã”, é um marco importante na evolução dos direitos humanos no
Brasil, principalmente se considerarmos que ela representa a ruptura
com o sistema político anterior, pautado no totalitarismo e no desres-
peito sumário aos direitos humanos; 2: incorreta. O texto expõe que
o desrespeito aos direitos humanos no Brasil data do início de sua
história, toda ela marcada por “desmandos, violências, arbitrarie-
dades, desigualdades e injustiças”; 3: correta. A má distribuição de
renda ainda é uma mácula na crescente economia brasileira, situa-
ção que nem mesmo o Plano Real, bem sucedido em sua proposta
de conter a inflação, pôde resolver.
Gabarito 1C, 2E, 3C
1 A adoção, pela Assembleia Geral das Nações
Unidas, da Declaração Universal dos Direitos Humanos,
em 1948, constitui o principal marco no desenvolvimento
4 da ideia contemporânea de direitos humanos. Os direitos
inscritos nessa Declaração constituem um conjunto
indissociável e interdependente de direitos individuais e
7 coletivos, civis, políticos, econômicos, sociais e culturais,
100 Henrique Subi
sem os quais a dignidade da pessoa humana não se realiza
por completo. A Declaração transformou-se, nesta última
10 metade de século, em uma fonte de inspiração para a
elaboração de diversas cartas constitucionais e tratados
internacionais voltados à proteção dos direitos humanos.
13 Esse documento, chave do nosso tempo, tornou-se um
autêntico paradigma ético a partir do qual se pode medir
e contestar a legitimidade de regimes e governos.
16 Os direitos ali inscritos constituem hoje um dos mais
importantes instrumentos de nossa civilização, visando
assegurar um convívio social digno, justo e pacífico.
Internet: <http://www.direitoshumanos.usp.br/dhbrasil/pndh>
(com adaptações).
(CESPE) Com base no texto acima e considerando o
tema por ele focalizado, julgue os itens subsequentes.
(1) O termo “Esse documento” (L.13) refere-se a “tra-
tados internacionais” (L.11-12).
(2) A palavra “paradigma” (L.14) está sendo utilizada
com o sentido de conjunto dos termos substituí-
veis entre si em uma mesma posição dentro da
estrutura a que pertencem.
(3) Entre outros fatores, as atrocidades cometidas na
Segunda Guerra Mundial levaram governos e socie-
dades a se preocuparem com a adoção de princí-
pios considerados fundamentais à dignidade huma-
na, entre os quais os chamados direitos humanos.
(4) Com a chancela da ONU, os direitos humanos
foram incorporados pela legislação de todos os
países do mundo, cujos governos a eles foram
obrigados a se submeter.
1: incorreta. “Esse documento” refere-se a “A Declaração”; 2: in-
correta. “Paradigma”, no trecho, é utilizada no sentido de “padrão”,
“exemplo”; 3: correta. A Segunda Guerra Mundial foi um dos fatores
preponderantes para o avanço do reconhecimento dos direitos hu-
manos pelo mundo; 4: incorreta. Ainda há países que não respeitam
integralmente os direitos humanos consagrados na Declaração Uni-
versal dos Direitos Humanos. Isso porque o Direito Internacional
não tem poder de coagir os Estados a adotar, em suas legislações,
os princípios adotados nos tratados. Basta que um país não queira
assiná-lo que nenhum outro país, nem mesmo a ONU, possa suplan-
tar sua soberania e obrigá-lo a aplicar as diretrizes estabelecidas.
Gabarito 1E, 2E, 3C, 4E
Vovó cortesã
RIO DE JANEIRO – Parece uma queda travada pelos
dois braços de uma só pessoa. De um lado da mesa,
a Constituição, que garante a liberdade de expressão,
de imprensa e de acesso à informação. Do outro, o
Código Civil, que garante ao cidadão o direito à pri-
vacidade e o protege de agressões à sua honra e inti-
midade. Dito assim, parece perfeito – mas os copos e
garrafas afastados para os lados, abrindo espaço para
a luta, não param em cima da mesa.
A Constituição provê que os historiadores e biógrafos
se voltem para a história do país e reconstituam seu
passado ou presente em narrativas urdidas ao redor
de protagonistas e coadjuvantes. Já o Código Civil, em
seu artigo 20, faz com que não apenas o protagonista
tenha amparo na lei para se insurgir contra um livro
e exigir sua retirada do mercado, como estende essa
possibilidade a coadjuvantes de quarta grandeza ou a
seus herdeiros.
Significa que um livro sobre D. Pedro 1.º pode ser em-
bargado por algum contraparente da família real que
discorde de um possível tratamento menos nobre do
imperador. Ou que uma tetra-tetra-tetraneta de qual-
quer amante secundária de D. Pedro não goste de ver
sua remota avó sendo chamada de cortesã – mesmo
que, na época, isso fosse de domínio público –, e par-
ta para tentar proibir o livro.
Quando se comenta com estrangeiros sobre essa per-
manente ameaça às biografias no Brasil, a reação é:
“Sério? Que ridículo!”. E somos obrigados a ouvir.
Nos EUA e na Europa, se alguém se sente ofendido
por uma biografia, processa o autor se quiser, mas o
livro segue em frente, à espera de outro que o desmin-
ta. A liberdade de expressão é soberana.
É a que se propõe a Associação Nacional dos Editores
de Livros: arguir no Supremo Tribunal Federal a
inconstitucionalidade do artigo 20 do Código Civil.
(Folha de S. Paulo, 17.08.2012. Adaptado)
(VUNESP) As informações textuais mostram que, em
determinados contextos, os preceitos da Constituição
e os do Código Civil
(A) são deixados de lado, quando há o interesse em
preservar personalidades políticas.
(B) resguardam as biografias de contestações judi-
ciais para preservar o direito de imprensa.
(C) preservam o direito à liberdade de expressão para
os historiadores e os biógrafos.
(D) impedem que personalidades sejam destratadas
publicamente por seus atos pretéritos.
(E) entram em choque, opondo diferentes posiciona-
mentos, como no caso das biografias.
A ideia central do texto é transmitir o aparente conflito entre as nor-
mas da Constituição, que garantem a liberdade de expressãoo e o
direito à informação, e do Código Civil, que limitam essas garantias
por meio do direito à intimidade, honra e imagem das pessoas, situa-
ção que fica patente no caso das biografias.
Gabarito “E”
(VUNESP) O título, em harmonia e coerência com as
informações textuais, reporta à
(A) liberdade de expressão nos EUA e na Europa.
(B) falta de publicização da vida das figuras públicas
no Brasil.
(C) divulgação de fatos conhecidos, mas constrange-
dores.
Manual Completo de Português para Concursos 101
(D) arcaica liberdade de expressão prevista na Cons-
tituição.
(E) soberania da liberdade de expressão no mundo.
O título é uma defesa do direito dos historiadores e biógrafos de
divulgar fatos verídicos e conhecidos do público, ainda que sejam
constrangedores para as personagens históricas ou seus herdeiros.
Gabarito “C”
(VUNESP) Emprega-se a linguagem figurada na se-
guinte passagem do texto:
(A) ... o Código Civil, que garante ao cidadão o di-
reito à privacidade e o protege de agressões à sua
honra e intimidade.
(B) ... mas os copos e garrafas afastados para os lados,
abrindo espaço para a luta, não param em cima
da mesa.
(C) A Constituição provê que os historiadores e bió-
grafos se voltem para a história do país e reconsti-
tuam seu passado ou presente...
(D) ... a Constituição, que garante a liberdade de ex-
pressão, de imprensa e de acesso à informação.
(E) É a que se propõe a Associação Nacional dos
Editores de Livros: arguir no Supremo Tribunal
Federal a inconstitucionalidade do artigo 20 do
Código Civil.
Linguagem figurada, ou de sentido conotativo é aquela que se
vale de palavras normalmente usadas com um determinado sen-
tido, mas querendo dizer outra coisa. É o que se vê na metáfora
reproduzida na alternativa «B”, que deve ser assinalada. Não há
qualquer copo ou mesa de verdade na discussão: trata-se de uma
imagem, uma figura (por isso linguagem figurada), para representar
as consequências do conflito entre as normas legais. Dizer que «os
copos não param em cima da mesa” significa que, no Brasil, a
solução adotada é prejudicial à liberdade de expressão, porque ela
não consegue conviver (e «perde a luta”) com o direito à intimida-
de, à honra e à imagem das pessoas. As demais alternativas usam a
linguagem no sentido denotativo, ou seja, com o significado literal
das palavras.
Gabarito “B”
(VUNESP) A frase dos estrangeiros – “Sério? Que ridí-
culo!” – indica que eles
(A) discordam da proposta da Associação Nacional
dos Editores de Livros.
(B) discordam do artigo 20 do Código Civil.
(C) concordam com a garantia ao cidadão do direito
à privacidade.
(D) discordam das garantias constitucionais brasileiras.
(E) concordam com os embargos às publicações.
A frase está inserida no contexto da crítica do autor à prevalência do
art. 20 do Código Civil que permite a qualquer pessoa que se sentir
prejudicada com uma biografia ou publicação de retirá-la do mer-
cado, limitando a liberdade de expressão e o direito à informação.
Gabarito “B”
Madrugada
Duas horas da manhã. Às sete, devia estar no aeropor-
to. Foi quando me lembrei de que, na pressa daquela
manhã, ao sair do hotel, deixara no banheiro o meu
creme dental. Examinei a rua. Nenhuma farmácia
aberta. Dei meia volta, rumei por uma avenida qual-
quer, o passo mole e sem pressa, no silêncio da noite.
Alguma farmácia haveria de plantão... Rua deserta.
Dois ou três quarteirões mais além, um guarda. Ele
me daria indicação. Deu. Farmácia Metrópole, em rua
cujo nome não guardei.
– O senhor vai por aqui, quebra ali, segue em frente.
Dez ou doze quarteirões. A noite era minha. Lá fui.
Pouco além, dois tipos cambaleavam. Palavras vazias
no espaço cansado. Atravessei, cauteloso, para a cal-
çada fronteira. E já me esquecera dos companheiros
eventuais da noite sem importância, quando estreme-
ci, ao perceber, pelas pisadinhas leves, um cachorro
atrás de mim. Tenho velho horror a cães desconheci-
dos. Quase igual ao horror pelos cães conhecidos, ou
de conhecidos, cuja lambida fria, na intimidade que
lhes tenho sido obrigado a conceder, tantas vezes, me
provoca uma incontrolável repugnância.
Senti um frio no estômago. Confesso que me bam-
beou a perna. Que desejava de mim aquele cão ainda
não visto, evidentemente à minha procura? Os meus
bêbados haviam dobrado uma esquina. Estávamos na
rua apenas eu e aqueles passos cada vez mais pró-
ximos. Minha primeira reação foi apressar a marcha.
Mas desde criança me ensinaram que correr é pior.
Cachorro é como gente: cresce para quem se revela o
mais fraco. Dominei-me, portanto, só eu sei com que
medo. O bicho estava perto. Ia atacar-me a barriga da
perna? Passou-me pela cabeça o grave da situação.
Que seria de mim, atacado por um cão feroz numa
via deserta, em plena madrugada, na cidade estranha?
Como me arranjaria? Como reagiria? Como lutar con-
tra o monstro, sem pedra nem pau, duas coisas tão
úteis banidas pela vida urbana?
Nunca me senti tão pequeno. Eu estava só, na rua e no
mundo. Ou melhor, a rua e o mundo estavam cheios,
cheios daqueles passos cada vez mais vizinhos. Sim,
vinham chegando. Não fui atacado, porém. O animal
já estava ao meu lado, teque-teque, os passinhos sutis.
Bem... Era um desconhecido inofensivo. Nada queria
comigo. Era um cão notívago, alma boêmia como tan-
tos homens, cão sem teto que despertara numa soleira
de porta e sentira fome. Com certeza, saindo em bus-
ca de latas de lixo e comida ao relento.
Um doce alívio me tomou. Logo ele estaria dois, três,
dez, muitos passinhos miúdos e leves cada vez mais à
frente, cada vez mais longe... Não se prolongou, po-
rém, a repousante sensação.
O animal continuava a meu lado, acertando o passo
com o meu – teque-teque, nós dois sozinhos, cada
vez mais sós... Apressei a marcha.
Lá foi ele comigo. Diminuí. O bichinho também. Não
o olhara ainda. Sabia que ele estava a meu lado. Os
passos o diziam. O vulto. Pelo canto do olho senti que
102 Henrique Subi
ele não me olhava também, o focinho para a frente,
o caminhar tranquilo, muito suave, na calçada larga.
(Orígenes Lessa. Balbino, Homem do Mar.
Fragmento adaptado)
(VUNESP) O texto é uma narrativa em primeira pes-
soa na qual o narrador-personagem relata uma situa-
ção de
(A) comicidade, ao encontrar um cachorro realmente
perigoso, mas que por sorte não o atacou.
(B) saudosismo, ao pensar nos cachorros assemelha-
dos aos seres humanos.
(C) delírio, ao relembrar os perigos vividos ao ser ata-
cado por cachorros conhecidos e desconhecidos.
(D) temor, ao sair de madrugada pelas ruas e ser
acompanhado de um cachorro.
(E) pavor, ao deparar-se com um cachorro violento
que o persegue na madrugada.
A: incorreta. O texto não é cômico, não quer transmitir humor. Além
disso, o cão não era realmente perigoso; B: incorreta. O autor não
revela qualquer saudade do evento, que não lhe foi nada agradável;
C: incorreta. O autor nunca foi atacado por cães, apenas tinha medo
de sê-lo; D: correta. O texto relata o temor sentido pelo autor ao
ver-se acompanhado por um cachorro, espécie animal de que tinha
medo; E: incorreta. A personagem não foi perseguida por nenhum
cachorro violento.
Gabarito “D”
(VUNESP) O sentimento do narrador, ao pressentir a
companhia do cachorro, decorre de
(A) sua ojeriza em relação a esse tipo de animal.
(B) seu estado de leve embriaguez e cansaço.
(C) seu mau humor por causa do creme dental que
acabara.
(D) sua sensação de insegurança com a presença dos
bêbados.
(E) sua saudade dos tempos de infância e de juventude.
Especificamente em relação ao cachorro, a personagem sente oje-
riza, que é sinônimo de “nojo”, – “repugnância” que ele confessa
sentir pelos animais.
Gabarito “A
(VUNESP) No trecho – O bicho estava perto. Ia ata-
car-me a barriga da perna? Passou-me pela cabeça o
grave da situação. Que seria de mim, atacado por um
cão feroz numa via deserta, em plena madrugada, na
cidade estranha? Como me arranjaria? Como reagiria?
Como lutar contra o monstro, sem pedra nem pau,
duas coisas tão úteis banidas pela vida urbana? –, as
orações interrogativas indicam as
(A) evocações do passado do narrador.
(B) hipóteses levantadas pelo narrador.
(C) possibilidades de o narrador atacar o bicho.
(D) brincadeiras do narrador com a situação.
(E) sugestões dos transeuntes ao narrador.
Tomado pelo temor de ser atacado pelo cachorro, a personagem co-
meça a levantar hipótese, a prever os cenários possíveis para aquela
situação. Não se tratam de brincadeiras (apesar do notável exagero
em algumas hipóteses), porque o autor estava realmente com medo
do animal.
Gabarito “B”
Texto
Autobiografia desautorizada
1
Olá! Meu nome não é Fidalgo. Fidalgo é meu
sobrenome. O nome é Luiz Antonio Alves. Minhas
atividades como cidadão comum... não sei se isso interessa,
4
mas... vai lá: sou funcionário público. Trabalho
(e como trabalho) com análise de impressões digitais, ou
seja, sou um papiloscopista (nesse momento o computador
7
fez aquele serrilhadinho vermelho embaixo da palavra
“papiloscopista”). Tudo bem, a palavra ainda não consta no
dicionário interno do mané.
10
Bom, com base nas minhas atividades artísticas,
pode-se dizer que eu sou um poeta curitibano. Não fui eu
quem disse isso. Vejam bem, existe um livro intitulado
13
Antologia de Poetas Contemporâneos do Paraná,
II Concurso Helena Kolody. Pois eu estou nesse livro,
juntamente com três poemas que, por causa do tamanho
16
diminuto, lembram um
hai-kai
.
Pois é, fechada essa questão de eu já poder ser
tratado como um poeta curitibano, quero dizer que agora
19
estou estreando como contista, digo microcontista, uma vez
que se trata de um livro com miniestórias chamadas por mim
(talvez exageradamente) de microcontos.
Luiz Antonio A. Fidalgo. Autobiografia desautorizada.
Internet: <www.curitiba.pr.gov.br> (com adaptações).
(CESPE) Julgue os itens a seguir, referentes ao texto
acima.
(1) As expressões “Olá!” (l.1) e “Vejam bem” (l.12)
indicam que o autor está se dirigindo ao leitor.
(2) A palavra “Autobiografia”, no título do texto, indi-
ca que o autor está falando a respeito da vida de
uma terceira pessoa.
(3) A palavra “Fidalgo” (l.1) é formada a partir da
expressão filho de algo e costuma ser usada no
português como sinônima de nobre.
(4) O termo “mané” (l.9) faz referência aos cidadãos
comuns de que trata o texto.
(5) Em vez de “Não fui eu quem disse isso” (l.11-12),
estaria igualmente correto escrever “Não fui eu
aquele que disse isso.
(6) A partir da leitura do texto, é possível concluir
que um “hai-kai” (l.16) é um tipo de poema que
se caracteriza pelo tamanho pequeno.
(7) A palavra “microcontista” (l.19) também poderia
ter sido grafada corretamente com hífen (micro-
-contista).
Manual Completo de Português para Concursos 103
1: correta. Trata-se da função fática da linguagem; 2: incorreta. O
prefixo “auto” indica que o termo seguinte refere-se a própria pes-
soa, como em “autorretrato”; 3: correta; 4: incorreta. “Mané”, no tre-
cho, foi usado em tom pejorativo, com o sentido de “tolo”, “burro”;
5: correta. Na oração, “quem” tem valor de prenome demonstrativo,
sendo perfeitamente possível sua substituição por “aquele”; 6: corre-
ta. O autor compara seus poemas a um “hai-kai”, colocando como
semelhança o tamanho diminuto, pequeno; 7: incorreta. Quando
prefixo termina com vogal e o termo principal começa com con-
soante, não se admite o uso do hífen.
Gabarito 1C, 2E, 3C, 4E, 5C, 6C, 7E
Texto
Papiloscopista quer esclarecer profissão
1
O Sindicato dos Profissionais da Ciência da
Papiloscopia realiza amanhã palestras de conscientização
sobre o trabalho desses profissionais, que comemoram em
4
cinco de fevereiro o seu dia.
De acordo com a presidente do sindicato, Lucicleide
do Espírito Santo Moraes, apesar de desenvolver atividades
7
essenciais nas áreas civil e criminal, o papiloscopista não é
um profissional reconhecido pela população.
A maioria das pessoas não sabe, diz ela, que o
10
profissional da papiloscopia realiza desde a expedição da
carteira de identidade e atestado de antecedentes, até perícias
para a identificação da autoria de delitos e também dos
13
cadáveres que são levados ao Instituto Médico Legal. É o
papiloscopista que busca e pesquisa as impressões digitais
que são fundamentais para desvendar crimes. “A população
16
necessita diariamente desse serviço, mas em geral ela
desconhece o profissional que o realiza”, observa Lucicleide
Moraes.
Internet: <www.diariodecuiaba.com.br> (com adaptações).
(CESPE) Com referência aos aspectos semânticos e gra-
maticais do texto acima, julgue o item que se segue.
(1) Segundo o texto, o fato de a população desco-
nhecer o profissional que presta serviços de pa-
piloscopia justifica a realização de palestra de
conscientização.
1: correta, pois tal fato pode ser inferido do texto.
Gabarito 1C
Todo o lixo eletrônico produzido no Brasil será
inventariado para que as empresas firmem um pacto de
recolhimento e reciclagem. Acordo nesse sentido foi assinado
4 no dia 10 de maio, em São Paulo, pela ministra do Meio
Ambiente e pelo presidente do Compromisso Empresarial para
a Reciclagem (CEMPRE). “Saiu um relatório da Organização
7 das Nações Unidas (ONU) dizendo que o Brasil é o quarto ou
quinto país no mundo em número de lixo eletrônico, e nós
vamos fazer agora um inventário para saber qual é o
10 comportamento do nosso país diante do problema”, afirmou
a ministra.
De acordo com dados apresentados no documento do
13 Programa Nacional das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA), divulgado no começo deste ano, o mundo produz,
a cada ano, cerca de 40 milhões de toneladas de lixo eletrônico
16 a mais que no ano anterior, estando o Brasil entre os maiores
produtores. Segundo a ministra, a ideia é fazer um inventário,
dimensionar o tamanho do lixo eletroeletrônico brasileiro e
19 conhecer o destino que é dado atualmente a esse tipo de
material. Na opinião do presidente do CEMPRE, é importante
que a maioria das empresas do setor participe da elaboração do
22 inventário. “A previsão é de que possamos fazê-lo em quatro
meses, sob a coordenação do Ministério do Meio Ambiente”,
explicou.
25 Outra novidade é a inauguração de um sítio de
informações sobre o modo de descarte de aparelhos como
computadores, impressoras, telefones celulares, câmeras e até
28 geladeira. O consumidor poderá consultar, nos sítios do
CEMPRE e do Ministério do Meio Ambiente (MIMA), os
locais de coleta e de reciclagem dos materiais.
31 A ministra informou que o MIMA está estudando a
adoção de medidas de estímulo ao consumidor, como a redução
de impostos ou a distribuição de cupons de troca por outros
34 produtos. “Com isso a gente espera permitir uma mudança no
comportamento do consumidor para que ele passe a entender
o que significa comprar, às vezes de maneira desenfreada, sem
37 entender onde vai ficar o resultado dessa compra.
Atualmente, tramita no Senado Federal o projeto da
Política Nacional de Resíduos Sólidos. “Estamos nos
40 antecipando a uma lei que está sendo votada para assegurar que
o empreendedor ou aquele que gera um produto, que vai dar no
lixo, tenha a responsabilidade de recolhê-lo, dando a esse
43 43 produto a destinação adequada”, concluiu a ministra.
Internet: <www.ecodesenvolvimento.org.br>
(com adaptações).
(CESPE) Com relação às ideias expressas no texto, as-
sinale a opção correta.
(A) O documento a que se refere o texto fixou o dia
10 de maio de 2010 como a data de início da
catalogação de todo o lixo eletrônico produzido
no Brasil.
(B) A execução do inventário a que se refere o texto
possibilitará que se obtenha informação sobre o
montante de lixo eletrônico existente no Brasil e a
sua destinação.
(C) Conforme se depreende do texto, para que o in-
ventário referente à produção de lixo eletrônico
fique pronto em quatro meses, é necessária a ade-
são da maioria das empresas ao acordo firmado
entre o MMA e o CEMPRE.
(D) O incentivo à participação do consumidor na en-
trega de materiais eletrônicos para reciclagem faz
parte do acordo estabelecido entre o MIMA e o
CEMPRE.
104 Henrique Subi
(E) De acordo com o texto, o consumidor não se
importa com a destinação do produto eletrônico
encaminhado para reciclagem.
Dentre as alternativas, a única que pode ser corretamente depreen-
dida da leitura do texto é a letra “B”, cuja informação é retirada das
linhas 17 a 20 do texto.
Gabarito “B”
Questões como a necessidade de aprimorar a
eficiência no uso, no tratamento e na distribuição da água são
discutidas diariamente ao redor do mundo, porém o fato é que
4 um bilhão de pessoas não têm acesso à água potável segundo
dados oficiais da ONU. Atualmente, existe um movimento de
especialistas para que a cobrança sobre o uso da água aumente
7 como uma forma de arrecadar dinheiro para lidar com o
problema. Em Washington, por exemplo, há um plano de
dobrar o preço da água ao longo dos próximos cinco anos para
10 ajudar a cidade a restaurar os encanamentos, que já têm
76 anos de idade.
De acordo com a Organização para a Cooperação e
13 Desenvolvimento Econômico (OCDE), que acaba de publicar
três relatórios sobre a questão, colocar o preço certo na água
incentivará as pessoas a investir mais em infraestrutura e a
16 desperdiçar e poluir menos. Em muitos países, tarifas já são
aplicadas sobre o uso da água, tendo aumentado principalmente
em conjunto com os investimentos em sistemas de tratamento
19 de efluentes mais adequados ambientalmente. Os preços variam
bastante, de forma que uma banheira cheia pode custar dez
vezes mais na Dinamarca e na Escócia do que no México.
22 O desafio, segundo a OCDE, é equilibrar objetivos
financeiros, ambientais e sociais nas políticas de precificação
da água. Atualmente, a agricultura utiliza mais água do que
25 residências e indústrias juntas, cerca de 70% do consumo
global de água potável. Um dos relatórios demonstra que,
apesar de este uso ter diminuído em alguns países,
28 principalmente no leste europeu, outros países, como Grécia,
Coreia, Nova Zelândia e Turquia, registraram grandes
aumentos desde a década passada.
31 As projeções indicam que, em 2050, o consumo de
água direcionado à produção agrícola para alimentar a
crescente população mundial deve dobrar. Um dos relatórios
34 da OCDE sugere que os agricultores paguem não apenas os
custos operacionais e de manutenção da água, mas também
parte dos custos da infraestrutura. É citado o exemplo da
37 Austrália, que conseguiu cortar a água para irrigação
pela metade sem perdas na produção.
Outro relatório examina maneiras de atrair novos
40 recursos financeiros para fortalecer investimentos nos serviços
de água e saneamento. Por exemplo, o estado indiano de Tamil
Nadu melhorou o acesso ao mercado de pequenas usinas de
43 resíduos ao juntar os projetos de água e saneamento em pacotes
de investimento e combinar diferentes fontes de capital para
financiar os pacotes. Isto reduz o risco de inadimplência,
46 aumenta o volume financeiro e corta custos transacionais.
Outros mecanismos financeiros inovadores que têm
sido implantados com sucesso incluem a mescla de subvenções
49 e financiamentos reembolsáveis e microfinanciamentos.
Fernanda B. Muller. Cobrar mais pelo uso
pode ser a solução para a água. Internet:
<www.envolverde.org.br> (com adaptações).
(CESPE) Assinale a opção correta de acordo com as
ideias do texto.
(A) Especialistas estão mobilizados em todos os paí-
ses do mundo para que se aumente a cobrança
relativa ao uso da água.
(B) Infere-se da leitura do texto que, idealmente, o
preço cobrado pelo uso da água deveria ser o
mesmo em qualquer localidade do planeta.
(C) Para que objetivos financeiros, ambientais e so-
ciais estejam equilibrados, o consumo de água
nas atividades agrícolas deve ser menor do que
nas residências e nas indústrias.
(D) Como o consumo de água pelos agricultores deve
aumentar, deveria aumentar também o capital in-
vestido pelo setor agrícola nos gastos relativos a
esse aumento.
(E) De acordo com o relatório da OCDE, as medi-
das adotadas na Austrália e na Índia com relação
à água devem ser adotadas em diversos países,
dada a necessidade de uso racional desse recurso
natural.
Com exceção da alternativa “D”, todas as demais não representam
as ideias contidas do texto.
Gabarito “D”
NADA MUDOU
“Em outros declives semelhantes, vimos, com
prazer, progressivos indícios de desbravamento, isto é,
matas em fogo ou já destruídas, de cujas cinzas
começavam a brotar o milho, a mandioca e o feijão”.(...)
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“Pode-se prever que em breve haverá falta até de madeira
necessária para construções se, por meio de uma
sensata economia florestal, não se der fim à livre
utilização e devastação das matas desta zona”.
As ervas desse campo, para serem removidas e
10
fertilizar o solo com carbono e extirpar a multidão de in-
setos
nocivos, são queimadas anualmente pouco antes de
começar a estação chuvosa. Assistimos, com espanto, à
surpreendente visão da torrente de fogo ondulando po-
derosamente
sobre a planície sem fim.” “(…) Há a atividade
15
dos homens que esburacam o solo (…) para a extração
de metais. (...)” “Infelizmente (…), ávidos da carne do tatu
galinha, não ponderam sobre essas sábias disposições.
Perseguem-no com tanta violência, como se a espécie

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